Acessibilidade. Metro de Lisboa promete melhorias nas estações

Acessibilidade. Metro de Lisboa promete melhorias nas estações


A falta de elevadores e rampas nas estações de metro e comboio é um problema para as pessoas com mobilidade reduzida. Metro do Porto tem rede 100% acessível.


Imaginemos o seguinte cenário: Sara tem 18 anos e acabou de entrar na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Nasceu com uma deficiência motora e tem de se movimentar numa cadeira de rodas. De manhã apanhou o comboio até ao Cais do Sodré, desceu até à estação de metro de elevador e rumou à estação da Cidade Universitária. Ao chegar, entra em pânico: a estação não tem elevador nem rampas até à superfície. Com alguma vergonha, tem de contar com a ajuda de algum funcionário da estação ou de outros passageiros do metro, que pegam na sua cadeira de rodas e, com esforço, sobem os lanços de escadas. Este cenário não é de todo descabido: existem várias estações do metro de Lisboa que ainda não tem acessos para pessoas com dificuldades motoras. Mas o cenário deverá mudar em breve: o Metropolitano de Lisboa prepara-se para, até 2023, aumentar o número de estações com acessibilidade plena.

Atualmente, o metro da capital dispõe, em toda a sua rede, de 100 elevadores, 234 escadas mecânicas e dez tapetes rolantes. Das 56 estações, 36 têm acesso pleno para pessoas com mobilidade reduzida, “através de elevadores entre o átrio de bilheteiras e a superfície, e entre o átrio e cada um dos cais (estações com acessibilidade identificadas nos painéis informativos nas estações e no site do Metropolitano de Lisboa), bem como escadas mecânicas e/ou tapetes rolantes”, explicou ao i fonte oficial do Metro de Lisboa. Assim, entende-se que as estações com acessibilidade plena são “todas as que dispõem de elevador da superfície ao átrio – zona das bilheteiras – e do átrio ao cais”, acrescenta.

As restantes 20 são estações onde pessoas que se movimentam de cadeira de rodas, por exemplo, têm sérias dificuldades em utilizar. No entanto, o Metro de Lisboa compromete-se a reverter esta situação: está em curso o plano Acessibilidade e Segurança para Passageiros Idosos, Pessoas com Deficiência e Mobilidade Reduzida, que prevê, até 2023, a intervenção em várias estações, por forma a que, nesse ano, “o Metropolitano de Lisboa tenha 52 estações com acessibilidade plena”, garante a mesma fonte.

Para o próximo ano estão já previstas algumas melhorias: “No âmbito da melhoria das acessibilidades está prevista também a instalação de elevadores nas estações Colégio Militar, Cidade Universitária e Entrecampos, com prazo de conclusão previsto, no que respeita ao Colégio Militar, para o primeiro trimestre de 2020, e as restantes para final desse ano”, explica o Metro de Lisboa.

Outro dos focos será a estação do Areeiro, na Linha Verde. A empresa diz que esta estação será “alvo de obras de remodelação e de melhoria das acessibilidades, do conforto, da segurança e operabilidade, dotando-a de elevadores para acesso a pessoas de mobilidade condicionada, garantindo assim a prestação do serviço público de transporte nas condições de exploração e segurança. Prevê-se a conclusão dos trabalhos para o primeiro semestre de 2020”.

A estação do Rato é outro dos focos: “Em julho foi concluída a primeira fase de intervenção deste plano que incidiu no lanço de escadas que dá acesso à Rua do Salitre e Rua da Escola Politécnica. De momento estão em reparação as escadas que dão acesso à Rua das Amoreiras e Avenida Álvares Cabral, com data prevista de conclusão para muito breve. Também se encontra em curso o fabrico de um novo elevador para a substituição integral do equipamento que dá acesso à superfície da estação, com data de previsão de entrada em funcionamento até ao primeiro trimestre de 2020”, explica o Metro de Lisboa.

“O Metropolitano de Lisboa tem ainda em curso um conjunto de intervenções de manutenção profunda e programada em algumas escadas mecânicas, sendo disso exemplo a intervenção recente em quatro escadas na estação do Parque, prevendo-se a realização de intervenções idênticas nas estações das Olaias e dos Olivais, entre outras”, acrescenta a mesma fonte.

Os perigos nas linhas de comboio Ao regressar a casa, Sara tem de enfrentar novos desafios. Para evitar mais uma cena confrangedora no metro, apanhou o autocarro até ao Cais do Sodré e entrou no comboio da Linha de Cascais. Saiu no Monte Estoril, onde vive, e teve de atravessar a linha para rumar a casa. A ideia de ter de atravessar a linha do comboio não agrada a ninguém, muito menos a quem anda de cadeira de rodas. Além disso, depois de sair da estação, Sara tem de percorrer uma subida íngreme até à estrada principal. Para evitar estes problemas, costuma sair na estação anterior e segue pelo passeio até casa. Confrontada pelo i com a falta de acessos – seja rampas, elevadores, etc. – em algumas estações ferroviárias na Grande Lisboa e no Grande Porto, a CP – Comboios de Portugal explicou que esta não é uma questão da sua competência: “A gestão das infraestruturas ferroviárias, nomeadamente as estações de comboios, é do âmbito da Infraestruturas de Portugal”.

Apesar disso, a CP disponibiliza serviços de apoio a pessoas com deficiência, nomeadamente o serviço SIM – Serviço Integrado de Mobilidade. “Trata-se de um serviço orientado para apoiar as viagens de comboio dos clientes com dificuldades de mobilidade, temporária ou permanente”, explica fonte oficial da empresa.

Questionada pelo i sobre este assunto, a Infraestruturas de Portugal explicou que, “ao longo das últimas décadas”, este organismo “dotou e/ou adequou os edifícios ao nível das acessibilidades, nomeadamente as Estações Ferroviárias, em conformidade com a legislação vigente em cada momento, que tem sofrido diversas alterações”. No entanto, reconhece que ainda há muito trabalho por fazer: “Dadas as alterações legislativas existentes e tendo em conta o seu campo de ação em todo o país, e também por motivos orçamentais, torna-se impraticável uma imediata execução de todas as ações necessárias para essa adaptação”, explica fonte oficial, sem adiantar o número de estações ferroviárias que necessitam de intervenção nem a sua localização.

Estações amigas dos cães-guia e das pranchas de surf No Porto, Sara teria uma vida muito mais tranquila: a rede de metro da Invicta é 100% acessível a todas as pessoas. “Desde o primeiro dia em operação, ou seja, desde 2002, a não existência de barreiras físicas (comuns nos transportes públicos) foi uma prioridade totalmente assumida”, explica ao i fonte oficial do Metro do Porto.

Em todas as estações, a plataforma do veículo encontra-se ao mesmo nível do cais de embarque. O acesso ao nível subterrâneo – apenas 14 estações não são à superfície – pode ser feito através de elevadores. Além disso, todas as estações têm rampas de acesso ao cais e as bilheteiras automáticas “foram posicionadas a uma altura adequada, permitindo a sua utilização por pessoas que se desloquem em cadeiras de rodas”, explica o Metro do Porto.

“Para além de cadeiras de rodas e equiparados, o Metro do Porto permite a entrada nos seus veículos de bicicletas, pranchas de surf e bodyboard e outros equipamentos de lazer. Embora o transporte de animais de grande porte no Metro seja necessariamente proibido, excluem-se desta regra os cães-guia utilizados por cidadãos invisuais”, refere a mesma fonte.