EUA. O que dizem as sondagens

EUA. O que dizem as sondagens


Trump lidera a nível nacional e em quase todos os swing states . Biden com números baixos para um incumbente e é o que mais sofre com Kennedy.


Estamos a pouco menos de seis meses das eleições norte-americanas, que colocarão frente a frente, de novo, Joe Biden e Donald Trump. A única novidade em relação à corrida à Casa Branca de 2020 é a candidatura independente de Robert F. Kennedy Jr, que promete fazer estragos e poderá revelar-se decisiva.

A divisão no Partido Republicano é também uma evidência. Desde a ameaça de Marjorie Taylor Greene em depor o presidente da Câmara dos Representantes, Mike Johnson – que acabou por receber uma balão de oxigénio dos democratas –, até às mais recentes declarações do ex-candidato à presidência e agora senador, Mitt Romney, contra Donald Trump.

Serão seis meses em que certamente muita tinta vai correr, com os processos judiciais de Trump e já com debates marcados, mas existem algumas ilações importantes – principalmente no que concerne aos chamados swing states – que podem ser retiradas das mais recentes sondagens.

Trump líder, mas por pouco

Segundo a mais recente sondagem da Universidade de Emerson, o ex-Presidente Donald Trump lidera, ainda que por uma margem bastante curta, em todos os swing states. No Estado do Arizona, Trump vence por 4% (48%-44%) com 8% de indecisos. Na Geórgia está 47%-44% também a favor do republicano, com 9% ainda sem intenção de voto formada. Os Estados do Michigan e do Nevada são os que apresentam resultados mais renhidos, com 45% a favor de Trump e 44% para Biden, aqui com um valor de indecisos que chega aos 11%. Da Carolina do Norte vem o resultado mais expressivo, com Donald Trump a liderar por 5% (47%-42%), mas também existe um número de indecisos considerável (10%). Por fim, nos Estados da Pensilvânia e do Wisconsin os resultados são idênticos: 47% a favor de Trump, 45% para Biden e 8% de indecisos.

Mas a sondagem de Emerson – uma das mais completas – mostra algo que é extremamente importante e que pode passar desapercebido: os votos dos eleitores que não são membros de qualquer partido. «Os eleitores independentes preferem Trump a Biden no Arizona (48%-38%), no Michigan (44%-35%), no Nevada (43%-37%), na Pensilvânia (49%-33%) e na Carolina do Norte (41%-38%). Ainda assim, preferem Biden a Trump na Geórgia (42%-38%) e no Wisconsin (44%-41%)».

O impacto do processo judicial

O julgamento de Donald Trump – no caso de pagamento de dinheiro obscuro à atriz pornográfica Stormy Daniels – tem decorrido nos últimos dias em Nova Iorque e era esperado que tivesse um impacto significativo nas intenções de voto. Mitt Romney até chegou a declarar que não votará no candidato republicano por causa disso: «Quando um júri determina que alguém cometeu uma agressão sexual, não quero esse alguém que quero que os meus filhos e netos vejam como Presidente dos Estados Unidos».

Mas não é essa a realidade segundo os números de Emerson, que nos indicam que para a maioria dos inquiridos nos swing states que anteriormente foram mencionados, o facto de Trump ser considerado culpado não terá impacto no voto ou até poderá gerar mais apoio. Em todos os sete Estados em estudo, cerca de 40% revela que o veredicto do tribunal não impactará a intenção de voto, e sempre mais de 30% (com o máximo de 36% na Carolina do Norte) apoiará ainda mais Donald Trump.

Como disse Boyd Wagner, presidente da Euronews Polls Centre e ex-estratega de comunicação política nos Estados Unidos, ao Nascer do SOL, o mais importante da sondagem da Universidade de Emerson «foi terem testado as especificidades do impacto do julgamento de Trump em Nova Iorque (relacionado com o pagamento de dinheiro obscuro a Stormy Daniels) nos eleitores. A maior conclusão, que me apanhou mais desprevenido, foi que o julgamento ou os potenciais resultados desse julgamento teriam um impacto incrivelmente pequeno nos eleitores, especialmente quando se combina o ‘sem impacto’ e o ‘mais provável’ de votar em Trump por causa do julgamento. Isto indica que poucas pessoas consideram este julgamento específico como uma grande coisa – resta saber quando se pensa nos outros processos pendentes contra Trump».

O fator Kennedy

Na edição do Nascer do SOL de 25 de abril, foi referido, neste mesmo plano, que a candidatura de um terceiro interveniente – neste caso, o que mais peso representa é Robert F. Kennedy Jr. – poderia ser prejudicial tanto para Biden quanto para Trump, se bem que a ligação do nome Kennedy ao Partido Democrata é incontornável. A sondagem anteriormente referida demonstra que, em cinco swing states, o mais prejudicado é precisamente Joe Biden, que vê alguns dos seus votos fugir para uma terceira figura na Geórgia, no Nevada, na Carolina do Norte, na Pensilvânia e no Wisconsin. Nos Estados do Arizona e do Michigan, os votos dos dois candidatos principais são canalizados para terceiros de forma semelhante.

A sondagem realizada pelo The New York Times em conjunto com o The Philadelphia Inquirer e o Sienna College Poll foi mais específica e inclui mesmo o nome de Robert F. Kennedy Jr. na equação, sendo assim uma das poucas a fazê-lo. E, nos swing states, este terceiro candidato desequilibra os resultados para o lado de Donald Trump, à exceção do Wisconsin, em que tanto Trump quanto Biden ficam nos 38%.

Boyd Wagner disse ainda ao Nascer do SOL que «Entre os eleitores independentes cruciais, Kennedy chega aos 16% de apoio, sendo que metade dos seus apoiantes disseram que votavam principalmente nele e quase metade disse que o seu apoio era sobretudo um voto contra os outros candidatos».

O balanço

A nível nacional, Biden caiu para 33% quando se avalia a corrida tendo em conta cinco candidatos – uma percentagem muito baixa para um Presidente incumbente. E quando o duelo se restringe a Biden vs. Trump, o ex-presidente lidera com uma margem na ordem dos 6%.

Assim, podemos ver que Biden começa a definhar, e a culpa poderá ser atribuída ao estado da economia – em que as taxas de juro continuam no mesmo nível e exercem um peso considerável nas famílias, sendo que um cenário de recessão não se exclui, ainda que seja improvável –, à condução da política externa e à situação do controlo da fronteira com o México.

A corrida à Casa Branca está ainda claramente em aberto, e a gestão dos problemas supramencionados, juntamente com o desempenho nos debates, será o fator-chave que determinará quem vai tomar posse em janeiro de 2025.

goncalo.nabeiro@nascerdosol.pt