Raríssimas. A geringonça é a sorte do ministro


A história da Raríssimas está a mexer com meio país quando há outras bem mais graves, mas a vida é mesmo assim. 


A TVI tem todo o mérito de, num espaço de tempo muito curto, ter revelado duas belas investigações que obrigaram todos os outros a ir atrás.

Tiveram mais sorte do que Sandra Felgueiras, que na RTP tem feito belos trabalhos que muitos desvalorizam – ou porque a televisão estatal não promove tão bem as suas histórias ou porque os outros estão mais desatentos. Mas não é só com as reportagens televisivas que muitos – onde, obviamente, nos incluímos – demonstram desatenção.

O caso da Raríssimas é um caso grave, mas é até mais uma questão moral. Faz algum sentido que a mulher que criou a associação possa gastar o dinheiro que o Estado lá injeta em faustos jantares e nuns vestiditos numa loja das proximidades da Avenida da Liberdade? Não, não faz. Mas, desde que existe, o Estado deu à associação que ajuda famílias de doentes com patologias raras cinco milhões de euros. Ninguém tem dúvidas de que muito desse valor foi empregado em causas nobres.

E é aqui que queria chegar. Há câmaras que gastam verbas descomunais todos os anos com assessores políticos e ninguém se indigna. Há contratos ruinosos, envolvendo muitos milhões de euros, na contratação de meios aéreos para combater os fogos e quase todos passam ao lado.

Os americanos deixaram a base das Lajes contaminadas, provocando um número anormal de mortes causadas pelo cancro, havendo até um ministro que esconde um relatório, e poucos se manifestam. Isto já para não falar nas autoestradas que foram mandadas construir e veem carros duas vezes por dia, no escândalo do SIRESP ou nos famosos Kamov.

É claro que, se o BE e o PCP não fizessem parte da geringonça, certamente que algumas notícias seriam muito mais ampliadas e o ministro Vieira da Silva já teria apresentado a demissão, depois da incompetência que revelou no caso da Raríssimas. Mas a vida é mesmo assim.