A 17 de Dezembro de 1938, com o aval de Herman Göring, ministro do Ar do Reich, é iniciada a Missão Neuschwabenland (Nova Suábia), e zarpa do porto de Hamburgo o navio Schwabenland, um cargueiro da Marinha de Guerra alemã, com cerca de 150 metros de comprimento, capaz de catapultar aviões.
Comandado por Alfred Ritscher, capitão da Kriegsmarine (Marinha de Guerra), o navio tem uma guarnição de 57 homens – 24 tripulantes e 33 elementos da expedição – e transporta dois hidroaviões, o Passat e o Boreas. Destino: Antárctida. Objectivo: instalar uma estação baleeira em Princess Martha Coast, na costa de Queen Maud Land. Aí iriam desenvolver uma base para o aproveitamento da gordura de baleias, matéria-prima do sabão, da margarina e da glicerina (usada no fabrico da nitroglicerina com emprego intensivo em explosivos). Ao mesmo tempo, a Alemanha libertar-se-ia da forte dependência da Noruega, a que comprava cerca de 200 mil toneladas anuais deste produto. Faz sentido – ou haveria outro objectivo? Estaria a Alemanha a preparar-se para instalar uma base naval de apoio à frota de submarinos do Atlântico Sul? Durante oito semanas, os dois hidroaviões – que eram catapultados e depois recolhidos por uma grua – fizeram mais de 15 voos. Deles eram lançados cilindros de metal, alguns com a suástica, para delimitar um território reclamado pelo Terceiro Reich entre 19 de Janeiro de 1939 e 8 de Maio de 1945.
Durante esse período, em 1943, a Royal Navy (Marinha Real Britânica) começa a planear a Operação Tabarin, com a qual pretende instalar bases militares na Antárctida e reforçar a presença britânica no Sul do Atlântico. Nesse mesmo ano, a Inglaterra e a guarnição do HMS Carnarvon retiram a bandeira argentina de Deception Island, no arquipélago das Shetland do Sul.
A APARIÇÃO Dois anos depois, a 10 de Julho de 1945, e passados dois meses do fim da guerra, o submarino U-530, comandado pelo tenente Otto Wermuth, entra na base naval no Mar del Plata. Nele teriam viajado, entre outros, Adolf Hitler e Eva Braun para desembarcar em New Berchtesgaden, na Antárctida, na base instalada em 1938-39 pelo Schwabenland.
As dúvidas começam. Poderiam seguir a bordo desse submarino, e de outros, tesouros que os nazis quisessem esconder? Poderia um desses tesouros ser a célebre Sala de Ambar, conhecida como a oitava maravilha do mundo? Em 1941, após a invasão alemã da URSS, os soviéticos tentaram esconder esta relíquia forrando a sala com papel de parede. O truque não resultou. Sabe-se que em 1941 a Sala de Ambar foi levada do Palácio Catarina, perto de Sampetersburgo, e instalada no Castelo de Königsberg. A seguir à guerra, não voltou a ser vista. Qual terá sido o seu destino? Terá sido destruída durante os bombardeamentos ou estará, juntamente com outras obras de arte, escondida na Antárctida? O almirante Dönitz já tinha declarado, em 1943, que a flotilha submarina alemã tinha orgulho em ter construído para o Führer uma fortaleza inexpugnável noutra parte do mundo. A 16 de Julho, o jornal argentino “La Critica” dava a notícia de um voo que o teria transportado para Dronning Maud Land. E o “Toronto Daily Star”, a 18 de Julho, anunciava em manchete: “Hitler está no gelo da Antárctida”.
Um mês depois, nova aparição. A 17 de Agosto de 1945, outro submarino, o U-977, comandado por Heinz Schaeffer, aparece também no Mar del Plata. Ambos os comandantes, Wermuth e Schaeffer, e as suas tripulações são interrogados e posteriormente postos em liberdade. Seria o destino desses submarinos (U-530 e o U-977) a fortaleza de que falava o almirante Donitz? E terão tido dificuldades no percurso que os obrigassem a desviar a rota e a aportar à costa da Argentina? A partir daqui as perguntas multiplicam-se. Terão sido estes alguns dos motivos que desencadearam, a 26 de Agosto de 1946, 14 meses depois da rendição alemã aos Aliados, a maior expedição alguma vez feita à Antárctida? Ou seria apenas um exercício militar? Estaria ainda o governo dos EUA decidido a acabar com os rumores e, por via das dúvidas, quis verificar a existência de uma base de submarinos alemã, construída na Antárctida durante a Segunda Guerra? E teria ou não a indústria aeronaútica alemã desenvolvido ali sofisticadas aeronaves, sendo necessário destruí-las? Ou andariam os EUA à procura de uma base de óvnis na região?
Vamos aos factos conhecidos. Esta operação confidencial – autorizada pelo almirante Chester Nimitz e planeada pela Marinha dos EUA – recebeu o nome de Operação Highjump (OpHjp), Task Force 68. Tinha à frente o contra-almirante Richard E. Byrd Jr. (na reserva) e o contra-almirante Richard H. Cruzen, ambos da Marinha dos EUA. Era também conhecida por Task Force 68 e estava sub-dividida em cinco grupos. Os números impressionam: faziam parte da esquadra 4700 homens, 33 aeronaves, o porta-aviões e navio almirante U.S.S. Philippine Sea, o navio de comunicações e navio almirante USS Mount Olympus, dois destroyers, dois porta–hidroaviões, dois navios quebra-gelo, dois navios-tanque, dois navios de abastecimentos e o submarino U.S.S. Sennet.
De novo as interrogações. Iria o almirante Byrd Jr. em busca da entrada da Hollow Earth (Terra Oca) e investigar a existência de vida extraterrestre? Uma possível e estranha resposta era dada pelo jornal “El Mercurio”, da cidade de Santiago do Chile. A 5 de Março de 1947, sob o título “Em alto mar a bordo do Mount Olympus”, o jornal escrevia: “Em caso de nova guerra, os EUA serão atacados por objectos que conseguem voar de pólo a pólo a velocidades incríveis.” Nesse artigo, do correspondente de guerra americano Lee Van Atta, transcreve-se um sério aviso: “O almirante Byrd Jr. avisa hoje que os EUA têm de adoptar medidas de protecção contra uma possível invasão do país por aviões hostis vindos das regiões polares. Não é sua intenção assustar ninguém, mas a realidade numa nova guerra é que os EUA podem ser atacados por aeronaves vindas de um ou dos dois pólos.” Depois desta declaração, Byrd Jr. não voltou a falar em público sobre a OpHjp.
Em 2006 o assunto volta a ser referido, num documentário russo. É dito que a missão do explorador polar Byrd Jr., programada para durar seis meses, foi reduzida a apenas oito semanas e que a expedição terá sofrido fortes baixas. Os relatos são feitos a partir de entrevistas a duas testemunhas e a tripulantes da OpHjp.
Faz 68 anos na próxima terça-feira que começou a maior expedição de sempre à Antárctida. O que terá levado realmente os EUA a realizarem tamanha missão, 14 meses depois do final da 2.ª Guerra Mundial: seria um exercício militar ou a procura de uma base secreta de submarinos alemães? Ou ainda a procura de actividade extraterrestre?
John Szehwach, radiotelegrafista do Destroyer USS Brownson, conta o que viu a 17 de Janeiro de 1947: “Observámos da ponte, durante alguns minutos, luzes muito brilhantes que subiam verticalmente em direcção ao céu muito rapidamente e que não conseguimos identificar devido à limitação do nosso radar.” O tenente John Sayerson tem uma versão semelhante: “Aquilo saía verticalmente da água a uma velocidade tremenda. Voava entre os mastros do navio tão depressa que a turbulência que causava fazia andar para frente e para trás a antena de rádio. Um avião do porta-hidroaviões USS Currituck, que tinha descolado pouco antes, foi atingido por uma espécie de raio desconhecido disparado do objecto. Quase instantaneamente despenhou-se junto ao nosso navio.”
Nesse ano, em Julho, dá-se o incidente de Roswell, quando um objecto voador não identificado cai no Novo México. A polémica vive até hoje. Aquilo que para muitos foi uma confirmação de que a Terra é visitada por extraterrestres, para outros não passou da queda de um balão de meteorologia.
Em 1958, durante o Ano Internacional da Geofísica (IGY), os EUA realizaram a Operação Argus. Com esse pretexto foram feitas três detonações nucleares 1760 km a sul da Cidade do Cabo, nos dias 27 e 30 de Agosto e a 6 de Setembro. Todas elas a grandes altitudes – 160 km, 290 km e 750 km, respectivamente. Terão sido testes para estudar os efeitos de explosões atómicas fora da atmosfera? Ou teriam como propósito destruir uma base de óvnis e de vestígios da presença alienígena na Terra? É como dizem os espanhóis: “Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay.”
Ainda mais uma pergunta. Por detrás disto tudo, a Operação Highjump poderá ter tido também um outro propósito? Poderá ter sido um início de uma longa e “boa amizade” dos EUA com a URSS que perdura até aos dias de hoje? Uma outra guerra poderá ter dado os primeiros passos nas frias águas e no gelo da Antártida. E essa guerra chamou-se… Advinhe. Está quente, quente… Acertou. Guerra Fria.
Para terminar fica aqui uma pequena nota de rodapé. Citando Carl Sagan, no livro “Cosmos”, segundo a equação de Frank Drake, “1×109 é o número aproximado de planetas na Via Láctea onde uma civilização técnica (caracterizada pela radioastronomia) já existiu pelo menos uma vez. […] Se 1% dessas civilizações conseguirem sobreviver à adolescência tecnológica e assim ultrapassar este ponto crítico, atingindo a maturidade, teremos então 107. Neste caso, o número de civilizações existentes na Galáxia atingiria os milhões.”