O cérebro de Schlitzie Surtees era tão pequeno como o seu crânio minúsculo. Com a cabeça em forma de pinha, fotografavam-no sempre com destaque para a cara, que não escondia, bem pelo contrário, as suas dificuldades de raciocínio. O resto do corpo também teimou em manter-se pequeno: não foi além de um metro e 22. Era míope como uma toupeira e incapaz de tomar conta de si próprio. Junte-se a tudo isto uma confusão total na data e local de nascimento. Uns registos dão-no como vindo ao mundo no dia 10 de setembro de 1901, no Bronx. Outras fontes garantem que tal é impossível. Schlitzie, no diminutivo, vira a luz em Santa Fé, Novo México. Também pelo caminho há uma versão atribuindo-lhe o nome de nascença de Simon Metz.
Quando Tod Browning realizou e dirigiu o filme Freaks, em 1932, Schlitzie ficou famoso. Basicamente, o argumento é tão simplório como muitos dos atores convidados: uma trapezista junta-se a um grupo de figuras grotescas que viajam de terra em terra chocando as pessoas com o seu aspeto. Cleopatra, é esse o nome da nossa heroína, procura seduzir um anão cheio de dinheiro para beneficiar da sua herança. Pelo meio desfilam figuras horrendas, gente com os defeitos físicos mais absurdos. Um deles é Schlitzie, que pouco mais faz que babar-se para cima de um bibe, numa imagem horrenda de criança adulterada.
Schlitzie sofria da síndroma de Seckel, uma raríssima doença congénita à qual alguns médicos e estudiosos mais bem-dispostos resolveram dar o nome de nanismo-da-cabeça-de-pássaro por causa das deformações faciais e por via da preponderância do crescimento do nariz. Mal foi apanhado pela teia dos freak shows, tão do agrado dos americanos na altura, passou a ser apresentado como O Cabeça-de-Alfinete ou O Elo Perdido, referência ao ser nunca descoberto até hoje que deverá ser a última evolução entre o macaco e o homem.
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