Quando pensamos em música de intervenção ou politicamente consciente é normal que dezenas de nomes e referências comecem a surgir na nossa mente. As letras conscientes de Bob Dylan ou do nosso Zeca Afonso. A energia explosiva e agressiva dos Rage Against the Machine. O rap activista de Kendrick Lamar.
No entanto, há algo que diferencia os Godspeed You! Black Emperor (GY!BE), que o i teve oportunidade de assistir ao vivo no passado sábado, 9 de Novembro, no LAV – Lisboa ao Vivo, dos nomes anteriormente referidos. A banda formada em 1994, em Montreal, no Canadá, não faz recurso a palavras para expressar a sua mensagem e a sua revolta interior. Não utiliza, nem precisa.
A minimalista (mas barulhenta) orquestra, nesta noite, composta por dois bateristas, dois baixistas, dois guitarristas e uma violinista, interpreta composições que resultam de uma complexa mistura que incorpora os longos crescendos do post-rock (o grupo foi fundamental na afirmação e definição deste género musical), minimalistas sons drone (notas ou tons sustenidos durante um longo período de tento) e influencias de musica clássica. Este som serve como banda sonora para o manifesto anti capitalista e pacifista dos membros da banda.
As projecções durante os concertos são um dos principais veículos para a narrativa dos temas. Por exemplo, são exibidas imagens de prédios abandonados e degradados num ambiente urbano durante a interpretação da faixa Bosses Hang, do mais recente álbum dos GY!BY, Luciferian Towers, uma meditação sobre a alienação dos trabalhadores e de como estes estão ao serviço de patrões que continuam a enriquecer enquanto estes continuam a viver desfavorecidos.
Mas as imagens mais poderosas surgiriam durante BBF3 (repescada do EP Slow Riot for New Zero Kanada de 1999) onde se podiam ver imagens de violentos protestos motivados pela governação de Donald Trump. Sem ouvir as vozes dos membros deste colectivo uma única vez durante o concerto, as únicas palavras que ouvimos, e que surgem no tema anteriormente citado, provem de um sample onde ouvimos o vox pop de um cidadão a mostrar a sua revolta sobre o estado do seu país. Sem colocarem as suas palavras diretamente na música, é através da voz de um anónimo que conseguem fazem passar a sua mensagem e filosofia, mostrando a vida de um cidadão verdadeiramente afetado pelas burocracias do seu país natal.
No final do concerto, um a um, os músicos abandonam os seus instrumento, mas deixam os seus sons ecoarem pela sala durante largos minutos. O feedback distorcido preenche a sala enquanto os espetadores reflectem sobre o que acabaram de ver e ouvir. Ficamos com o ruído e com a sensação que depois desta experiência o próximo concerto que formos assistir dificilmente despertará este nivel de emoções.