Governo quer acabar  com precários no Superior já no próximo ano letivo

Governo quer acabar com precários no Superior já no próximo ano letivo


Manuel Heitor vai desenhar regras para acabar com a precariedade de 14 mil professores e bolseiros. Negociações com sindicatos até julho


O ministro da Ciência e Ensino Superior, Manuel Heitor, está a desenhar regras que vão permitir a entrada nos quadros de 14 mil professores e investigadores com vínculos precários. As regras deverão ficar definidas até julho, de forma a entrarem em vigor no próximo ano letivo.

Esta foi uma das garantias da reunião que decorreu ontem entre o ministro Manuel Heitor, o Sindicato Nacional de Ensino Superior (SNESup) e a Fenprof para discutir de que forma será corrigida a situação dos precários na Ciência e no Ensino Superior. De acordo com o levantamento realizado pelo governo, é nestas duas áreas que existem mais trabalhadores no Estado em situação precária.

Atualmente há 11.180 professores das universidades e politécnicos que estão a contratos a termo há vários anos, havendo casos denunciados pelos sindicatos de professores com contratos a termo há 15 anos sem que passem aos quadros das instituições de ensino Superior. A estes somam-se 3.622 investigadores que recebem bolsas durante anos, sem nenhum vínculo às universidades ou laboratórios.

O ministro “manifestou a intenção de encontrar forma de pôr fim ao impedimento da transição de um contrato a termo para um vínculo por tempo indeterminado”, sustentou João Cunha Serra da Fenprof. “Há o reconhecimento muito explícito e concreto do governo em relação às situações abusivas de bolsa e professores convidados”, adiantou ontem ao i o presidente do SNESup, Gonçalo Velho. O sindicalista lembra que estas deviam ser “contratações pontuais” e não uma solução “para suprir necessidades permanentes das instituições”, remata.

Revisão dos diplomas em vigor

Os sindicatos vão agora reunir-se em breve com a Secretaria Geral do Ministério da Ciência e Ensino Superior onde já serão “discutidos e afinados os detalhes que farão parte da regulamentação” das contratações dos professores e bolseiros, explicou Gonçalo Velho. Será ainda necessária uma revisão e “articulação” com o decreto-lei do emprego científico – aprovado em julho pelo governo e que esté em discussão no parlamento –, através do qual Manuel Heitor pretende substituir progressivamente bolsas de pós-doutoramento por três mil contratos de trabalho, até 2020.

No entanto, aponta Gonçalo Velho, em 2016 “os reitores falharam” e o número de concursos “ficou claramente aquém do esperado na resolução das situações” de precariedade. “As universidades não fizeram o seu papel, não mudaram o seu registo, e abriram apenas algumas dezenas de lugares para centenas de candidatos”, salienta.

Será ainda necessária, apontam o SNESup e a Fenprof, a revisão do diploma que define um regime trasitório em que todos os professores dos quadros das instituições devem tirar um doutoramento dentro de cinco anos, sob pena de perdem o vínculo.

Toda a nova regulamentação e revisão dos diplomas em vigor deverá estar concluída até julho, prevêem os sindicatos, de forma a que em setembro os professores tenham novos vínculos.

Instituições impedidas de aumentar quadros

Ao contrário do que acontece entre os professores do básico e do secundário, os docentes do Superior não têm vínculo direto com a tutela. Os seus contratos, a termo ou sem termo, são firmados diretamente com a instituição onde estão a dar aulas. Também a colocação dos professores do Superior é diferente do que acontece no básico e secundário, onde os docentes dão colocados através de concurso nacional aberto e regulado pelo Ministério da Educação. No Superior, cabe a cada universidade ou politécnico decidir quando e de que forma são abertos os concursos públicos para que os docentes passem aos seus quadros.

Desde 2010 que as universidades e politécnicos têm vindo a sofrer cortes nas dotações orçamentais do Estado. Além disso, a Lei do Orçamento do Estado impede que as instituições aumentem a massa salarial “em relação ao maior valor anual dos últimos três anos”. Ou seja, as universidades e politécnicos têm estado impedidas, nos últimos anos, de aumentar o número de professores dos quadros.

Por isso, o recurso a bolseiros e professores com contratos precários, o aumento de convidados e cortes salariais entre os 30% e 50% têm sido as estratégias encontradas pelas universidades e politécnicos para renovarem o corpo docente, nos últimos anos. Uma realidade que o ministro Manuel Heitor quer, agora, inverter.