José Eduardo Agualusa. O escritor que não se esquece

José Eduardo Agualusa. O escritor que não se esquece


O escritor angolano está na lista final do Man Booker International Prize com o romance “Teoria Geral do Esquecimento”


Com os ventos da independência a tomarem conta de Angola, Ludo, uma portuguesa que se muda para Luanda para viver com a irmã, casada com um viúvo angolano, acaba sozinha, quando estes fogem para Portugal. Apavorada com os tais ventos de independência, Ludo acaba por se barricar no próprio apartamento durante quase 30 anos, alimentando-se de vegetais e pombos, e tendo como únicas companhias a rádio e as conversas que ouve dos vizinhos. Isto até conhecer Sabalu, um rapaz que decide trepar até ao seu terraço. E assim abrir-lhe o mundo.

O romance de José Eduardo Agualusa, “Teoria Geral do Esquecimento” (traduzido para o inglês por Daniel Hahn, sob o título “General Theory of Oblivion”), é um livro sobre o racismo e o medo, mas também sobre a esperança, apresentando, segundo a Fundação Booker Prize, que o nomeou como finalista do Man Booker International Prize “um retrato único de uma sociedade”.

Esta é uma obra que reflete o espírito contestatário de um escritor que vive em conflito com o país onde nasceu, Angola. Um desagrado que nunca silencia, como ainda recentemente ficou claro, a propósito das condenações aplicadas pelo Tribunal de Luanda aos 17 ativistas – entre os quais Luaty Beirão – e que incluem penas entre dois anos e três meses e oito anos e seis meses de prisão efetiva. Agualusa não teve problema em classificar esta decisão como um “erro” do MPLA e de José Eduardo dos Santos, que iria reativar a contestação interna. “Enquanto processo político, acho que é um erro estratégico enorme porque o regime está muito enfraquecido, a atravessar uma situação muito difícil, com problemas económicos e sociais gravíssimos e com acusações graves por parte de instituições importantes, como o caso recente da Igreja Católica”, disse, em março, acrescentando: “É uma sentença política, uma vez que o processo é político, muitíssimo rocambolesco, com muitas situações estranhas, que culminou com esta acusação final, de associação de malfeitores, que não era sequer uma acusação inicial”.

Natural da cidade do Huambo, em Angola, Agualusa tem vivido entre Lisboa,  Brasil e Luanda. Mas a sua obra nunca perdeu as suas origens angolanas. De certa forma, são essas origens que são celebradas neste “Teoria Geral do Esquecimento”, que agora concorre para o Man Booker International Prize e que, em 2013, venceu o prémio literário Fernando Namora.

Depois de, a 10 de março, terem sido anunciados os 13 finalistas deste prémio – resultantes de 155 candidaturas -, a Fundação Booker Prize apresentou agora a lista dos seis nomes que continuam na corrida para receberem um dos mais disputados prémios literários do mundo, que distingue com 50 mil libras o autor e o tradutor do melhor livro estrangeiro traduzido para inglês.

Agualusa, não só integra a lista, como é agora o único escritor lusófono na lista, depois do brasileiro Raduan Nassar ter ficado pelo caminho. Da lista final constam ainda Elena Ferrante (Itália), Han Kang (Coreia do Sul), do dissidente Yan Lianke (China), Orhan Pamuk (Turquia) e Robert Seethaler (Áustria).

Mais, esta é a primeira vez que um autor angolano está nomeado para o Man Booker International Prize. No entanto, no passado, o mesmo José Eduardo Agualusa venceu a distinção para melhor obra de ficção estrangeira independente por “O Vendedor de Passados”, que era entregue anualmente até ao ano passado, altura em que este prémio se uniu com o Man Booker International Prize. O anúncio do vencedor deste prémio será feito a 16 de maio.

raquel.carrilho@ionline.pt