Roteiro. A Lisboa que não está  à vista de todos

Roteiro. A Lisboa que não está à vista de todos


Uma muralha da Idade Média metida num centro comercial, uma antiga carpintaria dedicada à arte contemporânea, um restaurante de que não podemos revelar o nome. Custa a crer, mas a capital ainda pode reservar surpresas.Será possível que a capital portuguesa ainda reserve segredos aos seus habitantes? Entre recantos, episódios da história, jardins, topónimos, curiosidades e até uma…


Pátio do Carrasco Em frente ao antigo Largo do Limoeiro, em Alfama, chegou a viver temporariamente ‘O Negro’, há quase 200 anos. Que é como quem diz o último carrasco de Portugal. Chamava-se Luís António Alves dos Santos. Reza a história que Luís atravessava um túnel subterrâneo para ir até à prisão do Limoeiro, ali bem perto, e que ainda hoje essa passagem é assombrada pelos gritos das pessoas que o carrasco executava. Mas há quem diga que os gritos eram do próprio Luís e que nunca chegou a executar ninguém…

Uma pirâmide no Cemitério dos Prazeres Tem a forma de uma pirâmide inacabada, mas é o maior jazigo privado da Europa. O jazigo dos Duques de Palmela foi desenhado sob as orientações de Pedro de Holstein – primeiro duque de Palmela – e está situado no Cemitério dos Prazeres. Sabia que demorou três anos a ser construído, entre 1846 e 1849? Inicialmente, era um espaço reservado aos duques, mas a legislação fez com que fosse doado à Câmara Municipal de Lisboa.

O Azar dos Távoras O eixo entre Belém e a Ajuda é um lugar de má memória para a família Távora. Foi ali que começou a queda deste poderoso clã, com um atentado falhado ao Rei D. José. Os Távoras seriam implicados e executados em 1759 no Beco do Chão Salgado, onde ficava o seu palácio, que foi demolido. O pavimento ficou impregnado do seu sangue, sendo depois espalhada uma camada de sal para que nada mais nascesse ali. Acima, fica a Igreja da Memória, o templo que D. José mandou erguer para celebrar o facto de ter sobrevivido ao atentado. É lá que repousam os restos mortais do Marquês de Pombal. Fazendo um pequeno desvio em direção a Santos, no Museu Nacional de Arte Antiga pode testemunhar-se o poder e a opulência da família Távora, traduzidos na sumptuosa baixela de prata dos Duques de Aveiro, da autoria de François-Thomas Germain.

Real Barraca Consta que depois do terramoto de 1755, o Rei D. José terá ficado tão apavorado que nunca mais quis viver num palácio de pedra. Assim, mandou edificar no alto da Ajuda, uma zona que tinha passado incólume ao sismo, um enorme e luxuoso palácio de madeira. A Real Barraca, como ficou conhecida a construção, haveria de servir de residência à família real durante cerca de três décadas, acabando reduzida a cinzas por um incêndio em 1794. O único vestígio que sobrevive da sua presença é a Torre do Galo, que complementava uma capela também de madeira onde os soberanos assistiam à missa. Mais tarde, aproximadamente no local da Real Barraca, seria erguido o Palácio da Ajuda, um projeto que só agora, cerca de dois séculos depois, está a ser concluído.

Topónimos curiosos Portugal merecia um roteiro que fosse pela estranheza do ouvido, pelo descaro de certos topónimos, a maviosa forma de tossir imprecações, enxovalhos, grosserias que acabam por se tornar um tanto dengosas. E a capital teria destaque nesse guia, desde logo porque só nela se pode fazer esta indicação a alguém que venha de fora: Sais da Triste-Feia (Alcântara), passas pelas Escadinhas dos Terramotos (Campo de Ourique), fazes uma pausa no Jardim das Pichas Murchas (Castelo) e desces a Travessa do Fala Só (São Pedro de Alcântara) antes de chegares ao Beco do Surra (Alfama).

Um pedaço de Idade Média no centro comercial No Espaço Chiado – conhecido por acolher o restaurante Silk Club no seu terraço – pode ver vestígios das muralhas fernandinas, também conhecidas por cerca fernandina. Mandadas construir pelo Rei D. Fernando, entre 1373-75, nessa época, cercava a cidade de Lisboa, antes do terramoto de 1755. Com o sismo, as muralhas foram destruídas, sobrando apenas algumas ruínas espalhadas por algumas zonas da cidade.

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