Aguiar-Branco: nasceu uma estrela!


Voltámos a ter um presidente do Parlamento como deve ser.


Nota Prévia: A maioria das listas portuguesas ao Parlamento Europeu procurou perfis mediáticos. A grande novidade é Sebastião Bugalho, vedeta do comentariado nacional que sempre esteve mais perto da política do que do jornalismo. Jovem e inteligente, tem potencial, mas veremos se tem estofo de ganhador. É uma aposta de risco que Montenegro assumiu com rara coragem. Ao ir buscar Marta Temido, Pedro Nuno Santos (PNS) não pensou muito diferente de Montenegro. Temido é uma vedeta da política, apesar de ter sido uma ministra da Saúde medíocre. Chorou, comoveu-se e comoveu o povo. Foi salva do naufrágio das vacinas por um bravo Almirante, mas afundou-se umas milhas adiante. Temido dividia o PS em Lisboa, onde admitia concorrer contra Moedas. Acabou despachada para a Europa com Assis e Ana Catarina Mendes logo a seguir na lista. PNS foi valente. Varreu a tralha socrática e os resíduos costistas que lá andavam. Já o PCP brinda-nos com um clássico conhecido. João Oliveira, apesar de jovem, está completamente datado. Não gosta de modernices e tem saudades do Pacto de Varsóvia, que permitia que os camaradas soviéticos tivessem o seu espaço vital (nisso faz lembrar Sousa Tavares). No Bloco de Esquerda funcionou a porta giratória. Lá vai Catarina Martins com nova imagem para render Marisa Matias, que veio para o parlamento de cá. Catarina também é uma vedeta de TV. Tem assento na SIC e estudou para atriz. O Chega, esse, foi apanhado em contrapé. Ventura foi buscar o embaixador Tânger Correia, um desconhecido fora da diplomacia. Vai ser o caudilho a fazer-se à estrada, o que começa a cansar. O Livre fez um referendo. Ganhou um tal de Paupério, depois de alguma polémica. Não se sabe o que a criatura pensa. Mas como tem nome de umas bolachas deliciosas pode ser que convença o paladar político do eleitor. Sabia-se há muito que seria Cotrim de Figueiredo a representar os liberais. Abandonou a liderança porque estava cansado e sem vida própria. Pelos vistos, recuperou e segue para a cadeira de sonho. Tem boa imagem e é competente, com vida profissional de sucesso. O problema é que o partido dá sinais de cisão interna cada vez mais óbvios. As eleições europeias não são mobilizadoras. Geram abstenções fenomenais. O Governo está a montar uma gigantesca operação informática para facilitar o voto, a 9 de junho. É um esforço democrático. Esperemos que não esteja a ser feito por ajuste direto, a fim de evitar problemas adiante com o Ministério Público. Se a operação for bem-sucedida, pode-se votar por antecipação, em mobilidade (qualquer mesa) ou no sítio do costume. Quem se abstiver deixa outro decidir por si.

1. Aguiar-Branco sobressaiu positivamente nos últimos dias. Aconteceu por mérito próprio e porque outros não souberam estar à altura do que deles esperávamos e ao que nos tinham em geral habituado. Já o Presidente Marcelo semeou confusão com o despropositado tema das indemnizações coloniais (todos os povos hão de ter sido colonos ou colonizados num dado momento). O Governo foi obrigado a vir a público esclarecer que não está, nem nunca esteve em causa, um processo de reparação do passado colonial. Limitou os danos. Fez muito bem. Não se julga a História com os critérios de hoje. De resto, Portugal deixou muita coisa intacta nos países que criou. E atualmente apoia milhares dos seus naturais em múltiplos programas e setores, designadamente a saúde, sem contar com o acolhimento de imigrantes com facilidades especiais. O Presidente Marcelo fez ainda declarações políticas desastradas sobre António Costa e Montenegro. Tudo num único jantar de quatro horas com jornalistas estrangeiros. Teve a sua semana “horribilis”. Até o discurso dos 50 anos do movimento militar ficou aquém da qualidade habitual. Parece desgastado, passando da euforia à depressão. O corte com o filho por causa do caso das gémeas pesa muito. Também por isso, Aguiar-Branco destacou-se. Soube estar e soube falar. A sua intervenção foi reconhecida por todos como inteligente, oportuna e moderada. Lembrou que houve sangue e mortes no dia da queda do regime que não podem ser esquecidos e chamou os familiares ao Parlamento. Deu uma entrevista à Antena 1 em que defendeu a chamada da Procuradora-Geral da República ao parlamento porque há situações que causam alarme social e implicam explicações. Nestas linhas sempre se sublinhou que o Ministério Público não está isento de prestar contas à Democracia, sob pena do livre arbítrio andar à solta. Viu-se com a Operação Influencer, que fez cair um governo e provocou eleições que trouxeram instabilidade. E confirma-se quando o Ministério Público leva tempos ilimitados a investigar processos para depois os desencadear em inoportunos momentos políticos. Basta ver o caso Tutti Fruti, que acaba de levar à constituição de arguidos três deputados do PSD, logo após terem tomado posse. Isto, quando se sabia de alegados envolvimentos deles. Fez bem Aguiar-Branco em defender uma explicação por parte da Procuradora-Geral. O seu comportamento recente tem sido refrescante e sóbrio. Soube estar e soube representar o Parlamento e os portugueses. Desceu a Avenida da Liberdade como muitos milhares. Faz esquecer pela elegância o seu truculento antecessor, Augusto Santos Silva, que aparentemente não compareceu na cerimónia evocativa do 25 de Abril. Não fez lá falta nenhuma. Se Aguiar-Branco mantiver o registo, rapidamente aparecerá quem, na direita moderada, pense nele para o patamar superior ao que ocupa atualmente em São Bento, ou seja, Belém!

2. As considerações do Presidente Marcelo sobre António Costa e Luís Montenegro (não vale a pena reproduzi-las, tal foi a propagação) servem também para identificar a persistência de preconceitos sociais na sociedade portuguesa. O fenómeno tanto se manifesta na direita tradicional como numa certa esquerda caviar (também ela burguesa e urbana) que se exprime muito através da Revista do Expresso. Deviam todos ter consciência de que qualquer baronete inglês nos considera globalmente como um povo de rústicos. Não admira!

3. A manifestação evocativa do 25 Abril em Lisboa foi enorme. Pode ter sido a maior de sempre. Trouxe gente nova e diferente, mas fundamentalmente comprometida com uma esquerda mobilizada para combater o governo AD. Mesmo assim, foi mais livre, menos dirigida, mais aberta e menos sectária. A direita moderada também passou por lá, indo de um PS conservador aos liberais económicos. Algo mudou para melhor.

4. A propósito de Justiça, uma reflexão de leigo: muita gente se indigna com a possibilidade dos mais ricos meterem recursos sucessivos, que empatam os processos às vezes até prescreverem. O caso de José Sócrates é paradigmático. Fala-se atualmente na necessidade de dificultar essas práticas. Mas, talvez seja também oportuno e equitativo limitar os recursos que sistematicamente o Ministério Público vai apresentando sempre que perde. É uma prática apenas possível porque é suportada pelos contribuintes, sem que haja sempre explicação racional ou limites. Talvez não fosse má ideia os magistrados gerirem verbas e responder por elas.

5. Duas notas muito positivas para a RTP por trabalhos sobre o 25 de Abril. Um é o brilhante documentário de Jacinto Godinho e Carlos Oliveira Olhos da Revolução. Revela os autores, nomeadamente estrangeiros, de imagens inéditas da operarão militar e dos dias seguintes. Do melhor que se viu em muitos anos. E, claro, A Conspiração, uma série realizada pelo malogrado António Pedro Vasconcelos em que ele próprio explica a forma como os capitães foram evoluindo e crescendo, até formarem o movimento que depôs o regime. Dois trabalhos notáveis de Serviço Público que servirão de testemunho para o futuro.

6. Na Rádio Observador está de parabéns a dupla Rui Ramos/João Miguel Tavares, cujo E o resto é História chegou ao programa 250, tendo sido objeto de 7 milhões de “downloads”. Mesmo que se discorde de certas interpretações vale muito a pena ver ou ouvir. Aprende-se sempre.


Aguiar-Branco: nasceu uma estrela!


Voltámos a ter um presidente do Parlamento como deve ser.


Nota Prévia: A maioria das listas portuguesas ao Parlamento Europeu procurou perfis mediáticos. A grande novidade é Sebastião Bugalho, vedeta do comentariado nacional que sempre esteve mais perto da política do que do jornalismo. Jovem e inteligente, tem potencial, mas veremos se tem estofo de ganhador. É uma aposta de risco que Montenegro assumiu com rara coragem. Ao ir buscar Marta Temido, Pedro Nuno Santos (PNS) não pensou muito diferente de Montenegro. Temido é uma vedeta da política, apesar de ter sido uma ministra da Saúde medíocre. Chorou, comoveu-se e comoveu o povo. Foi salva do naufrágio das vacinas por um bravo Almirante, mas afundou-se umas milhas adiante. Temido dividia o PS em Lisboa, onde admitia concorrer contra Moedas. Acabou despachada para a Europa com Assis e Ana Catarina Mendes logo a seguir na lista. PNS foi valente. Varreu a tralha socrática e os resíduos costistas que lá andavam. Já o PCP brinda-nos com um clássico conhecido. João Oliveira, apesar de jovem, está completamente datado. Não gosta de modernices e tem saudades do Pacto de Varsóvia, que permitia que os camaradas soviéticos tivessem o seu espaço vital (nisso faz lembrar Sousa Tavares). No Bloco de Esquerda funcionou a porta giratória. Lá vai Catarina Martins com nova imagem para render Marisa Matias, que veio para o parlamento de cá. Catarina também é uma vedeta de TV. Tem assento na SIC e estudou para atriz. O Chega, esse, foi apanhado em contrapé. Ventura foi buscar o embaixador Tânger Correia, um desconhecido fora da diplomacia. Vai ser o caudilho a fazer-se à estrada, o que começa a cansar. O Livre fez um referendo. Ganhou um tal de Paupério, depois de alguma polémica. Não se sabe o que a criatura pensa. Mas como tem nome de umas bolachas deliciosas pode ser que convença o paladar político do eleitor. Sabia-se há muito que seria Cotrim de Figueiredo a representar os liberais. Abandonou a liderança porque estava cansado e sem vida própria. Pelos vistos, recuperou e segue para a cadeira de sonho. Tem boa imagem e é competente, com vida profissional de sucesso. O problema é que o partido dá sinais de cisão interna cada vez mais óbvios. As eleições europeias não são mobilizadoras. Geram abstenções fenomenais. O Governo está a montar uma gigantesca operação informática para facilitar o voto, a 9 de junho. É um esforço democrático. Esperemos que não esteja a ser feito por ajuste direto, a fim de evitar problemas adiante com o Ministério Público. Se a operação for bem-sucedida, pode-se votar por antecipação, em mobilidade (qualquer mesa) ou no sítio do costume. Quem se abstiver deixa outro decidir por si.

1. Aguiar-Branco sobressaiu positivamente nos últimos dias. Aconteceu por mérito próprio e porque outros não souberam estar à altura do que deles esperávamos e ao que nos tinham em geral habituado. Já o Presidente Marcelo semeou confusão com o despropositado tema das indemnizações coloniais (todos os povos hão de ter sido colonos ou colonizados num dado momento). O Governo foi obrigado a vir a público esclarecer que não está, nem nunca esteve em causa, um processo de reparação do passado colonial. Limitou os danos. Fez muito bem. Não se julga a História com os critérios de hoje. De resto, Portugal deixou muita coisa intacta nos países que criou. E atualmente apoia milhares dos seus naturais em múltiplos programas e setores, designadamente a saúde, sem contar com o acolhimento de imigrantes com facilidades especiais. O Presidente Marcelo fez ainda declarações políticas desastradas sobre António Costa e Montenegro. Tudo num único jantar de quatro horas com jornalistas estrangeiros. Teve a sua semana “horribilis”. Até o discurso dos 50 anos do movimento militar ficou aquém da qualidade habitual. Parece desgastado, passando da euforia à depressão. O corte com o filho por causa do caso das gémeas pesa muito. Também por isso, Aguiar-Branco destacou-se. Soube estar e soube falar. A sua intervenção foi reconhecida por todos como inteligente, oportuna e moderada. Lembrou que houve sangue e mortes no dia da queda do regime que não podem ser esquecidos e chamou os familiares ao Parlamento. Deu uma entrevista à Antena 1 em que defendeu a chamada da Procuradora-Geral da República ao parlamento porque há situações que causam alarme social e implicam explicações. Nestas linhas sempre se sublinhou que o Ministério Público não está isento de prestar contas à Democracia, sob pena do livre arbítrio andar à solta. Viu-se com a Operação Influencer, que fez cair um governo e provocou eleições que trouxeram instabilidade. E confirma-se quando o Ministério Público leva tempos ilimitados a investigar processos para depois os desencadear em inoportunos momentos políticos. Basta ver o caso Tutti Fruti, que acaba de levar à constituição de arguidos três deputados do PSD, logo após terem tomado posse. Isto, quando se sabia de alegados envolvimentos deles. Fez bem Aguiar-Branco em defender uma explicação por parte da Procuradora-Geral. O seu comportamento recente tem sido refrescante e sóbrio. Soube estar e soube representar o Parlamento e os portugueses. Desceu a Avenida da Liberdade como muitos milhares. Faz esquecer pela elegância o seu truculento antecessor, Augusto Santos Silva, que aparentemente não compareceu na cerimónia evocativa do 25 de Abril. Não fez lá falta nenhuma. Se Aguiar-Branco mantiver o registo, rapidamente aparecerá quem, na direita moderada, pense nele para o patamar superior ao que ocupa atualmente em São Bento, ou seja, Belém!

2. As considerações do Presidente Marcelo sobre António Costa e Luís Montenegro (não vale a pena reproduzi-las, tal foi a propagação) servem também para identificar a persistência de preconceitos sociais na sociedade portuguesa. O fenómeno tanto se manifesta na direita tradicional como numa certa esquerda caviar (também ela burguesa e urbana) que se exprime muito através da Revista do Expresso. Deviam todos ter consciência de que qualquer baronete inglês nos considera globalmente como um povo de rústicos. Não admira!

3. A manifestação evocativa do 25 Abril em Lisboa foi enorme. Pode ter sido a maior de sempre. Trouxe gente nova e diferente, mas fundamentalmente comprometida com uma esquerda mobilizada para combater o governo AD. Mesmo assim, foi mais livre, menos dirigida, mais aberta e menos sectária. A direita moderada também passou por lá, indo de um PS conservador aos liberais económicos. Algo mudou para melhor.

4. A propósito de Justiça, uma reflexão de leigo: muita gente se indigna com a possibilidade dos mais ricos meterem recursos sucessivos, que empatam os processos às vezes até prescreverem. O caso de José Sócrates é paradigmático. Fala-se atualmente na necessidade de dificultar essas práticas. Mas, talvez seja também oportuno e equitativo limitar os recursos que sistematicamente o Ministério Público vai apresentando sempre que perde. É uma prática apenas possível porque é suportada pelos contribuintes, sem que haja sempre explicação racional ou limites. Talvez não fosse má ideia os magistrados gerirem verbas e responder por elas.

5. Duas notas muito positivas para a RTP por trabalhos sobre o 25 de Abril. Um é o brilhante documentário de Jacinto Godinho e Carlos Oliveira Olhos da Revolução. Revela os autores, nomeadamente estrangeiros, de imagens inéditas da operarão militar e dos dias seguintes. Do melhor que se viu em muitos anos. E, claro, A Conspiração, uma série realizada pelo malogrado António Pedro Vasconcelos em que ele próprio explica a forma como os capitães foram evoluindo e crescendo, até formarem o movimento que depôs o regime. Dois trabalhos notáveis de Serviço Público que servirão de testemunho para o futuro.

6. Na Rádio Observador está de parabéns a dupla Rui Ramos/João Miguel Tavares, cujo E o resto é História chegou ao programa 250, tendo sido objeto de 7 milhões de “downloads”. Mesmo que se discorde de certas interpretações vale muito a pena ver ou ouvir. Aprende-se sempre.