Primeiro dia de escola


Para mim, e talvez, para a maioria das pessoas que trabalha no universo académico, o início do ano celebra-se duas vezes no mesmo ano. Em janeiro festejamos a realização com sucesso de mais uma volta em torno do sol, e em setembro o início de mais um ano letivo.


Por coincidência, ou por culpa do algoritmo, há uma música de B Fachada, incluída no seu álbum de 2010 intitulado ‘b fachada é pra meninos’, que tocou repetidamente durante o mês de agosto. Começa com ‘Primeiro dia de escola é sempre a mesma lição’ e acabou por me fazer pensar antes de tempo nos desejos e desafios para o ano letivo que se inicia nas próximas semanas.

Para mim, e talvez para a maioria das pessoas que trabalha no universo académico, o início do ano celebra-se duas vezes no mesmo ano. Em janeiro festejamos a realização com sucesso de mais uma volta em torno do sol, e em setembro o início de mais um ano letivo. O início do mês de setembro revela-se um período simultaneamente de expectativa, pela receção dos novos estudantes que iniciam o ensino superior, e de entusiasmo por rever as caras conhecidas dos alunos e alunas que acompanhamos de anos anteriores. Revisitamos e atualizamos programas curriculares e preparamos as aulas para as disciplinas a lecionar. Calendarizamos as tarefas de investigação a executar para os diferentes projetos de investigação que temos em mãos e avaliamos a evolução dos projetos de mestrado e doutoramento em curso para corrigir, ou propor, desvios ao plano inicial. Por fim, terá ainda de haver algum espaço para planear o desenvolvimento de novas propostas de projetos de investigação a submeter a concursos nacionais e internacionais durante este novo ano. Diria que muito do sucesso do ano letivo depende deste período de ‘pré-época’, que tem tanto de exigente como de multidimensional.

Como parte da expectativa há também uma lista de desafios, alguns dos quais se vão repetindo ao longo dos anos. Lecionar numa instituição de ensino superior como o Instituto Superior Técnico, que tem acesso a estudantes do ensino secundário com as médias de entrada no ensino superior mais elevadas do país, acarreta uma responsabilidade acrescida. É da nossa responsabilidade enquanto docentes não só garantir a aprendizagem dos conteúdos das diferentes disciplinas, mas também promover continuamente a curiosidade e a criatividade que estes estudantes trazem do ensino secundário durante todo o seu percurso académico. Acredito que para atingir esses objetivos seja fundamental promover um modelo de ensino focado no aluno através de técnicas de aprendizagem ativa, tirando partido do modelo de ensino e práticas pedagógicas em vigor na escola desde o ano letivo anterior. Retirar dos alunos o peso de obter sempre as melhores notas nos diferentes momentos de avaliação que ocorrem ao longo dos seus percursos académico e garantir que todos os estudantes têm oportunidades semelhantes independentemente das suas notas. O peso das notas não deve ser por isso uma pressão acrescida que limite o potencial de crescimento dos estudantes. O percurso académico de um aluno é muito mais que média final de curso, e os futuros líderes nacionais e internacionais nas diferentes áreas da engenharia serão aqueles com melhores qualidades técnicas, científicas e humanas. Um engenheiro de sucesso também é ele multidimensional.

Garantir a qualidade de formação dos estudantes requer ainda que as instituições de ensino superior tenham infraestruturas físicas (salas de aula, laboratórios, espaços de trabalho colaborativo) em quantidade e com as condições necessárias para o leccionamento das aulas, para os estudantes realizarem trabalhos de grupo e para estudar em conjunto se assim o desejarem. Que o corpo docente seja em número suficiente, para acompanhar todos os alunos, e motivado pelas condições de trabalho que encontram diariamente. Estes desafios, que estão menos relacionados com este período de preparação, repetem-se ano após ano devido ao subfinanciamento crónico das instituições públicas de ensino superior e da investigação produzida em Portugal com fundos nacionais. Por exemplo, o desenvolvimento de projetos de investigação em consórcio, com outras instituições nacionais e internacionais, é essencial para garantir simultaneamente que os programas lecionados estão atualizados, e compreendem descobertas científicas recentes e relevantes, e que os docentes têm possibilidades de oferecer projetos e teses nestes tópicos. Só desta forma podemos ambicionar que a cada novo ano, os nossos alunos e alunas façam parte ativa do futuro e que este ano, ao contrário do que se diz na canção de B Fachada, não seja para esquecer.

 

Professor do Instituto Superior Técnico

Primeiro dia de escola


Para mim, e talvez, para a maioria das pessoas que trabalha no universo académico, o início do ano celebra-se duas vezes no mesmo ano. Em janeiro festejamos a realização com sucesso de mais uma volta em torno do sol, e em setembro o início de mais um ano letivo.


Por coincidência, ou por culpa do algoritmo, há uma música de B Fachada, incluída no seu álbum de 2010 intitulado ‘b fachada é pra meninos’, que tocou repetidamente durante o mês de agosto. Começa com ‘Primeiro dia de escola é sempre a mesma lição’ e acabou por me fazer pensar antes de tempo nos desejos e desafios para o ano letivo que se inicia nas próximas semanas.

Para mim, e talvez para a maioria das pessoas que trabalha no universo académico, o início do ano celebra-se duas vezes no mesmo ano. Em janeiro festejamos a realização com sucesso de mais uma volta em torno do sol, e em setembro o início de mais um ano letivo. O início do mês de setembro revela-se um período simultaneamente de expectativa, pela receção dos novos estudantes que iniciam o ensino superior, e de entusiasmo por rever as caras conhecidas dos alunos e alunas que acompanhamos de anos anteriores. Revisitamos e atualizamos programas curriculares e preparamos as aulas para as disciplinas a lecionar. Calendarizamos as tarefas de investigação a executar para os diferentes projetos de investigação que temos em mãos e avaliamos a evolução dos projetos de mestrado e doutoramento em curso para corrigir, ou propor, desvios ao plano inicial. Por fim, terá ainda de haver algum espaço para planear o desenvolvimento de novas propostas de projetos de investigação a submeter a concursos nacionais e internacionais durante este novo ano. Diria que muito do sucesso do ano letivo depende deste período de ‘pré-época’, que tem tanto de exigente como de multidimensional.

Como parte da expectativa há também uma lista de desafios, alguns dos quais se vão repetindo ao longo dos anos. Lecionar numa instituição de ensino superior como o Instituto Superior Técnico, que tem acesso a estudantes do ensino secundário com as médias de entrada no ensino superior mais elevadas do país, acarreta uma responsabilidade acrescida. É da nossa responsabilidade enquanto docentes não só garantir a aprendizagem dos conteúdos das diferentes disciplinas, mas também promover continuamente a curiosidade e a criatividade que estes estudantes trazem do ensino secundário durante todo o seu percurso académico. Acredito que para atingir esses objetivos seja fundamental promover um modelo de ensino focado no aluno através de técnicas de aprendizagem ativa, tirando partido do modelo de ensino e práticas pedagógicas em vigor na escola desde o ano letivo anterior. Retirar dos alunos o peso de obter sempre as melhores notas nos diferentes momentos de avaliação que ocorrem ao longo dos seus percursos académico e garantir que todos os estudantes têm oportunidades semelhantes independentemente das suas notas. O peso das notas não deve ser por isso uma pressão acrescida que limite o potencial de crescimento dos estudantes. O percurso académico de um aluno é muito mais que média final de curso, e os futuros líderes nacionais e internacionais nas diferentes áreas da engenharia serão aqueles com melhores qualidades técnicas, científicas e humanas. Um engenheiro de sucesso também é ele multidimensional.

Garantir a qualidade de formação dos estudantes requer ainda que as instituições de ensino superior tenham infraestruturas físicas (salas de aula, laboratórios, espaços de trabalho colaborativo) em quantidade e com as condições necessárias para o leccionamento das aulas, para os estudantes realizarem trabalhos de grupo e para estudar em conjunto se assim o desejarem. Que o corpo docente seja em número suficiente, para acompanhar todos os alunos, e motivado pelas condições de trabalho que encontram diariamente. Estes desafios, que estão menos relacionados com este período de preparação, repetem-se ano após ano devido ao subfinanciamento crónico das instituições públicas de ensino superior e da investigação produzida em Portugal com fundos nacionais. Por exemplo, o desenvolvimento de projetos de investigação em consórcio, com outras instituições nacionais e internacionais, é essencial para garantir simultaneamente que os programas lecionados estão atualizados, e compreendem descobertas científicas recentes e relevantes, e que os docentes têm possibilidades de oferecer projetos e teses nestes tópicos. Só desta forma podemos ambicionar que a cada novo ano, os nossos alunos e alunas façam parte ativa do futuro e que este ano, ao contrário do que se diz na canção de B Fachada, não seja para esquecer.

 

Professor do Instituto Superior Técnico