O que dificulta ter filhos em Portugal? Mães de 2021 respondem

O que dificulta ter filhos em Portugal? Mães de 2021 respondem


Colocámos a pergunta a mães de ‘primeira vez’ que contribuíram para os 79 217 nascimentos de 2021.


São vozes dentro das estatísticas: tiveram os primeiros filhos ou engravidaram em 2021, já depois dos 30. Em que sentem que o país é pouco baby-friendly? “Acho que aquela notícia de há uns dias sobre a quantidade inacreditável de mulheres cujo contrato não foi renovado após a gravidez e parto explica parte do problema”, diz Joana, que teve o primeiro filho em setembro de 2021, aos 34 anos.

Foram 2107 as mulheres que não viram o contrato renovado em 2020 por estarem grávidas ou terem sido mães há pouco tempo, de acordo com as comunicações feitas à Comissão de Igualdade no Trabalho e no Emprego noticiadas pelo DN.

“Por outro lado, dizem às mulheres que devem amamentar em exclusivo até aos seis meses e nem sequer se garante esse período pago a 100%”, continua Joana, sublinhando que o contexto económico pesa na hora de decidir ter um filho. E o atual não ajuda: “Endividamento, inflação e desemprego não são propriamente incentivos à natalidade. Acabam em resultar em que apenas os ultra privilegiados possam ter filhos planeados”, diz, sublinhando os planeados na equação. Em tempo de pandemia, admitem que a incerteza possa ter pesado, mas também a instabilidade financeira maior, os períodos de layoff e as separações, que aumentaram.

Mas o certo é que na hora de ter um filho, as despesas que se têm e se planeiam ter juntam-se às outras contas certas. Marta, de 35 anos, mãe pela primeira vez em maio de 2021, aponta os salários “incompatíveis com os custos de uma renda e uma creche em Lisboa” como uma das principais dificuldades para se ter filhos.

E para quem foi para uma cidade maior trabalhar nas áreas em que se formou deixando terras mais pequenas, realidade de muitos jovens da geração “mais qualificada de sempre” nas últimas duas décadas, implica conseguir criar os filhos sem apoio de uma rede familiar próxima. “Além disso, os avós trabalham até mais tarde e deixam de ser uma opção para ficar com os netos”, continua Marta. Patrícia acrescenta a realidade de quem tem pais mais velhos e que tendo filhos mais tarde também já não pode contar com esse apoio no dia-a-dia.

Sem rede e com creches a custos elevados, quando a opção é alargar a licença parental o vencimento é de 25%, resume Marta. “Neste momento estou a ganhar 300 euros”.

Patrícia, mãe já este ano pela primeira vez também aos 35 anos, acredita que a insegurança laboral é do que mais pesa na hora de planear ter filhos e, mais uma vez, os custos que se antecipam e como se conseguirá suportá-los. Admite que ainda está “muito verde” nessa ginástica familiar, mas não esperam conseguir pagar menos de 300 euros pelo berçário e estão a apontar para uma despesa mensal só aí de cerca de 500 euros. “Não há muitas creches públicas e de IPSS e no meu caso sou rica aos olhos dessas IPSS. E sou um bocado, mas não sou milionária. Como tenho casa própria e não tenho custos com habitação, o valor cobrado é maior e vamos para o final da lista”.

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