Aviões de papel

Aviões de papel


Trata-se da mais antiga e bem sucedida série de aviação de guerra da BD franco-belga: 58 álbuns até ao momento, 40 dos quais assinados por esta dupla


Que fazem dois autores de BD quando pretendem desenvolver uma série de aviação, de aviões percebendo nada? Obviamente, tiram o brevê… Foi o que se passou com Jean-Michel Charlier (1924-1989) e Victor Hubinon (1924-1979), antes de estrearem a primeira aventura de Buck Danny. Les Japs Attaquent (1947), aborda a guerra no Pacífico, com uma forte inspiração de Terry e os Piratas, de Milton Caniff (1907-1988), terminada no ano anterior e substituída por Steve Canyon, também ele um ás da Força Aérea Americana. Buck Danny é um coronel piloto-aviador, que desde cedo contará com a participação de dois camaradas:  o capitão Tumbler e o tenente Tuckson. Acompanhando o tempo histórico em que cada álbum se publica, trata-se da mais antiga e bem-sucedida série de aviação de guerra da BD franco-belga: 58 álbuns até ao momento, 40 dos quais assinados por esta dupla.

Livros como o de hoje, Histoires Courtes (1946-1969), destinam-se principalmente aos admiradores das séries e aficionados dos quadradinhos em geral. Compõem-se de episódios breves, curiosidades, pastiches, documentação. Neste caso, criteriosamente editado por Bernard L. Thouvanel, jornalista especializado em temas de aeronáutica, recolhe dez breves histórias, algumas inéditas outras dispersas, para além de fotografias históricas. Mas o leitor comum ficará sempre mais bem servido com a narrativa canónica das 46 páginas.

O álbum começa com a pré-história de Buck Danny: Pilotos de turismo (1946), apenas de Hubinon, um trecho de humor que conta as peripécias por que passavam os candidatos ao brevê numa qualquer escola de aviação. Segue-se A agonia do ‘Bismark, também de 46, em que ambos desenham: episódio verídico sobre o super-couraçado “Bismark”, o mais poderoso vaso de guerra até então construído, que afundara o HMS Hood, orgulho da Royal Navy, na batalha naval do Estreito da Dinamarca (1941), representando uma séria ameaça, como afirmou Churchill: “Para que a Inglaterra sobreviva, custe o que custar, afundem o Bismark!” Os ingleses vão empreender uma perseguição fazendo pagar caro a pesporrência nazi. Pese a juventude dos autores, com 22 anos, o dinamismo narrativo é eficaz, com vinhetas esplêndidas de batalha aéreo-naval, e abundância de plano picado e contra picado, como seria de esperar. Duelo no Céu, Missão Especial e Roubaram um Protótipo… (1955-56) são histórias breves de quatro pranchas, agora já com o coronel Danny, durante a Guerra Fria, em que está sempre por detrás a ação de uma potência estrangeira, nunca nomeada. Se não acrescentam nada a este universo, também não deixam os créditos dos autores por mão alheias, embora Charlier detestasse escrever narrativas curtas por lhe queimarem vários cartuchos passíveis de usar num álbum canónico.

Finalmente quatro pequenos episódios de humor e auto pastiche: As horripilantes aventuras de Buck Danny, veterano da U. S. Air Force (1957); Duck Flappy – Protótipo X-6432589 (1960); Missão Especial e Uma História Inacreditável (1969), cereja no topo do livro: em pleno ar, o chefe da esquadrilha comporta-se estranha e perigosamente aos comandos, para espanto dos companheiros, Tumbler e Tucker dirigem-se furiosos ao comandante, quando veem Gaston Lagaffe, o anti-herói criado por Franquin, vestido a preceito, trazendo na mão o manual Piloto de Caça em Três Lições, e com justificação: uma vez que vira Buck Danny demasiado absorvido pela aventura da página 14, resolvera substituí-lo, naturalmente…

Les Aventures de Buck Danny – Histoires Courtes 1. (1946-1969)

Texto e desenho Jean-Michel Charlier e Victor Hubinon
Editora Dupuis, Marcinelle, 2020

 

BDTECA

Abecedário: E de Esquálidus / Eega Beeva (Bill Walsh e Floyd Gottfredson, 1947). Homem do futuro (século XXIV), encontrado fortuitamente por Mickey e Pateta no interior de uma caverna, dormindo no topo de uma estalagmite. De nome completo Pittisborum Psercy Pystachi Pseter Psersimmon Plummer-Push, fala na língua dos pés. De cabeça desproporcional e mãos e pés em que sobressai apenas o polegar e o dedão, tem como uma das características retirar do saiote qualquer objeto, de um dedal a um iate. Bem visto: cérebro enorme para armazenar dados, polegares avantajados para teclar um móvel, resolvido o problema de acumulação de bens de consumo. Seremos felizes no século XXIV.

A Aranha, de Carlos Pais: “numa floresta sombria esconde-se um ser furtivo” (Escorpião Azul).

Ascender #1 – A Galáxia Assombrada, de Jeff Lemire e Dustin Nguyen: “Passou-se uma década desde os eventos da série Descender. Tudo mudou desde então. A magia destronou as máquinas, e as regras são agora bem diferentes.” (G-Floy).

Médecins de Guerre, de Patrice Buendia e Gille Laplagne: Virginie, médica-paraquedista em missão no Mali. A guerra, fenómeno humano constante; a BD acompanha… (Dargaud).

Mulheres sem Medo, de Martha Breen e Jenny Jordhal: “Uma breve história do feminismo, das suas principais figuras e das causas que defende.”  (Bertrand).