A Escola que queremos

A Escola que queremos


Durante séculos vigorou a ideia de que o nível de exigência da formação de professores deveria ser diretamente proporcional ao nível de ensino.


Onde procurar aquilo a que chamamos homem?

Ao contrário dos animais que já nascem aprendidos, nós temos tudo por aprender. O desenvolvimento humano é um projeto inventivo, uma obra da educação que ocorre ao longo de toda a vida, mas ganha particular importância no momento da construção dos “alicerces”. Foi por isso que historicamente se construiu aquilo a que hoje chamamos de infância, a etapa da vida em que a criança dá os primeiros passos na construção do conhecimento, em que desenvolve as bases para a estruturação da sua personalidade.

É nesta fase que se verificam as primeiras experiências e se dão os primeiros ajustamentos, acima de tudo, começam a moldar-se formas de estar, ser e sentir.

Se é certo que o desenvolvimento integrado e harmonioso da criança depende da educação, não menos certo é a importância dos professores e do papel que desempenham.

Se analisarmos a história do trabalho docente verificamos que o itinerário formativo tem passado por várias metamorfoses e dificuldades. Durante séculos vigorou a ideia de que o nível de exigência da formação de professores deveria ser diretamente proporcional ao nível de ensino. Para escalões etários mais baixos era concebida uma formação rudimentar e para escalões etários mais altos, uma formação superior. Este axioma pode ser confirmado pelas habilitações que eram exigidas no acesso, na duração e no enquadramento institucional dos diferentes cursos de formação. A exigência na formação progredia à medida que se ia avançando nos níveis de escolaridade. Se extrapolarmos para outra área formativa e a aplicarmos o mesmo princípio orientador, cairemos no riso do ridículo. Por exemplo, não lembraria a ninguém exigir uma formação inferior a um médico pediatra porque se ocupa de crianças. No entanto, o que parece óbvio na medicina, levou tempo a ser compreendido no campo da educação.

É urgente dar continuidade e reforçar as mudanças que têm sido operadas no âmbito da formação dos professores, particularmente no que se refere à formação daqueles que cuidam do desenvolvimento das crianças.

Apesar dos avanços alcançados ao nível do acesso, duração e enquadramento institucional dos cursos, ainda existe caminho por percorrer.

Se o homem é obra da educação, o investimento na formação dos docentes é meio caminho andado para a construção da escola que queremos para as nossas crianças.

Professor universitário, Universidade Lusófona