Quando abrem as escolas? Quando abre o SNS?


Entre falha nas mensagens, na preparação e no civismo, mais o frio, a variante e tudo o que dá boleia à epidemia, dezembro correu mal e janeiro foi um mês trágico em perda de vidas. 


Recomeçam hoje as aulas à distância e a energia já não é a do ano passado quando se transformou a sala de casa em escola/recreio e ainda se ia fazer pão ao fim do dia. Se o cansaço condicionará tudo o resto, não haver os computadores prometidos no ano passado é o lado mais visível da falta de antecipação e das desigualdades que fazem desta nova etapa nas escolas um intervalo um pouco menos livre mas ainda assim um intervalo num ano que já tinha a difícil missão de recuperar o anterior. Se toda a gente deseja escolas abertas, seria importante haver uma análise mais transversal do ponto em que estamos e o que há fazer na preparação do desconfinamento. Entre falha nas mensagens, na preparação e no civismo, mais o frio, a variante e tudo o que dá boleia à epidemia, dezembro correu mal e janeiro foi um mês trágico em perda de vidas. Não há nada a fazer mas podem definir-se linhas vermelhas para a frente, pelo menos para os próximos meses em que não existem ainda certezas do efeito da vacina na redução das hospitalizações e estamos longe da imunidade de grupo. Esta semana haverá uma reunião no Infarmed e era importante que a análise fosse além dos RTs e contágios. É incompreensível que reunião após reunião não exista também um ponto de situação sobre os lares e as suas fragilidades e sobre o acesso à saúde no país com um todo. Chegou-se na última semana aos 900 doentes com covid-19 em cuidados intensivos. Seja mais ou menos brutal a descrição, isto significa rutura da capacidade de resposta do SNS: para responder a este enorme número de pessoas em risco de vida, a atividade cirúrgica programada nos hospitais teve de parar depois de um ano em que já tinha tido uma quebra de quase 20%. Quantos doentes prioritários ficaram por operar? Quantos casos de covid-19 são comportáveis no SNS para não se chegar a esse ponto? Há outras soluções? Que os impactos das medidas restritivas são tremendos não há dúvidas mas a folga para as aliviar parece ser ainda pequena e dependerá do esforço de todos, da capacidade de testagem e rastreio, da segurança nos transportes. No imediato, talvez possa haver ajustes que ajudem a equilibrar apoios e sacrifícios que atingem sempre os mais pequenos e menos representados com maior impacto. Este fim de semana, numa papelaria de uma rede de supermercados, lá continuavam os livros cercados por uma fita vermelha e branca como se tivessem cometido algum crime, enquanto se vendia toda a espécie de bugigangas para o Dia dos Namorados. No final recebia-se um desconto para comprar na loja online… que vende livros. Por que não deixar as fitas de lado, taxar mais quem mantém a faturação ou até a aumenta e dirigir os apoios a quem é mais penalizado?