Marcelo a nadar sem se molhar


Quando afirma que “o Estado falhou”, este Presidente da República parece ignorar que ele próprio é obviamente chefe desse Estado que “falhou” 


Com a aproximação do novo ano e de novas eleições para o Parlamento Europeu e para a Assembleia da República, a inepta direita lusitana, e os seus comentadores aboletados nos jornais e TV’s da mesma cor, acham que Portugal é “um país a cair aos bocados”, incapaz de impedir uma pedreira de ruir engolindo viaturas e vidas humanas; um eléctrico da carreira 28 de descarrilar e embater num prédio da Lapa causando 28 feridos; ou um helicóptero de chocar contra uma antena, no meio do nevoeiro, e despenhar-se numa serra provocando quatro mortos. Claro que o Portugal “a cair aos bocados” é “o Estado”, ou pior, o Governo, ou pior, o primeiro-ministro, ignorando que, no topo do Estado, está o Presidente da República, o qual, por acaso, até é o chefe do dito.

É por demais evidente que toda a direita põe os olhos nele, sabendo-o perito em “nadar sem se molhar” – politicamente falando, está claro! – e por isso procura imitá-lo ou, até, ir mais longe, na ânsia de desalojar o actual Governo, até aqui sustentado na Assembleia da República pelas perigosíssimas “esquerdas encostadas”, que tanta repulsa têm causado à deputada Assunção Cristas, chefe do CDS-PP e autêntica “rã política” que ameaça inchar, inchar, inchar… até rebentar com estrondo!

A expressão “nadar sem se molhar” fui buscá-la ao título da bela edição francesa de um thriller erótico-criminal do escritor argentino Carlos Salem, cujo título original, na Língua castelhana, é bastante mais cru: Matar y guardar la ropa. De facto, o personagem principal é, nada mais, nada menos, do que um assassino e o quadro superior “número Três” duma multinacional do crime. Todavia, quem vê Juanito Pérez Pérez (os castelhanos costumam bisar apelidos) não o leva preso. Ele é, de facto, um temível assassino contratado mas, além disso, também é um quarentão divorciado, tímido e sedutor, que está pela primeira vez de férias com os filhos num campo de nudismo. Mas não vou desvendar aqui as peripécias deste thriller delirante, burlesco, erótico e poético.

O que pretendo dizer, ao surripiar a expressão “nadar sem se molhar”, é apenas que, não sendo esta oposição consistente, com alternativas políticas sérias e sólidas às políticas deste Governo, nada impede esta oposição politicamente inepta de criticar o Executivo a torto e a direito, bombardeando-o constantemente com acusações, insultos e inverdades políticas que revelam, sobretudo, desespero e grande irresponsabilidade. Ao tentar “nadar sem se molhar”, a direita considera-se inimputável. Veremos o que acontece nas eleições que aí vêm. Embora não se deva ignorar uma outra direita, com ou sem coletes amarelos, que anda a soprar ventos funestos, por cá e por esse mundo fora…

2. Voltando ao Presidente da República – “garante da unidade do Estado” e, por isso, chefe do dito – parece que ele se sente constitucionalmente “autorizado” a “nadar sem se molhar”, pelo menos à luz da generosa leitura que vem fazendo da nossa Lei Básica. Aliás, se bem repararmos na sua carreira, quer como político stricto sensu quer como comentador de direita, não será difícil concluir que Marcelo Rebelo de Sousa passou sempre pelas funções executivas que exerceu (secretário de Estado, ministro, presidente do PPD-PSD) “como au-au por vinha vindimada”, isto é, sempre a “nadar sem se molhar”. Como membro de Governos da direita (AD), deixou como marca indelével a “criação de factos políticos”, “fugas de informação” e comentários off the record nada lisonjeiros para este ou aquele colega de Governo. Como presidente do PPD-PSD – na oposição ao Governo do seu amigo Guterres – Marcelo foi um dos vencedores, em 1998, do referendo à regionalização (vitória do “não”), e ajudou a assegurar uma “transição pacífica”, tão ilusória quanto desastrosa, do Escudo para o Euro (“Tu és Euro”, proclamou Guterres, qual sacerdote numa missa). Mas bateu com a porta mal Paulo Portas se vingou da famosa “vichyssoise” dando cabo da nova AD.

“Nadar sem se molhar” é “passar entre os pingos da chuva” sem ficar encharcado. E o cargo de Presidente da República é propício a essa prática política “natatória”, sobretudo tendo como titular Marcelo Rebelo de Sousa, cujo passado como lusa “estrela” do comentário político – sempre a nadar sem se molhar – faz agora dele, no Palácio de Belém, um híper-comentador de cunho e assento presidencial, que não responde perante qualquer órgão fiscalizador e se acha “polícia” do Governo e até, por vezes, da Assembleia da República. O argumento segundo o qual “o PR responde perante o eleitorado” é, obviamente, uma grande “treta”, a que Marcelo Rebelo de Sousa tem sabido dar a volta, com os seus enleantes abraços, beijos e “selfies”, que lhe poderão valer a reeleição para segundo mandato.

3. Quando afirma que “o Estado falhou” – aqui, ali e acolá, com não se cansa de repetir desde há dois anos – este Presidente da República parece ignorar (repito!) que ele próprio, sendo constitucionalmente o “garante da unidade do Estado”, é obviamente chefe desse Estado que “falhou”. Assim sendo – e o que vou dizer é mesmo a sério – o chefe de um Estado que “falha” tantas vezes já há muito que devia ter renunciado ao cargo para o qual foi eleito. 

O Presidente da República deve ter consciência das responsabilidades políticas que lhe cabem enquanto “garante da unidade do Estado” e, por isso, chefe do dito. Sem esquecer que, além do mais, também é “o Comandante Supremo das Forças Armadas”, conforme dispõe a Constituição, e, por isso, devia ter assumido a sua responsabilidade política pelas “falhas” verificadas nos paióis militares de Tancos. Seria mais lógico e sério do que estar a empurrar constantemente com a barriga essa responsabilidade política para cima do Governo e, mais concretamente, do anterior ministro da Defesa, dando “trela” à oposição de direita. 

É muito honroso o Presidente da República ostentar tão importantes títulos, por inerência do cargo que ocupa, mas o seu titular não pode estar sempre a ignorar as responsabilidades que vão de par, achando que elas não implicam quaisquer consequências políticas. Mas implicam! E é por isso que acharia lógico – perante a insistência em afirmar que “o Estado falhou!” – a decisão de renunciar ao cargo, tomando para si a responsabilidade de tantas e tão graves “falhas” do Estado que chefia, assim como do Comando Supremo de Forças Armadas que, pelos vistos, não é capaz de garantir a segurança duma instalação militar. Claro que esta ironia e esta lógica tão cruéis nunca passaram pela cabeça de Marcelo.

4. Se a “moda” deste Presidente da República – que consiste em culpar “o Estado” por todos os dramas, desastres e desgraças que inevitavelmente ocorrem no País – fosse seguida por esse mundo fora, em outros países democráticos onde eles também ocorrem, a balbúrdia popular e barafunda política daí resultantes seriam tremendas, dando ainda mais força a demagogos e populistas de todos os bordos para contestar e derrubar os seus Governos legítimos e apelar à implantação de regimes autoritários. E o que não falta são inimigos da democracia.

Embora tenha sido democraticamente eleito Presidente da República – e saliento que sempre fiz, e farei, campanha contra ele – a verdade é que Marcelo Rebelo de Sousa continua a agir politicamente, a partir de Belém, com aquela característica irresponsabilidade dos comentadores e ex-dirigentes partidários com poiso nos canais de TV, que se permitem fazer, constantemente, acusações e insinuações que lançam a perturbação, a dúvida e a agitação na opinião pública, e suscitam o ódio irracional dos demagogos e populistas da direita que cá temos.

Com a sua ânsia irreprimível de protagonismo, por via de comentários políticos diários, Marcelo transformou-se num Presidente “tabloide”, numa espécie de “1ª página” quotidiana que agrada muito à comunicação social que temos, mas que revela, ao mesmo tempo, a sua falta de gravitas, de sensatez e contenção, nas acusações e insinuações que faz. O que não é nada bom para a saúde do regime democrático. Aliás, não votei em Marcelo por imaginar que ele se comportaria exactamente assim. E parece que acertei em cheio no prognóstico. Também por isso, considero bastante perigoso que ele possa vir a ser reeleito.

5. Diria que Marcelo Rebelo de Sousa é um político muito parecido com Pedro Santana Lopes – que também gosta de “andar por aí” – embora seja incapaz de cometer a quantidade de erros que Santana Lopes comete, seja por ineptidão seja por excesso de confiança. Escasseia neste credibilidade política quando “finge”. Já Marcelo – há que reconhecer – consegue ser mais “poético” e menos desastrado quando também resolve “fingir”, o que é nele uma constante. 

A “arte de fingir” também faz parte da política. Por exemplo, quando vemos um político de sobrolho carregado a “fingir” quilogramas de preocupação, ou quando um político “finge” soltar “uma furtiva lágrima” para que através dela transpareça um dilúvio de emoções, de piedade, de tristeza e de caridade. 

Acho que Santana Lopes até é mais genuíno do que Marcelo Rebelo de Sousa na descontração política que quase sempre aparenta, assim como nos erros em que vai “escorregando”. Coisa que o Presidente sabe evitar cautelosamente. Marcelo Rebelo de Sousa é mais cínico. Todavia, sem desprezar a evidente inteligência de cada um deles, também acho que ambos são de uma superficialidade e de uma ligeireza políticas que os fazem mais leves do que os pacotes de pipocas que se vendem à entrada das salas de cinema. Ambos gostam muito de “andar por aí”. Marcelo Rebelo de Sousa a “nadar sem se molhar”. Santana Lopes arriscando “molhar-se” em batalhas políticas mais difíceis. Para Marcelo, que sempre soube pôr de lado amigos incómodos, pode ser Natal todos os dias. Para Santana Lopes, assombrado pelo “fantasma da incubadora”, tal não é possível. 

 

Escreve sem adopção das regras 

do acordo ortográfico de 1990
 


Marcelo a nadar sem se molhar


Quando afirma que “o Estado falhou”, este Presidente da República parece ignorar que ele próprio é obviamente chefe desse Estado que “falhou” 


Com a aproximação do novo ano e de novas eleições para o Parlamento Europeu e para a Assembleia da República, a inepta direita lusitana, e os seus comentadores aboletados nos jornais e TV’s da mesma cor, acham que Portugal é “um país a cair aos bocados”, incapaz de impedir uma pedreira de ruir engolindo viaturas e vidas humanas; um eléctrico da carreira 28 de descarrilar e embater num prédio da Lapa causando 28 feridos; ou um helicóptero de chocar contra uma antena, no meio do nevoeiro, e despenhar-se numa serra provocando quatro mortos. Claro que o Portugal “a cair aos bocados” é “o Estado”, ou pior, o Governo, ou pior, o primeiro-ministro, ignorando que, no topo do Estado, está o Presidente da República, o qual, por acaso, até é o chefe do dito.

É por demais evidente que toda a direita põe os olhos nele, sabendo-o perito em “nadar sem se molhar” – politicamente falando, está claro! – e por isso procura imitá-lo ou, até, ir mais longe, na ânsia de desalojar o actual Governo, até aqui sustentado na Assembleia da República pelas perigosíssimas “esquerdas encostadas”, que tanta repulsa têm causado à deputada Assunção Cristas, chefe do CDS-PP e autêntica “rã política” que ameaça inchar, inchar, inchar… até rebentar com estrondo!

A expressão “nadar sem se molhar” fui buscá-la ao título da bela edição francesa de um thriller erótico-criminal do escritor argentino Carlos Salem, cujo título original, na Língua castelhana, é bastante mais cru: Matar y guardar la ropa. De facto, o personagem principal é, nada mais, nada menos, do que um assassino e o quadro superior “número Três” duma multinacional do crime. Todavia, quem vê Juanito Pérez Pérez (os castelhanos costumam bisar apelidos) não o leva preso. Ele é, de facto, um temível assassino contratado mas, além disso, também é um quarentão divorciado, tímido e sedutor, que está pela primeira vez de férias com os filhos num campo de nudismo. Mas não vou desvendar aqui as peripécias deste thriller delirante, burlesco, erótico e poético.

O que pretendo dizer, ao surripiar a expressão “nadar sem se molhar”, é apenas que, não sendo esta oposição consistente, com alternativas políticas sérias e sólidas às políticas deste Governo, nada impede esta oposição politicamente inepta de criticar o Executivo a torto e a direito, bombardeando-o constantemente com acusações, insultos e inverdades políticas que revelam, sobretudo, desespero e grande irresponsabilidade. Ao tentar “nadar sem se molhar”, a direita considera-se inimputável. Veremos o que acontece nas eleições que aí vêm. Embora não se deva ignorar uma outra direita, com ou sem coletes amarelos, que anda a soprar ventos funestos, por cá e por esse mundo fora…

2. Voltando ao Presidente da República – “garante da unidade do Estado” e, por isso, chefe do dito – parece que ele se sente constitucionalmente “autorizado” a “nadar sem se molhar”, pelo menos à luz da generosa leitura que vem fazendo da nossa Lei Básica. Aliás, se bem repararmos na sua carreira, quer como político stricto sensu quer como comentador de direita, não será difícil concluir que Marcelo Rebelo de Sousa passou sempre pelas funções executivas que exerceu (secretário de Estado, ministro, presidente do PPD-PSD) “como au-au por vinha vindimada”, isto é, sempre a “nadar sem se molhar”. Como membro de Governos da direita (AD), deixou como marca indelével a “criação de factos políticos”, “fugas de informação” e comentários off the record nada lisonjeiros para este ou aquele colega de Governo. Como presidente do PPD-PSD – na oposição ao Governo do seu amigo Guterres – Marcelo foi um dos vencedores, em 1998, do referendo à regionalização (vitória do “não”), e ajudou a assegurar uma “transição pacífica”, tão ilusória quanto desastrosa, do Escudo para o Euro (“Tu és Euro”, proclamou Guterres, qual sacerdote numa missa). Mas bateu com a porta mal Paulo Portas se vingou da famosa “vichyssoise” dando cabo da nova AD.

“Nadar sem se molhar” é “passar entre os pingos da chuva” sem ficar encharcado. E o cargo de Presidente da República é propício a essa prática política “natatória”, sobretudo tendo como titular Marcelo Rebelo de Sousa, cujo passado como lusa “estrela” do comentário político – sempre a nadar sem se molhar – faz agora dele, no Palácio de Belém, um híper-comentador de cunho e assento presidencial, que não responde perante qualquer órgão fiscalizador e se acha “polícia” do Governo e até, por vezes, da Assembleia da República. O argumento segundo o qual “o PR responde perante o eleitorado” é, obviamente, uma grande “treta”, a que Marcelo Rebelo de Sousa tem sabido dar a volta, com os seus enleantes abraços, beijos e “selfies”, que lhe poderão valer a reeleição para segundo mandato.

3. Quando afirma que “o Estado falhou” – aqui, ali e acolá, com não se cansa de repetir desde há dois anos – este Presidente da República parece ignorar (repito!) que ele próprio, sendo constitucionalmente o “garante da unidade do Estado”, é obviamente chefe desse Estado que “falhou”. Assim sendo – e o que vou dizer é mesmo a sério – o chefe de um Estado que “falha” tantas vezes já há muito que devia ter renunciado ao cargo para o qual foi eleito. 

O Presidente da República deve ter consciência das responsabilidades políticas que lhe cabem enquanto “garante da unidade do Estado” e, por isso, chefe do dito. Sem esquecer que, além do mais, também é “o Comandante Supremo das Forças Armadas”, conforme dispõe a Constituição, e, por isso, devia ter assumido a sua responsabilidade política pelas “falhas” verificadas nos paióis militares de Tancos. Seria mais lógico e sério do que estar a empurrar constantemente com a barriga essa responsabilidade política para cima do Governo e, mais concretamente, do anterior ministro da Defesa, dando “trela” à oposição de direita. 

É muito honroso o Presidente da República ostentar tão importantes títulos, por inerência do cargo que ocupa, mas o seu titular não pode estar sempre a ignorar as responsabilidades que vão de par, achando que elas não implicam quaisquer consequências políticas. Mas implicam! E é por isso que acharia lógico – perante a insistência em afirmar que “o Estado falhou!” – a decisão de renunciar ao cargo, tomando para si a responsabilidade de tantas e tão graves “falhas” do Estado que chefia, assim como do Comando Supremo de Forças Armadas que, pelos vistos, não é capaz de garantir a segurança duma instalação militar. Claro que esta ironia e esta lógica tão cruéis nunca passaram pela cabeça de Marcelo.

4. Se a “moda” deste Presidente da República – que consiste em culpar “o Estado” por todos os dramas, desastres e desgraças que inevitavelmente ocorrem no País – fosse seguida por esse mundo fora, em outros países democráticos onde eles também ocorrem, a balbúrdia popular e barafunda política daí resultantes seriam tremendas, dando ainda mais força a demagogos e populistas de todos os bordos para contestar e derrubar os seus Governos legítimos e apelar à implantação de regimes autoritários. E o que não falta são inimigos da democracia.

Embora tenha sido democraticamente eleito Presidente da República – e saliento que sempre fiz, e farei, campanha contra ele – a verdade é que Marcelo Rebelo de Sousa continua a agir politicamente, a partir de Belém, com aquela característica irresponsabilidade dos comentadores e ex-dirigentes partidários com poiso nos canais de TV, que se permitem fazer, constantemente, acusações e insinuações que lançam a perturbação, a dúvida e a agitação na opinião pública, e suscitam o ódio irracional dos demagogos e populistas da direita que cá temos.

Com a sua ânsia irreprimível de protagonismo, por via de comentários políticos diários, Marcelo transformou-se num Presidente “tabloide”, numa espécie de “1ª página” quotidiana que agrada muito à comunicação social que temos, mas que revela, ao mesmo tempo, a sua falta de gravitas, de sensatez e contenção, nas acusações e insinuações que faz. O que não é nada bom para a saúde do regime democrático. Aliás, não votei em Marcelo por imaginar que ele se comportaria exactamente assim. E parece que acertei em cheio no prognóstico. Também por isso, considero bastante perigoso que ele possa vir a ser reeleito.

5. Diria que Marcelo Rebelo de Sousa é um político muito parecido com Pedro Santana Lopes – que também gosta de “andar por aí” – embora seja incapaz de cometer a quantidade de erros que Santana Lopes comete, seja por ineptidão seja por excesso de confiança. Escasseia neste credibilidade política quando “finge”. Já Marcelo – há que reconhecer – consegue ser mais “poético” e menos desastrado quando também resolve “fingir”, o que é nele uma constante. 

A “arte de fingir” também faz parte da política. Por exemplo, quando vemos um político de sobrolho carregado a “fingir” quilogramas de preocupação, ou quando um político “finge” soltar “uma furtiva lágrima” para que através dela transpareça um dilúvio de emoções, de piedade, de tristeza e de caridade. 

Acho que Santana Lopes até é mais genuíno do que Marcelo Rebelo de Sousa na descontração política que quase sempre aparenta, assim como nos erros em que vai “escorregando”. Coisa que o Presidente sabe evitar cautelosamente. Marcelo Rebelo de Sousa é mais cínico. Todavia, sem desprezar a evidente inteligência de cada um deles, também acho que ambos são de uma superficialidade e de uma ligeireza políticas que os fazem mais leves do que os pacotes de pipocas que se vendem à entrada das salas de cinema. Ambos gostam muito de “andar por aí”. Marcelo Rebelo de Sousa a “nadar sem se molhar”. Santana Lopes arriscando “molhar-se” em batalhas políticas mais difíceis. Para Marcelo, que sempre soube pôr de lado amigos incómodos, pode ser Natal todos os dias. Para Santana Lopes, assombrado pelo “fantasma da incubadora”, tal não é possível. 

 

Escreve sem adopção das regras 

do acordo ortográfico de 1990