Igreja Universal do Reino dos Preconceituosos contra a Web Summit


Felizmente que em Portugal ainda há muita gente que vive nesse “mundo de fantasia” e que leva este país em frente.


Considero o João Miguel Tavares um dos melhores cronistas em Portugal e, ao mesmo tempo, um dos únicos assumida e desempoeiradamente de direita. No entanto, depois de ler a sua crónica “A Web Summoparolice”, receio que lhe esteja a acontecer exatamente o mesmo que aconteceu a alguns comentadores de direita que, ao conviverem assiduamente com comentadores de esquerda, acabam por se aculturar e absorver os seus preconceitos.

O cronista do “Público” começa por referir, na já citada crónica, que até nem acha inútil o que se passa na Web Summit, desde que sejamos “empreendedores, startups com acne e investidores da dotcom”. É já aqui que começa o preconceito. Poderia perder todos os carateres que tenho reservados nesta coluna a listar todas as outras áreas que têm muito a aprender com o conteúdo da Web Summit: consultoria de negócios, publicidade, marketing, meios de comunicação social, recursos humanos, ciências médicas, engenharias e por aí adiante. Aliás, a maioria das pessoas que conheço e que passaram estes dias na Altice Arena são profissionais de grandes empresas multinacionais e nada têm a ver com startups.

Mais à frente, o cronista afirma que “a parolice reside na cobertura mediática e no fervor religioso que desperta”. Sobre isto, não podia estar mais em desacordo. Num mundo em que uma grande parte das profissões irão desaparecer rapidamente graças ao advento da inteligência artificial, seria bom que houvesse uma ainda maior cobertura mediática do evento e que os nossos políticos fossem todos obrigados a assistir ao mesmo.

Tem dúvidas sobre este tema? Ora vejamos uns estudos citados pelo “Expresso” há duas semanas: segundo o Fórum Económico Mundial, os avanços na robótica colocarão em perigo cinco milhões de empregos até 2020; a Ernst & Young estima que, em sete anos, um em cada três empregos possam ser substituídos por tecnologia inteligente; a Universidade de Oxford diz que 47% dos empregos que hoje conhecemos estão condenados a desaparecer em 25 anos; e, por fim, a CB Insights avança que a automação e a robótica colocarão mais de 10 milhões de empregos em risco no prazo de cinco a dez anos.

Mas JMT deixou para o fim a parte mais preconceituosa do seu texto: “aquilo que a Web Summit vende, além de bilhetes milionários, são sonhos de sucesso que só existem num mundo de fantasia, tendo em conta que a taxa de mortalidade das startups varia entre os 90 e os 99,9%”. Obviamente que não vou questionar estes números, mas gostava de vos deixar uma curta reflexão: queremos criar novas gerações de portugueses sonhadores, com capacidade de inovar e de arriscar, que preferem falhar a não tentar, ou queremos continuar a ter portugueses amorfos, agarrados ao sofá e a sonharem apenas em conseguir aquilo que o cronista define como “a segurança de um bom emprego”? Claramente que prefiro a primeira opção.

Felizmente que em Portugal ainda há muita gente que vive nesse “mundo de fantasia” e leva este país para a frente. Felizmente que temos o José Neves da Farfetch, o Miguel Pina Martins da Science4you e o Gonçalo Quadros da Critical Software.

Continuemos todos a sonhar e sejamos todos parolos, ao ponto de acreditarmos que Portugal não está condenado a ser o parente pobre da inovação europeia.

 

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Igreja Universal do Reino dos Preconceituosos contra a Web Summit


Felizmente que em Portugal ainda há muita gente que vive nesse “mundo de fantasia” e que leva este país em frente.


Considero o João Miguel Tavares um dos melhores cronistas em Portugal e, ao mesmo tempo, um dos únicos assumida e desempoeiradamente de direita. No entanto, depois de ler a sua crónica “A Web Summoparolice”, receio que lhe esteja a acontecer exatamente o mesmo que aconteceu a alguns comentadores de direita que, ao conviverem assiduamente com comentadores de esquerda, acabam por se aculturar e absorver os seus preconceitos.

O cronista do “Público” começa por referir, na já citada crónica, que até nem acha inútil o que se passa na Web Summit, desde que sejamos “empreendedores, startups com acne e investidores da dotcom”. É já aqui que começa o preconceito. Poderia perder todos os carateres que tenho reservados nesta coluna a listar todas as outras áreas que têm muito a aprender com o conteúdo da Web Summit: consultoria de negócios, publicidade, marketing, meios de comunicação social, recursos humanos, ciências médicas, engenharias e por aí adiante. Aliás, a maioria das pessoas que conheço e que passaram estes dias na Altice Arena são profissionais de grandes empresas multinacionais e nada têm a ver com startups.

Mais à frente, o cronista afirma que “a parolice reside na cobertura mediática e no fervor religioso que desperta”. Sobre isto, não podia estar mais em desacordo. Num mundo em que uma grande parte das profissões irão desaparecer rapidamente graças ao advento da inteligência artificial, seria bom que houvesse uma ainda maior cobertura mediática do evento e que os nossos políticos fossem todos obrigados a assistir ao mesmo.

Tem dúvidas sobre este tema? Ora vejamos uns estudos citados pelo “Expresso” há duas semanas: segundo o Fórum Económico Mundial, os avanços na robótica colocarão em perigo cinco milhões de empregos até 2020; a Ernst & Young estima que, em sete anos, um em cada três empregos possam ser substituídos por tecnologia inteligente; a Universidade de Oxford diz que 47% dos empregos que hoje conhecemos estão condenados a desaparecer em 25 anos; e, por fim, a CB Insights avança que a automação e a robótica colocarão mais de 10 milhões de empregos em risco no prazo de cinco a dez anos.

Mas JMT deixou para o fim a parte mais preconceituosa do seu texto: “aquilo que a Web Summit vende, além de bilhetes milionários, são sonhos de sucesso que só existem num mundo de fantasia, tendo em conta que a taxa de mortalidade das startups varia entre os 90 e os 99,9%”. Obviamente que não vou questionar estes números, mas gostava de vos deixar uma curta reflexão: queremos criar novas gerações de portugueses sonhadores, com capacidade de inovar e de arriscar, que preferem falhar a não tentar, ou queremos continuar a ter portugueses amorfos, agarrados ao sofá e a sonharem apenas em conseguir aquilo que o cronista define como “a segurança de um bom emprego”? Claramente que prefiro a primeira opção.

Felizmente que em Portugal ainda há muita gente que vive nesse “mundo de fantasia” e leva este país para a frente. Felizmente que temos o José Neves da Farfetch, o Miguel Pina Martins da Science4you e o Gonçalo Quadros da Critical Software.

Continuemos todos a sonhar e sejamos todos parolos, ao ponto de acreditarmos que Portugal não está condenado a ser o parente pobre da inovação europeia.

 

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