A política hoje é frequentemente percebida como um jogo de interesses e poder aos olhos da sociedade no geral e é refrescante observar movimentos que transcendem as fronteiras partidárias em prol de causas maiores. Recentemente, um grupo de 50 personalidades em Portugal assinou um manifesto sobre a justiça, destacando a necessidade de reformas estruturais e de um compromisso genuíno com a melhoria do sistema. Esta ação política, que o é, serve como um sinal poderoso da importância de basear a política em ideias, princípios e valores.
A política além dos Partidos, na sua essência, deveria ser um espaço onde ideias e princípios são debatidos com paixão e seriedade. No entanto, temos assistido a uma crescente desilusão com o sistema, muitas vezes visto como refém de caciques de votos e interesses particulares. A realidade é que muitos políticos parecem mais preocupados em manter o seu poder do que em servir o bem comum.
O recente manifesto sobre a justiça é um exemplo brilhante de como a política pode e deve ser. Personalidades de diferentes áreas uniram-se para abordar um problema que transcende partidos e ideologias: a necessidade urgente de reformar o sistema de justiça em Portugal. Este tipo de compromisso supra-partidário é vital para restaurar a confiança nas instituições e garantir que a democracia funcione de forma eficaz.
A política baseada em princípios e valores é essencial para a credibilidade do sistema democrático. Quando os políticos se comprometem com ideias e não apenas com estratégias eleitorais, criam uma base sólida para a governação. Este compromisso vai além dos ciclos eleitorais e das pressões imediatas, focando-se no bem-estar a longo prazo da sociedade.
No manifesto, vemos um apelo claro para garantir a separação efetiva entre o poder político e a justiça, combater a opacidade e reforçar a transparência, respeitar o poder coletivo e reconduzir o Ministério Público ao seu modelo constitucional. Estas são propostas que refletem um compromisso sério com a melhoria do sistema judicial e a proteção dos direitos dos cidadãos. É do partido A ou B? Não interessa quando a solução aparenta trazer um caminho melhor. As ideias pesam cada vez mais que as siglas partidárias.
O Papel dos Cidadãos e dos Líderes Políticos, qual é?
Para que a política supra-partidária seja eficaz, é crucial que tanto os cidadãos quanto os líderes políticos assumam um papel ativo. Os cidadãos devem estar informados e envolvidos, participando no debate público e exigindo responsabilidade dos seus representantes. Os líderes políticos, por sua vez, devem ter a coragem de pôr de lado interesses pessoais ou partidários em prol de um bem maior. Será que isto tem vindo a crescer ou decrescer?
A tecnologia digital pode desempenhar um papel significativo neste processo, facilitando a comunicação e a participação cívica. Plataformas digitais podem ajudar a aproximar os cidadãos das decisões políticas, tornando a política mais transparente e inclusiva.
Um Compromisso para o Futuro.
A celebração dos 50 anos da democracia portuguesa é uma oportunidade perfeita para refletir sobre o que ainda precisa de ser melhorado. Reformar a justiça é apenas um dos muitos desafios que enfrentamos, mas é um passo crucial para garantir a integridade e a eficácia do sistema democrático. Ainda bem que houve um conjunto de portugueses e portuguesas que se chegaram à frente e trouxeram para o espaço público um Manifesto político.
Compromissos supra-partidários, como o manifesto sobre a justiça, são exemplos inspiradores de como podemos trabalhar juntos para criar um futuro melhor. A política, quando orientada por princípios e valores, tem o poder de transformar a sociedade e restaurar a confiança nas instituições.
Um conjunto de princípios e ideias será sempre algo a favor de um projeto e nunca nada contra qualquer personalidade ou conjunto de pessoas. Isto é importante.
Em última análise, é uma parte importante para romantizar (novamente) a política e é um apelo para que todos, líderes e cidadãos, redescubram a paixão e o compromisso com os verdadeiros objetivos da governação: servir o bem comum, proteger os direitos dos cidadãos e construir uma sociedade mais justa e equitativa. Se conseguirmos manter este foco, poderemos honrar a nossa democracia e garantir que ela continue a prosperar nas próximas décadas.
Carlos Gouveia Martins