Passos. O desemprego não é mau, “é uma oportunidade para mudar de vida”


O primeiro-ministro quis ontem desdramatizar o aumento do desemprego previsto pela Comissão Europeia afirmando que o desemprego é “uma oportunidade para mudar de vida”. A frase foi criticada de imediato pela oposição. De manhã, Gaspar tinha lembrado que “a satisfação da vida de um desempregado não se recupera”. Passos Coelho falava para empreendedores na tomada…


O primeiro-ministro quis ontem desdramatizar o aumento do desemprego previsto pela Comissão Europeia afirmando que o desemprego é “uma oportunidade para mudar de vida”. A frase foi criticada de imediato pela oposição. De manhã, Gaspar tinha lembrado que “a satisfação da vida de um desempregado não se recupera”.

Passos Coelho falava para empreendedores na tomada de posse do Conselho para o Empreendedorismo e a Inovação. “Estar desempregado não pode ser, para muita gente, como é ainda hoje em Portugal, um sinal negativo. Despedir-se ou ser despedido não tem de ser um estigma, tem de representar também uma oportunidade para mudar de vida, tem de representar uma livre escolha também, uma mobilidade da própria sociedade.”

Passos Coelho lamentou que os jovens licenciados prefiram “ser trabalhadores por conta de outrem a ser empreendedores”. E não é só aos jovens que o primeiro- -ministro faz o desafio de empreender; Passos quer “um maior dinamismo e uma cultura de risco”, seja para os jovens, seja para a população em geral.

A competitividade do país não deve estar em vender a preços baixos, pois “não é essa a competitividade que nos interessa”. Deve sim ser uma aposta em “modelos de desenvolvimento de valor acrescentado, de forte base tecnológica”, disse. Porém, admite Passos, no meio da crise, “claro que é preferível ter trabalho, mesmo precário, a não ter, claro que é melhor trabalhar mais do que não trabalhar, vender mais barato do que não vender”.

As respostas dos partidos não se fizeram esperar. Francisco Louçã afirmou: “Ouvi essa frase e é indignante.” O bloquista alega que o governo tenta dizer aos de-sempregados “que a sua desgraça é uma oportunidade” e por isso desrespeita as pessoas.

Já Jerónimo de Sousa considerou “esta ideia ofensiva para mais de um milhão de desempregados”, o que advém, de acordo com o secretário-geral do PCP, de o primeiro-ministro não conhecer “o que é a vida”.

Já o deputado do PS Pedro Marques considerou as declarações “graves e de uma grande insensibilidade num país em que as pessoas não têm oportunidades de emprego”. O PS considerou “incompreensível” que o governo não considere a taxa de desemprego uma coisa negativa.

Passos não foi o único membro do governo a falar de desemprego. De manhã, em Cascais, o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, disse estar convencido que a experiência de estar desempregado não é igual a outros acontecimentos trágicos: “Comparado com outras experiências negativas, a satisfação de vida de um desempregado não se recupera, mesmo depois de estar desempregado há muito tempo”, disse, de acordo com a SIC.

Com Lusa