Covid-19. Infeções nos idosos estão no nível mais elevado de sempre

Covid-19. Infeções nos idosos estão no nível mais elevado de sempre


Reforço da vacinação arrancou esta segunda-feira nos lares mas efeito não será imediato. Portugal está a registar um novo período de excesso de mortalidade face ao histórico para o mês de maio: no sábado registou-se o número mais elevado de mortes dos últimos 13 anos.


A incidência de covid-19 na população mais velha está a atingir nesta sexta vaga o nível mais elevado desde o início da pandemia. No caso dos idosos dos 70 aos 79 anos, já foi ultrapassado o patamar do início do ano com a chegada da Omicron, até aqui a vaga maior, com uma média diária de 1 594 casos neste grupo etário nos últimos sete dias.

Nos idosos com mais de 80 anos, o grupo até aos 84 anos também já ultrapassou o máximo histórico de incidência, com o aumento de infeções a indiciar que a exposição dos mais velhos nesta vaga será superior à do início do ano, quando os mais jovens foram bastante mais expostos. Nos últimos sete dias, regista-se uma média diária de cerca de 1 000 novos diagnósticos nos maiores de 80 anos, apenas 10% abaixo do máximo histórico – o que continuando as infeções com tendência crescente deverá levar a que o máximo seja batido nos próximos dias.

Os dados são avançados ao i por Óscar Felgueiras, matemático e professor da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, que pertence à equipa do Norte que deu apoio ao Governo na gestão da pandemia. O especialista, que faz a modelação da covid-19 desde 2020, adianta que a incidência se mantém mais elevada na população mais jovem, mas nos grupos etários mais novos ainda está longe de chegar aos níveis do início do ano. Já nos mais velhos, o aumento das últimas semanas foi suficiente para chegar aos patamares mais elevados e nunca houve tantos diagnósticos. Na última semana, aumentaram 61% no grupo etário dos 70 aos 79 anos e 58% entre os maiores de 80 anos, continuando a subir. 

Perante esta evolução, o especialista considera que é importante a adesão ao reforço vacinal, que se iniciou esta segunda-feira nos lares, mas também medidas de proteção individual. “O uso da máscara neste momento pelas pessoas mais vulneráveis e por quem está em contacto com elas mantém-se uma medida importante e que sabemos ser eficaz na prevenção do contágio”, diz.

Portugal volta a registar excesso de mortalidade O aumento da mortalidade nos próximos dias, enquanto se aguarda por sinais de uma retração dos diagnósticos, é no entanto considerado “inevitável”. O reforço da vacinação que se inicia agora não tem efeitos imediatos: é necessário esperar 13 a 14 dias para que a dose da vacina tenha o efeito máximo na reposição de anticorpos, lembrou na semana passada ao Nascer do SOL o epidemiologista Manuel Carmo Gomes, recomendando também maiores cuidados com a população mais vulnerável. 

Óscar Felgueiras explica que se verifica um ligeiro aumento da letalidade na população mais velha, expectável face à diminuição da proteção conferida pela vacina à medida que vai passando mais tempo desde a última toma, mas admite que o que tem estado a contribuir mais para o aumento de mortes atribuídas à covid-19 não será tanto haver doença mais severa mas haver mais casos entre os mais idosos, que aumentam assim a probabilidade de complicações entre os mais vulneráveis terem um desfecho fatal.
Os dados diários da DGS indicam que nos primeiros 15 dias de maio houve 340 mortes atribuídas à covid-19. São já sete vezes mais mortes do que em todo o mês de maio de 2021. A Plataforma Nacional de Vigilância de Mortalidade (EVM), que tem por base os certificados de óbito declarados no país, indica que se tem estado a verificar um novo período de excesso de mortalidade face ao histórico para o mês de maio, com cem mortes acima do esperado nos últimos sete dias. 
O excesso de mortalidade tem sido registado sobretudo na população com mais de 85 anos, sendo no entanto muito inferior ao que se viveu no início de 2021, quando a mortalidade bateu recordes em Portugal e chegou a haver dias com mais de 700 óbitos. Ainda assim, já houve dias este mês em que o número de mortes foi mesmo o mais elevado para a mesma data dos últimos 13 anos, por exemplo o último sábado, com 361 óbitos. 
Em 2021, apesar da circulação do vírus ser muito menor, a população mais velha estava a iniciar a vacinação e muitos não foram logo vacinados por haver surtos ativos. O i tentou perceber junto da DGS quantos surtos há neste momento e quantos lares não poderão iniciar a quarta dose de imediato por esse motivo, mas não foi possível ter resposta.