“Os fãs podem esperar um grande espetáculo, porque esta pista é muito diferente do que vemos no resto do mundo […]. Espero ter uma boa performance para os fãs terem uma razão extra para gostarem do espetáculo”. As palavras de Miguel Oliveira (KTM Tech 3) na antevisão do Grande Prémio de Portugal, 14.ª e última corrida da temporada do Mundial de MotoGP 2020, pareciam proféticas. O piloto almadense não só honrou o compromisso a que se propôs como fê-lo de uma forma exímia: num fim de semana histórico no Autódromo Internacional do Algarve (AIA), Oliveira venceu a etapa derradeira com um domínio absoluto após ter conquistado a primeira pole position na classe rainha do motociclismo – o luso garantiu no sábado o primeiro lugar da grelha de partida para a ronda portuguesa, com o tempo de 1.38,892 minutos, o mais rápido feito por uma mota no AIA. Ontem, o piloto natural de Almada voou para a segunda vitória em MotoGP (e a segunda da temporada) sem dar hipóteses à concorrência. Sempre com a liderança assegurada, Oliveira precisou de 41.48,163 minutos para cumprir as 25 voltas no Algarve, deixando o australiano Jack Miller (Ducati) na segunda posição, a 3,193 segundos, e o italiano Franco Morbidelli (Yamaha) em terceiro, a 3,298 segundos. Miguel Oliveira junta assim a vitória caseira ao histórico triunfo na Áustria, alcançado no GP da Estíria, no último dia 23 de agosto. À data, na quinta etapa do Mundial, o jovem luso alcançou a sua primeira vitória em MotoGP após dupla ultrapassagem notável na última curva. Com um final estonteante, a organização da prova descreveu os instantes finais da prova realizada no circuito de Spielberg como “uma das mais emocionantes últimas curvas da história do MotoGP”.
Depois de ter terminado o ano de estreia em MotoGP (2019) no 17.º lugar, Oliveira despede-se da sua segunda temporada com chave de ouro: o luso fecha a edição de 2020 no 9.º lugar, com 125 pontos, a 46 pontos do campeão espanhol Joan Mir, que ontem desistiu devido a problemas mecânicos. De notar que Mir (Suzuki) apenas venceu uma das 14 etapas (o GP Europa, 12.ª etapa), numa temporada marcada pela regularidade do atleta de 23 anos, que fechou com um total de sete pódios.
Já Oliveira junta aos dois triunfos os dois quinto lugares registados no GP Europa e no GP Emilia Romagna, naqueles que foram os segundos melhores resultados do luso esta época. Somam-se ainda os quatro sextos lugares (GP Valência, GP Teruel, GP França e GP República Checa), o oitavo posto conseguido na etapa inaugural, em Espanha, e a 11.º posição no GP de São Marino. Oliveira não terminou três etapas devido a quedas – no GP Andaluzia, GP Áustria e GP Catalunha –, e foi 16.º no GP Aragão.
Numa temporada história para a modalidade, o piloto português foi um dos 9 vencedores diferentes nas 14 etapas realizadas: além do almadense, contaram-se as vitórias do francês Fabio Quartararo (Yamaha), do sul-africano Brad Binder (KTM), dos italianos Andrea Dovizioso (Ducati), Franco Morbidelli (Yamaha) e Danilo Petrucci (Ducati) e dos espanhóis Maverick Viñales (Yamaha), Álex Rins (Suzuki) e Joan Mir (Suzuki).
Com a vitória no GP Portugal, Oliveira tornou-se ainda o terceiro piloto com mais triunfos nesta edição, já que até ontem só Quartararo e Morbidelli tinham vencido mais do que uma etapa – com três vitórias para cada.
“É surreal! Sonhámos com estas corridas e ao finalmente consegui-la é incrível. Não tenho palavras para descrever. A minha gratidão a todos, aos adeptos, à minha equipa na despedida. É um grande dia, não podia ter alcançado isto sem eles. É especial. A minha família não viu a primeira vitória, mas estão aqui. É um dia incrível para mim. Feliz por acabar a época em alta com esta vitória”, disse Oliveira após tornar-se o primeiro luso a vencer um GP Portugal.
Recorde-se que esta vitória tem um sabor ainda mais especial, já que se tratou também da última corrida do português pela atual equipa. Miguel Oliveira vai integrar já em 2021 a KTM oficial depois de dois anos ao serviço da Tech 3, equipa satélite do construtor austríaco. “Estamos muito felizes pela vitória, mas também por termos dado ao Miguel a possibilidade de vencer aqui. Sei que era muito importante para ele. Foi um fim de semana perfeito: um tempo fantástico, o circuito, a vitória, a pole, o recorde da pista. Não podíamos ter pedido mais. A única coisa que me deixa triste é o Miguel ir para outra equipa. Mas foi muito bom. Adoramos Portugal!”, comentou Hervé Poncharal, patrão de Oliveira, à SportTV. Recorde-se que o piloto português também garantiu ontem a segunda vitória da equipa em Tech 3, deixando Poncharal sem fôlego: “Durante a corrida praticamente não consegui falar nem fazer nada. Quando lideras uma prova de princípio a fim é muito difícil. Foram quase 25 voltas sem respirar”.
Se por esta altura ainda fossem precisos mais testemunhos para provar a verdadeira corrida de campeão feita por Oliveira, nada melhor do que escutar as declarações de Franco Morbidelli no final da corrida no traçado algarvio. “Estive sempre no limite. Vi que o Miguel Oliveira era intocável hoje [ontem]. Não era possível acompanhar o Miguel. Estava demais!”, atirou o piloto da Yamaha, que terminou em segundo lugar o Mundial de pilotos. Também Jack Miller fez questão de abordar a performance monstruosa do luso: “O Miguel esteve noutro nível. Tentei controlar nas primeiras voltas, mas ele foi embora”. O australiano superou Morbidelli já na fase final da corrida, tendo terminado no segundo posto na prova de Portimão (e em 7.º no Mundial).