Venezuela. ‘Dólar clandestino’ dispara

Venezuela. ‘Dólar clandestino’ dispara


Para estabilizar a taxa oficial, o governo injeta dólares periodicamente no mercado de câmbio


O “dólar clandestino” disparou na Venezuela e reacendeu os medos de um aumento na inflação. A situação lembra os piores anos da crise económica que forçou milhões de venezuelanos a migrar.

À medida que reina a incerteza sobre o endurecimento das sanções dos EUA contra a Venezuela, a cotação do dólar quebrou esta semana a barreira dos 100 bolívares no mercado paralelo. Este mercado surgiu na sombra dos rígidos controles cambiais que estavam em vigor há 15 anos.  

A taxa oficial é de 69,5 bolívares por dólar e a diferença entre as duas cotações, que chega perto de 50%, pressiona os preços, enquanto as autoridades obrigam o comércio a aderir à taxa de câmbio oficial sob ameaças de encerramento e multas.

A divergência já tinha começado no segundo semestre de 2024, em torno de 20%, mas o fenómeno agravou-se após a decisão do governo de Donald Trump de revogar a licença da petrolífera americana Chevron para operar na Venezuela.

Segundo a agência AFP, o “anúncio” da saída da Chevron “gerou imediatamente grande preocupação”, o que levou a um aumento da procura por dólares, com os venezuelanos a procurar proteger as suas economias num momento em que a oferta no mercado formal diminuiu.

A situação atual lembra a grave crise vivida durante os oito anos de recessão que assolaram o país entre 2013 e 2020, durante os quais a economia encolheu 80% e os venezuelanos enfrentaram a hiperinflação, que chegou a 130.000% em 2018, e uma aguda escassez de alimentos e medicamentos.

Para estabilizar a taxa oficial, o governo injeta dólares periodicamente no mercado de câmbio. Só em 2024, foram investidos cinco mil milhões. As chamadas “intervenções cambiais”, no entanto, caíram, atingindo 634 milhões em 2025 em comparação com 934 milhões  no mesmo período do ano passado.

Nesse contexto, ocorreu o anúncio do fim da licença da Chevron, além da ameaça de Washington de impor tarifas aos compradores de petróleo venezuelano. Vinte e cinco por cento da produção de petróleo venezuelana, atualmente em torno de 900.000 barris por dia, vem das operações da Chevron.