“Sevilla tiene un color especial” já dizia a música dos Los del Rio e é a mais pura das verdades. Quem conhece a cidade e a percorre absorvendo um pouco da sua história consegue reconhecer a cultura a transpirar por todos os poros, ruas e vielas. Um bastião das tradições e de como elas se podem projetar no futuro, sem perder a autenticidade e as características do passado. Por isso a procuro, todos os anos, com um grupo de amigos, para viver um pouco este espírito, sabendo de antemão que regresso a Portugal de “barriga cheia” em todos os sentidos, começando pelo literal. Se são as pessoas que fazem as comunidades, estas não se esquecem de onde vêm e orgulham-se do sangue que lhe corre nas veias, alimentando o turismo sem se deixarem cair em modernismos bacocos ou alterarem a sua forma de estar. Talvez por isso seja cada vez mais procurada, porque o que todos desejamos quando visitamos um sítio é precisamente a essência desse mesmo local, é o que o torna peculiar e único e não o que já se faz em todo o lado.
Para começar a nível gastronómico. Dezenas para não dizer centenas de tascas e tabernas “à moda antiga” onde se podem comer tapas e especialidades locais. Atrevo-me a dizer que não há como a Bodeguita Romero, pelo menos, para o meu gosto. Se tivesse que escolher um restaurante no mundo inteiro para uma última refeição escolheria este. Sentado na barra, como se quer, a ver o pessoal a trabalhar num misto de azáfama e alegria, profissionalismo e leveza, onde tudo parece coordenado ao pormenor sem atropelos ou más disposições. A maravilhosa tortilha de batata mal cozida, o presunto e os queijos de excelência, o peixe frito sem espinhas que é trabalhado à nossa frente, a famosa salada russa neste caso com peixe e camarão, o entrecôte grelhado no ponto ou a tão típica “Pringá” acompanhados por um bom vinho a copo ou uma caña (cerveja). Tem também a Casa Robles, um clássico mais requintado onde pode comer para além de todos esses petiscos, bom marisco e umas deliciosas espinacas con garbanzos que mais não são do que espinafres com grão-de-bico num tempero muito próprio.
Nas muitas ruelas cheias de bares há uma que marca pela diferença. A Calle Arfe onde pontificam os famosos “tablaos”, com espetáculos de flamenco e muita música sevilhana improvisada. A Casa Matias é de todos eles o que me enche as medidas. Um bar, onde a ASAE seguramente não passou e onde tudo parece intocável em décadas. Espaço pequeno, balcão de madeira como nas mercearias antigas e um exíguo recanto com assentos a toda a volta onde se acumula gente a cantar e a tocar guitarra. Num poster mesmo à entrada que reflete uma notícia antiga de um jornal local diz que o espaço é único porque “se vende alegria, canto, ambiente, eternidade, música e muito companheirismo”. Não podia estar mais de acordo. Quando for a Sevilha passe por lá, vai ver que sai mais feliz!