«Não vou ser candidato à Presidência. Não vou apresentar nenhuma candidatura». Com uma simples frase, Mário Centeno alterou o quadro da corrida a Belém, que tem a meta agendada para janeiro de 2026. A entrevista do Governador do Banco de Portugal esta quarta-feira à RTP3 fez soar as campainhas entre os apoiantes de uma candidatura de António José Seguro. «Já não há dúvidas, vai ser o Seguro e o Pedro Nuno vai apoiá-lo», garantiu-nos um apoiante do antigo líder socialista. Pedro Nuno Santos foi o primeiro a incluir o nome de António José Seguro na lista dos presidenciáveis, numa entrevista à CNN.
De então para cá, o socialista que há 10 anos estava desaparecido da política não tem descansado: tem um espaço de comentário semanal na televisão; tem participado nas inúmeras iniciativas para que tem sido convidado, um pouco por todo o país; e até já foi, no último fim de semana, ao programa de Ricardo Araújo Pereira, dar um ar da sua graça.
Agora, com a saída de cena de Mário Centeno, Seguro encontra-se sozinho na corrida (António Vitorino que também tem sido falado, dá sinais de não querer avançar).
Ao contrário do que tem sido veiculado depois da entrevista em que Pedro Nuno Santos falou de Seguro, fonte próxima dos dois garante que o nome não foi lançado por acaso. O secretário-geral socialista vê com bons olhos a candidatura de António José Seguro, até porque o apoio a essa candidatura é mais um passo na demarcação face ao anterior líder socialista, António Costa.
Apesar de estarem muito confiantes no apoio oficial do partido a uma candidatura de Seguro, os seus seguidores acreditam que a opção da direção socialista vai gerar incómodo no interior de alguns setores do partido, que tenderão a apoiar uma outra candidatura. Sampaio da Nóvoa é o nome de que se fala como capaz de reunir o apoio da esquerda e da ala à esquerda do Partido Socialista. Se essa hipótese se concretizar, fonte próxima do ex-líder socialista diz que «será uma repetição das eleições de 1986 em que Mário Soares era o candidato do PS, mas houve uma ala do partido que apoiou Salgado Zenha». A mesma fonte, que dá a candidatura de Seguro como certa, adianta já o nome que está a ser defendido para o apoiar: MASP 26 (Movimento de Apoio Seguro a Presidente). A confirmar-se, é a recuperação da sigla que apoiou Mário Soares nas duas candidaturas Presidenciais.
Gouveia e Melo só no Verão
Embalado pelas sondagens que, uma após outra, confirmam a preferência dos portugueses pelo Almirante, agora reformado, Henrique Gouveia e Melo só deverá avançar com o anúncio formal de uma candidatura a Belém no início, ou mesmo no fim do Verão.
Esta é pelo menos a opinião da maioria dos apoiantes que têm estado a aconselhar o ex-chefe de Estado Maior da Armada (CEMA), que consideram que nesta fase Gouveia e Melo deve resguardar-se e evitar uma exposição excessiva. «Ele não precisa disso», diz-nos um destes apoiantes que concorda com Isaltino Morais, que defendeu esta quinta-feira, em entrevista à Rádio Observador, que «não deve anunciar a candidatura antes de maio e poderá mesmo ser só em outubro». Para o autarca de Oeiras, que já manifestou o seu apoio ao almirante, Gouveia e Melo não precisa de ter pressa porque as sondagens lhe dão vantagem e os portugueses já o conhecem. Questionado sobre como será possível manter a expectativa numa candidatura a ser anunciada tão tarde, Isaltino garante que esse não é um problema: «Para isso estamos cá nós [ele e os jornalistas que o entrevistavam] que mantemos o tema na agenda».
A preferência por um anúncio tardio reúne a unanimidade dos defensores desta candidatura, que também têm desaconselhado uma exposição excessiva de Gouveia e Melo. «Não deve agora desdobrar-se em entrevistas».
No PSD, Mendes é dado como garantido
Só falta o anúncio público. Nas reuniões internas do partido, já ninguém tem dúvidas sobre a candidatura de Marques Mendes. Outros nomes que nos últimos meses chegaram a surgir como alternativa deixaram de ser mencionados e, com mais ou menos entusiasmo, já ninguém espera novidades para as eleições de janeiro de 2026.
Nas contas que se vão fazendo na São Caetano à Lapa, há a convicção de que a candidatura do ex-líder do partido ainda está numa fase embrionária e que tenderá a crescer com o tempo. A aposta num desgaste da imagem de Gouveia e Melo e a notícia de que André Ventura é candidato vieram trazer um novo ânimo entre as hostes laranja.
Os sociais-democratas acreditam que André Ventura e Gouveia e Melo disputam, pelo menos em parte, o mesmo eleitorado, e que a candidatura do líder do Chega prejudica sobretudo o ex-CEMA. «Não foi por acaso que Marques Mendes veio logo levantar a possibilidade de uma desistência de André Ventura. Foi para o obrigar a dizer que vai até ao fim, porque, se o fizer, aumenta a probabilidade de uma segunda volta e de ele (Marques Mendes) ser o candidato que passa à segunda volta».
Segundo as fontes ouvidas pelo nosso jornal, à semelhança do que irá fazer Gouveia e Melo, também Marques Mendes vai empurrar o mais possível a data do anúncio da sua candidatura.
O candidato que com toda a probabilidade será apoiado pelo PSD entra todas as semanas em casa de milhares de portugueses que assistem ao seu comentário semanal, ao domingo à noite na SIC. Enquanto não for formalmente candidato, pode continuar a fazê-lo, aproveitando para ir deixando recados que podem servir uma futura candidatura.
Por outro lado, o facto de não anunciar uma candidatura cedo demais evita um excesso de presença no terreno, onde corre mais riscos. «Nada pior do que uma campanha longa», comentam no PSD.
Autárquicas facilitam anúncios tardios
O facto de haver eleições autárquicas no final do verão ajuda a narrativa dos que preferem anunciar candidaturas o mais tarde possível.
Além das estratégias dos putativos candidatos, a verdade é que os anúncios dos nomes dos principais candidatos às autárquicas tenderão a mobilizar as atenções mediáticas. O primeiro teste deu-se já esta semana com o anúncio do nome de Alexandra Leitão para a Câmara de Lisboa. O tema ocupou muito tempo na agenda e o previsível é que os muitos anúncios que estão para ser feitos nas próximas semanas desviem as atenções das eleições presidenciais.
É num maior domínio dos temas autárquicos nos debates políticos dos vários órgãos de comunicação social que os pré-candidatos presidenciais estão a apostar, alegando que «não faz sentido confundir os eleitores», como nos disse um apoiante de uma destas candidaturas.
Do lado das direções partidárias, sobretudo nos dois maiores partidos, a ordem do momento é concentração máxima na batalha autárquica que se avizinha. Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos apostam muito nas próximas eleições locais, até porque muito do que se venha a passar no futuro imediato da política portuguesa vai depender da análise dos resultados eleitorais. As eleições realizam-se em cima do debate orçamental e se os socialistas ou o Chega sentirem que Montenegro está fragilizado, não hesitarão em provocar uma crise cujo desfecho ocorrerá em meados de 2026 com o novo Presidente em plenitude de funções.