A odisseia dos cristãos-novos, a mais completa História de Angola, uma crónica do surrealismo, biografias de Mussolini e Frida Kahlo,e o regresso de Bill Waterson… No 12.º mês do ano, com o frio instalado e o Natal à porta, propomos uma escolha pessoalíssima de 12 títulos. Entre eles, há vidas e mortes extraordinárias para conhecer, cidades e países para visitar, dois álbuns ilustrados cheios de pequenas maravilhas e muita matéria para pensar. Uma dúzia de sugestões de presentes de última hora – para oferecer à família, aos amigos ou, quem sabe,a si que é amante de livros.
História do Surrealismo
Maurice Nadeau
Assírio & Alvim
Nascido da carnificina de 14-18, mais do que um movimento organizado, o surrealismo foi uma ânsia de negação, subversão e sabotagem dos códigos da civilização ocidental, que continua hoje a fazer tanto sentido como há cem anos. Maurice Nadeau, que se penitencia pelas «insuficiências» da sua obra, tem a virtude da proximidade com os protagonistas e do conhecimento íntimo dos factos.
«No café, por entre o ruído das vozes, sob a luz, acotovelado, Robert Desnos só precisa de fechar os olhos e fala, no meio das cervejas, dos pires, todo o oceano desaba com os seus fragores poéticos e os seus vapores ornados de longas oriflamas. Basta que aqueles que interrogam esse formidável dormidor mal o orientem e surgem de imediato a predição, o tom da magia, da revelação, da revolução, o tom do fanático e do apóstolo».
Preço 17,75€
Os Mistérios
Bill Waterson e John Kascht
Gradiva
Quase três décadas depois do fim do genial Calvin & Hobbes – a que o autor recusou sempre dar continuidade por receio de se repetir –, Bill Waterson regressa com uma inesperada parábola sobre a vida moderna e o fim dos mistérios. Um livro-objeto, primorosamente produzido, com algumas ilustrações dignas de serem emolduradas.
«Por fim, o Rei, desesperado,convocou os seus Cavaleiros e incumbiu-os da captura de um Mistério.
Talvez conseguissem descobriros seus segredos e travar os seus poderes.»
Preço 19,99€
História de Angola – da Pré-História ao Início do Século XXI
Alberto Oliveira Pinto
Guerra & Paz
Reedição da mais completa e mais ambiciosa História de Angola alguma vez publicada , cuja narrativa vai de c. 7000 a.C. até à morte de Jonas Savimbi em 2002, que pôs fim à guerra civil. Face à ausência de fontes escritas para o período anterior à chegada dos europeus, a ‘cobertura’ é desigual, privilegiando, naturalmente, os contactos com os portugueses. A Guerra Colonial e os seus antecedentes merecem também análise detalhada que contempla os dois lados da barricada.
«Na primeira metade do ano de 1582, Mocumbe foi novamente cercada pelos exércitos do Ngola, mas uma coluna portuguesa conseguiu dizimar cerca de 500 inimigos e pôr os outros em fuga. Luís Serrão seguiu depois, à frente 80 soldados portugueses, em socorro de vários sobas da Ilamba seus aliados, e mais uma vez as gentes do Ngola fugiram sem sequer travar combate. Consequentemente, os portugueses conseguiram a adesão de um número ainda maior de sobas.»
Preço 25€
Viena – como a cidade das ideias criou o mundo moderno
Richard Cockett
Edições 70
Do que é feita a riqueza de uma cidade? Do seu urbanismo? Dos seus belos edifícios? Da sua pujança económica? Richard Cockett propõe-nos uma visão diferente: a grande riqueza de uma cidade é feita das suas ideias e dos seus habitantes. Convirá, antes de mais, esclarecer que este não é exatamente um livro sobre a cidade de Viena e a sua história brilhante e acidentada. A velha capital dos Habsburgos, a cidade de Mozart e do Danúbio Azul de certo modo passa para segundo plano, para ceder o protagonismo às individualidades que ali – ou depois na diáspora – ajudaram a criar o mundo moderno tal como o conhecemos. A família Freud, o arquiteto Richard Neutra, o historiador de arte Ernst Gombrich, o compositor Erich Korngold, o realizador Fritz Lang, o editor George Weidenfeld, o economista Ludwig von Mises, os filósofos Ludwig Wittgenstein e Karl Popper, os matemáticos Erwin Schrödinger e Kurt Gödel – a lista de talentos, em todas as áreas, que incubaram neste viveiro é quase interminável. E muitos deles, com a ascensão do nazismo, foram fecundar outras latitudes – Inglaterra e os Estados Unidos revelaram-se países especialmente acolhedores. Não deixa de ser irónico que essa dispersão ruinosa, que pôs fim a uma época de ouro de Viena, tenha sido provocada por um filho da cidade, um cabo megalómano que deu cabo de tudo.
«A Viena Vermelha atraía visitantes, admiradores e Imitadores de toda a Europa, maravilhados pela erradicação dos bairros de lata da cidade e pelas clínicas de saúde pioneiras. Mesmo os céticos estavam impressionados. Um jornalista inglês de visita escreveu na revista The Spectator que os empreendimentos de Viena a este respeito envergonhavam o seu país, expondo «a nossa letargia nacional. Todavia, para os seus críticos e em particular para muitos dos beneficiários do planeamento utópico da Viena Vermelha, a cidade socialista tornou-se o epítome do que mais tarde seria conhecido como ‘estado paternalista».
Mortes fabulosas dos antigos
Dino Baldi
Cavalo de Ferro
Sócrates, Arquimedes, Rómulo, Cina, António e Cleópatra, Espártaco, Heliogábalo e tutti quanti. Uma galeria preciosa de filósofos, poetas, imperadores, escravos e figuras duvidosas ou mesmo bizarras da Antiguidade. O género biográfico, que Baldi maneja com rigor e perfeccionismo, permite tornar próximo o que é distante e presentes os acontecimentos do passado.
«Arquimedes estava sozinho em casa nesse momento, ocupado a traçar figuras geométricas na areia, completamente alheio ao que estava a suceder. Um soldado à procura de espólio entrou viu aquele homem decrépito e, ameaçando-o com a espada, perguntou-lhe quem era. Arquimedes não respondeu e nem sequer se virou, dizendo apenas: ‘Tem cuidado com o desenho, por favor’. Foi decapitada ali mesmo. Conta Valério máximo que o seu sangue, ao misturar-se com a areia, tornou irreconhecíveis as demonstrações científicas que desejara proteger. Marcelo, quando lhe trouxeram a cabeça de Arquimedes, afastou-se irado e chorou longamente; na verdade, dera ordens para que o poupassem, provavelmente porque queria levá-lo para Roma como o mais glorioso troféu da sua conquista».
Preço 20,95€
Filosofia Medieval – Uma introdução histórica e filosófica
John Marenbon
Fundação Calouste Gulbenkian
A herança clássica, os primeiros pensadores cristãos, o nascimento da teologia, a filosofia nas universidades e fora delas, sem esquecer as importantíssimas tradições bizantina, islâmica e judaica. De Santo Agostinho a Dante decorrem perto de nove séculos, e mais de 5000 quilómetros separam Bagdad de Oxford. John Marenbon oferece uma visão panorâmica, matizada e atualizada dessas realidades muito diferentes que compõem a Idade Média.
«Tal como escolas das catedrais a partir das quais se haviam desenvolvido, as universidades eram instituições eclesiásticas, sujeitas ao controlo do bispo local e do papado (que, desde o final do século XI, se tornara cada vez mais centralista e ávido de poder). Os mestres e estudantes seculares – os que não pertenciam a qualquer das ordens religiosas de monges ou frades – formaram uma corporação (é esse o significado da palavra universitas) e, como tal, tanto regulavam internamente a sua profissão, definindo um curriculum e exames conducentes a graus académicos, como agiam também corporativamente de modo a manterem e melhorarem a sua posição perante as autoridades. Para este fim estavam preparados, se necessário, para levar a cabo greves prolongadas ou mesmo partirem e estabelecerem-se noutro lugar».
Preço 35€
A Minha Vida – Memórias
Golda Meir
Presença
Nascida no final do século XIX em Kiev, Golda Meir é hoje recordada como a única mulher a ocupar o cargo de chefe de governo de Israel, Estado que ajudou a fundar em 1948. Na altura com uma sólida carreira diplomática, Ben-Gurion nomeou-a ministra dos Negócios Estrangeiros. Nestas memórias, vemo-la a viajar (cresceu nos Estados Unidos, foi ministra plenipotenciária em Moscovo, viveu num kibutz na Palestina, andou por Inglaterra, Etiópia, Japão…), a negociar junto de altas figuras e a tomar decisões em momentos difíceis. Uma leitura instrutiva e cheia de lições para os dias que correm.
«Todas as minhas tentativas de estabelecer contacto direto com os líderes árabes tinham falhado redondamente – incluindo o apelo que fiz no primeiro dia em que assumi funções, quando declarei que ‘estamos dispostos a discutir a paz com os nossos vizinhos em qualquer dia e sobre todos os assuntos’, apenas para ler no espaço de setenta e duas horas a resposta de Nasser de que ‘não há voz que transcenda os sons da guerra… e nenhum apelo é mais sagrado do que o apelo à guerra’. As reações de Damasco, Omã e Beirute também não foram mais encorajadoras. Para citar apenas um exemplo de reação do mundo árabe ao meu apelo para que encetássemos imediatamente negociações eis um excerto de um artigo publicado num importante jornal jordano em junho de 1969:
‘A senhora Meir está disposta a deslocar-se ao Cairo para discutir com o presidente Nasser, mas, para sua grande tristeza, não foi convidada. Acredita que um dia surgira no Médio Oriente um mundo sem armas. Golda Meir comporta-se como uma avozinha que conta histórias de embalar aos netos…’».
Preço 26,90€
Mussolini – A Hora do Destino
Antonio Scurati
ASA
Chegados ao quarto e último volume do monumental retrato do Duce, a que Scurati chama ‘biografia documentada’, Itália encontra-se atolada numa guerra em várias frentes. Mussolini é apenas um ator secundário nesta peça, quando não um espectador, mas recusa-se a admitir que os acontecimentos escapam completamente ao seu controlo. Até porque em 1942 a Alemanha parecia invencível, mas entretanto o cenário mudou. O que fazer, para onde virar-se? Está prestes a cair o pano sobre o fascismo.
«Não desiste o Duce do fascismo, não lhe importa quão horripilante possa ser o cenário bélico. Como declara a Anfuso, a Itália não pode abster-se nesta batalha final contra os bolcheviques, a sua presença na frente russa é essencial. É lá que Hitler vencerá a guerra. Se as armas fascistas permanecerem ausentes, a circunstância de que ele, Benito Mussolini, tenha sido primeiro na história a combater o comunismo nada contará diante do facto de os italianos não estarem na Rússia. E isto não é tolerável. Ele, Benito Mussolini, Duce do fascismo, não admite sair de cena. Eis porque os soldados italianos têm de ir combater nas estepes russas. Pela Grandeza da Itália e do seu Duce, que são indubitavelmente uma coisa só. E esses soldados foram esmagados pela fera soviética».
Preço 27,90€
Sob mares frágeis
Pedro Ponces Camanho
Arte & Técnica
Num tempo em que ouvimos repetidamente falar da morte próxima dos oceanos, é reconfortante constatar que ainda existem lugares verdadeiramente mágicos no planeta, com águas azuis cristalinas, peixes de todos os tamanhos e feitos, e corais de cores tão vivas que quase encandeiam. Mas o autor destas fotografias também deixa o alerta:está a perder-se biodiversidade a um ritmo alarmante. Sob mares frágeis mostra-nos os tesouros que perderemos caso a humanidade não aja rapidamente.
«O mar de coral é caracterizado pelas grandes paredes com mais de 1 km de profundidade, o que aliado à excelente visibilidade transmite aos mergulhadores a sensação de que estão a voar, ao ponto de causar vertigens algumas pessoas. Locais como Holmes Reef tinham uma enorme biodiversidade, grandes predadores e presas, pináculos enormes, cavernas subaquáticas e corais coloridos e ruidosos como pano de fundo. Ao contrário da noção comum do ‘mundo de silêncio’ subaquático, um recife de coral saudável é ruidoso, uma orquestra de vários instrumentos, com sinfonias produzidas pela azáfama dos seus habitantes».
Preço 22€
Conversas sobre a Fé
Martin Scorsese e Antonio Spadaro
Casa das Letras
Ao ver algumas das cenas de filmes como Touro Enraivecido, Taxi Driver, Tudo Bons Rapazes, Casino e Gangs de Nova Iorque, muitos perguntar-se-ão como é possível que o homem por trás daquelas imagens de violência tenha, na sua juventude, andado no seminário e chegado a pensar tornar-se padre. Em conversa com o teólogo jesuíta Antonio Spadaro, Scorsese explica tudo isso, recorda episódios da infância nova-iorquina, passada num lugar «indecente e profano», e revela como transportou a sua visão espiritual e a sua relação com o divino para o grande ecrã. Um livro breve, intenso e de uma profundidade que a sua pequena dimensão não faria suspeitar.
«Havia muita gente desesperada no bairro. Havia um homem que era conhecido como um grande ladrão e que costumava a andar na procissão de São Roque. Rezava para ter força para roubar mais. Quando contas a história, parece engraçado. Mas, no fundo, é um homem que estava tão desesperado que rezava a Deus para que o deixasse fazer coisas erradas. Sentiu que não tinha alternativa. Como é que o que podemos julgar por isso?
Para mim, a transubstanciação tem de acontecer fora da Igreja. Ir à igreja tem que se tornar mais do que pagar as prestações semanais de um seguro ético. E é muito importante que os leigos participem neste esforço, que encontrem o seu caminho para incorporar Deus nos seus corações».
Viva Frida
Gérard de Cortanze
Planeta
A vida de Frida Kahlo é um catálogo desorganizado de amores e doenças, depressões e entusiasmos, beleza e tragédias. Os seus quadros com flores, animais, frutos, vestidos rebuscados, crianças, caveiras e sangue traduzem a sua fúria de viver, as adversidades que enfrentou e a fecundidade exuberante da terra mexicana. Cortanze, estudioso e apaixonado por Frida, capta estas dimensões contrastantes numa biografia livre, entusiástica, cinematográfica e colorida, que se apoia tanto na obra pintada de Frida (e, em especial, nos autorretratos) como nos diários, cartas e testemunhos de próximos.
«Nada predispunha Frida Kahlo e Leon Trotski a cruzarem-se, contudo esse encontro teve lugar no dia 9 de janeiro de 1937. Casada há oito anos, Frida Kahlo acaba de fazer 30 anos. É muito bonita. Basta vermos os teus autorretratos […] tal como fotografias que datam dessa época tiradas por Lucienne Bloch. Adora vinho e sexo, usa o traje mexicano como ninguém e ostenta joias espetaculares. Desde o seu terrível acidente, enfrentou vários abortos, várias operações e tem de usar coletes ortopédicos. Pertencente à geração enérgica e ativa, saída da Revolução Mexicana, faz parte do Partido Comunista e vê no seu envolvimento político uma maneira de afirmar a vida e de ultrapassar a dor. Futura pintora, já produziu várias telas importantes».
Preço 21,90€
Estranhos na sua terraAscensão e queda da elite mercantil cristã-nova (séculos XV-XVIII)
Francisco Betthencourt
Temas & Debates
Destacaram-se nas ciências, nas humanidades e muito especialmente na finança e no grosso trato. Umas vezes foram tolerados, outras perseguidos, outras explorados, outras ainda assimilados. Judeus convertidos ao cristianismo entre finais do século XIV e finais do seguinte, muitos acabariam por trocar a Península Ibérica por outras paragens, nomeadamente países protestantes, menos rígidos em matéria religiosa. Atingiram grande protagonismo e notoriedade por toda a Europa, deixando marcas visíveis da sua passagem e prosperidade, mas no século XVIII desaparecem enquanto grupo étnico e social distinto. O que lhes aconteceu? Uma história de sangue, dinheiro e religião, contada por um dos grandes especialistas na matéria (autor de uma História das Inquisições, Betthencourt foi diretor da Biblioteca Nacional e é atualmente titular da cátedra Charles Boxer de História no King’s College de Londres).
«Os cristãos-novos estiveram na vanguarda da expansão ibérica para África, o Novo Mundo e a Ásia. Importaram e reexportaram ouro e prata, primeiro da África ocidental e depois do Novo Mundo. Investiram no tráfico infame e desumano de escravos da África ocidental, no comércio de especiarias da Ásia meridional e no comércio do açúcar da Madeira, em seguida de São Tomé e mais tarde do Brasil. Durante os séculos XVI e XVII, os cristãos-novos expandiram o âmbito do seu comércio para incluir pedras preciosas da Ásia meridional e América do Sul e porcelana e laca da Ásia oriental, têxteis da Ásia meridional, especiarias do Sudeste Asiático, índigo da América Central, cochinilha do México e tabaco das Américas».
Preço 29,90€
