Monkeypox: uma preocupação (cada vez mais) à escala global

Monkeypox: uma preocupação (cada vez mais) à escala global


Enquanto as autoridades e os profissionais de saúde partilham os seus pontos de vista, muitas pessoas ficam alarmadas. A China já prepara kits de deteção do vírus. Afinal, o que se passa em relação à “varíola dos macacos”?


O monkeypox (Mpox), anteriormente conhecido como varíola dos macacos, é uma doença viral rara que voltou a ganhar destaque mundial em 2022 devido ao surgimento de surtos fora das regiões onde historicamente era endémica. Porém, há algumas semanas, era principalmente encarada como uma preocupação em África. À medida que os dias foram passando, o perigo de disseminação escalou e as autoridades internacionais, bem como muitos médicos e outros profissionais, partilham as suas opiniões sobre a doença causada pelo vírus da varíola dos macacos, que pertence ao género Orthopoxvirus da família Poxviridae. A população fica alerta, principalmente, devido aos sintomas. É que os iniciais incluem febre, dor de cabeça intensa, dores musculares e cansaço, mas, após alguns dias, surgem erupções cutâneas, que geralmente começam no rosto e espalham-se para outras partes do corpo. As erupções evoluem para pústulas e, eventualmente, formam crostas que caem.

Contudo, um representante da Organização Mundial da Saúde (OMS) sublinhou na terça-feira que o Mpox, independentemente de ser a estirpe nova ou antiga, não é a nova covid-19, pois, segundo ele, as autoridades sabem como controlar a sua propagação. “Podemos e devemos combater o Mpox juntos”, disse Hans Kluge, diretor regional da OMS para a Europa, durante uma conferência de imprensa da ONU. “Então, escolheremos implementar sistemas para controlar e eliminar o Mpox globalmente? Ou entraremos noutro ciclo de pânico e negligência? A forma como respondermos agora e nos próximos anos será um teste crítico para a Europa e para o mundo”, acrescentou.

Mas a maioria dos países está a tratar o Mpox como uma verdadeira emergência. Por exemplo, na Ásia, intensificam-se as defesas depois da deteção de uma variante potencialmente mais perigosa. A Tailândia relatou o seu primeiro caso suspeito da nova variante da clade 1b, o que levou as autoridades de saúde da região a agirem rapidamente. Mas as restantes nações asiáticas estão igualmente a intensificar a vigilância e os esforços preventivos. A Coreia do Sul começou a monitorizar passageiros provenientes de países africanos de alto risco, incluindo a Etiópia, o Quénia e a República Democrática do Congo. Já Taiwan respondeu com o armazenamento de vacinas e o lançamento de campanhas de vacinação direcionadas para grupos de alto risco, incluindo profissionais de saúde. À sua vez, o Paquistão divulgou que está a introduzir novos exames nos aeroportos depois de confirmar pelo menos um caso de infeção. 

A Administração Nacional de Produtos Médicos da China aprovou a entrada no mercado do primeiro kit de teste de ácido nucleico para o vírus da varíola dos macacos, desenvolvido pela empresa Daan Gene, localizada na Província de Guangdong. O kit será utilizado para a deteção qualitativa in vitro do gene F3L do vírus em casos suspeitos, amostras de lesões cutâneas e swabs de garganta. Mas outras empresas chinesas estão a preparar-se para produzir kits de teste e outros produtos, com alguns já a terem recebido certificação da União Europeia e a serem exportados para diversos países. A Administração Geral das Alfândegas da China também começará a realizar triagens de pessoas e mercadorias vindas de países com surtos de varíola dos macacos. A vacina contra a varíola dos macacos desenvolvida pelo China National Pharmaceutical Group e o Centro Chinês de Controlo e Prevenção de Doenças entrou na fase de pesquisa clínica em julho de 2023, sendo a primeira vacina deste tipo desenvolvida na China a alcançar este estágio.

Na Europa, as reações diferem. Por exemplo, a Suécia ativou um programa de rastreamento de contactos numa tentativa de impedir a propagação do Mpox. As autoridades de saúde suecas anunciaram na semana passada que diagnosticaram uma pessoa com a estirpe do clade 1b da varíola dos macacos – o primeiro caso deste tipo na Europa. Como parte das medidas para travar um surto, as autoridades procuraram rapidamente localizar qualquer pessoa que pudesse ter entrado em contacto com a pessoa infetada. Magnus Gisslén, epidemiologista nacional da Suécia na Agência de Saúde Pública, garantiu que não foram registados novos casos. “Não há nenhum novo caso confirmado na Suécia neste momento, exceto o já relatado doente com o vírus da clade 1b”, disse ao site Euractiv. Apesar de não acreditar que existirá um surto, acrescentou que “é melhor estarmos preparados para o pior”. O especialista em saúde afirmou também que é fundamental agir rapidamente, “diagnosticando, isolando e rastreando” os casos de infeção suspeitos.

As autoridades de saúde irlandesas confirmaram que não há casos de Mpox no país da variante mais perigosa. Todos os casos registrados até agora são da clade 1, o mesmo que causou o surto global no início de 2022. Até ao momento, foram reportados seis casos de Mpox na Irlanda neste ano, uma queda em relação aos 13 casos do ano passado e 227 casos em 2022. A quantidade de infetados no país tem permanecido baixa e o risco de disseminação na comunidade geral é considerado muito baixo. Em resposta ao aumento de casos em 2022, o Serviço de Saúde da Irlanda (HSE) lançou um programa de vacinação para grupos de risco, com mais de 11 mil doses administradas e mais de 5 mil pessoas totalmente vacinadas. De acordo com a RTÉ, o HSE garante que a Irlanda tem vacinas suficientes através do sistema de aquisição da União Europeia para responder a qualquer necessidade futura. Porém, sabe-se que o HSE está a avaliar a necessidade de um novo programa de vacinação. 

Por outro lado, França vai doar 100 mil doses da vacina contra o Mpox a países que enfrentam a emergência, enquanto prepara centros de vacinação no seu próprio território, como anunciou o primeiro-ministro Gabriel Attal. Em território francês, de acordo com o dirigente, 232 locais de vacinação estão prontos para um eventual surto. E os EUA comprometeram-se a doar 50 mil doses à República Democrática do Congo. A agência de saúde da ONU pediu um aumento significativo na produção de vacinas e destacou que a campanha de vacinação deve ser uma prioridade nos países afetados. E as razões para preocupação são compreensíveis: o Mpox é, geralmente, uma doença autolimitada, com duração de 2 a 4 semanas. No entanto, em alguns casos, especialmente em pessoas com sistema imunitário comprometido ou em crianças, pode ser grave. Existem diferentes variantes do vírus e algumas podem ser mais perigosas.

A 18 de junho, o Brasil era o país com o maior número de casos confirmados de Mpox na América Latina, com um total de 11.212 casos. A Colômbia surgia de seguida, com 4.249 casos confirmados da doença até então. Outros países afetados na região incluíam México, Peru, Chile e Argentina. Mais recentemente, há cinco dias, foi divulgado que o México reportara três novos casos de varíola dos macacos, elevando o total de casos no país para 49. Estes casos foram os primeiros relatados após a decisão das autoridades de saúde locais de intensificar a vigilância epidemiológica para controlar e gerir melhor a doença. As organizações de saúde mexicanas estão a pressionar a Comissão Federal para a Proteção contra Riscos Sanitários (Cofepris) para acelerar a aprovação e distribuição da vacina contra o Mpox no país. Destacam a importância de avaliar e autorizar vacinas que vão ao encontro dos padrões internacionais de segurança e qualidade para garantir a proteção da saúde pública.

Em Portugal, na sexta-feira passada, a Direção-Geral da Saúde (DGS) esclareceu que nenhum dos casos de Mpox – que foi identificado pela primeira vez em macacos em 1958 e em humanos em 1970, na República Democrática do Congo – reportados em território nacional pertence à variante mais perigosa. Em Portugal, todos os casos, verificados até à data, correspondem à variante clade 2b. Entre junho de 2023 e julho de 2024, foram notificados 244 casos, incluindo três novos entre maio e julho de 2024. A DGS destacou a importância da deteção precoce, diagnóstico e prevenção, recomendando a vacinação de grupos de risco. Desde julho de 2022, 9.391 pessoas foram vacinadas. 

A varíola dos macacos é considerada menos grave do que a varíola (Smallpox), que foi erradicada globalmente em 1980, mas continua a representar uma preocupação de saúde pública devido ao seu potencial de disseminação e impacto em comunidades vulneráveis.