Paris 2024. Ouro sobre rodas

Paris 2024. Ouro sobre rodas


Iúri Leitão e Rui Oliveira ganharam a prova de madison e conquistaram a medalha que faltava a Portugal. No penúltimo dia de competição, ouviu-se finalmente a Portuguesa em Paris!


O ciclismo de pista português está com uma dinâmica impressionante. Quarenta e oito horas depois de Iúri Leitão ter conquistado a medalha de prata na categoria omnium, a equipa Iúri Leitão e Rui Oliveira sagrou-se campeã olímpica de madison numa corrida emocionante e com muitas incidências. Foi a sexta medalha de ouro de Portugal em jogos olímpicos, com a particularidade de ser a primeira fora do atletismo.

No velódromo de Saint-Quentin-en-Yvelines, nos arredores de Paris, os ciclistas portugueses começaram de forma conservadora e aumentaram o ritmo com o desenrolar da corrida. Além da velocidade, foi igualmente importante a tática para ir buscar pontos nos momentos certos. Nas derradeiras 50 voltas, Portugal ganhou quatro dos cinco sprints pontuáveis e ainda dobrou o pelotão, conquistando um bónus de 20 pontos. A última volta de Iúri Leitão foi explosiva e permitiu-lhe chegar primeiro à meta. Portugal sagrou-se campeão olímpico com 55 pontos (35 dos sprints e 20 pela volta ganha), a Itália ficou em segundo com 47 pontos e a Dinamarca foi terceira com 41 pontos. A festa foi grande e manteve-se no pódio com a dupla portuguesa a celebrar o feito com o “Siii” à Ronaldo. Foi, porventura, o pódio mais divertido e feliz de Paris 2024, ao mesmo tempo que as suas redes sociais “explodiam” com mensagens.

Título emotivo Este resultado só foi possível graças a uma preparação muito bem feita no velódromo de Sangalhos, um dos melhores a nível mundial. Confirmaram-se as palavras do professor Moniz Pereira quando, em 1976, afirmou que os portugueses poderiam ser tão bons como os melhores, se lhes dessem as condições de treino adequadas. Embora tenham ganho o ouro numa pista, são ciclistas de estrada. Iúri Leitão integra a Caja Rural e Rui Oliveira faz parte da UAE Emirates, a equipa de Tadej Pogacar, que felicitou os portugueses. “Tão feliz. Parabéns, Rui Oliveira e Iúri Leitão”, escreveu na rede social X

Depois de ter sido campeão do mundo de omnium em 2023, Iúri Leitão, de 27 anos, foi agora campeão olímpico de madison, sendo certo que, no ciclismo de pista, o título olímpico sobrepõe-se ao título mundial. “Tinha boas sensações no início. Sabia que a corrida era muito dura e tirámos partido da tática. A nossa paciência é um dos pontos fortes e acabámos por surpreender os adversários no final. Todos os desportistas sabem que 95 % dos dias são maus e 5% são bons, e depois de tanto sofrimento chegar aqui é um sonho”, disse Iúri Leitão, que adiantou: “Toda a gente está bem preparada para esta prova, tem muita energia para gastar e quer vencer. Quando houve ataques de equipas mais fortes não eramos nós que tínhamos de responder. Passámos a ideia de que estamos desgastados, deixámos os outros matarem-se e depois atacámos”.

Iúri tornou-se o primeiro atleta português a conseguir duas medalhas na mesma edição dos jogos olímpicos.

Aos 26 anos, Rui Oliveira é um dos melhores roladores do mundo. “É um momento único na vida. Não estávamos entre os favoritos, mas arriscámos nas últimas 50 voltas e, no final, estávamos mais fortes. As últimas voltas foram dadas à morte”, frisou. Esta dupla já tinha preparado em Portugal um desfecho destes: “Há duas semanas fizemos uma simulação no velódromo de Anadia, fizemos 200 voltas atrás da mota e as últimas 25 andámos sozinhos”, disse Rui Oliveira.

O selecionador nacional, Gabriel Mendes, também enfatizou o feito: “Eles geriram todos os momentos da corrida de forma perfeita, conseguiram uma fantástica vitória e fizemos história. Mostramos o nosso valor numa das corridas mais difíceis do ciclismo de pista. Temos vindo a fazer um grande trabalho e chegámos ao topo”.

A prova de madison, também conhecida como corrida americana, é uma corrida tremendamente desgastante, disputada por equipas de dois corredores, mas apenas um deles pode estar ativo, o outro tem uma dinâmica menos ofensiva, pelo que há trocas constantes entre eles, e tudo isto se passa a uma velocidade mínima de 50 km/h. O revezamento acontece quando os dois corredores dão as mãos e o piloto que ficou inativo empurra o piloto ativo. Os corredores realizam 200 voltas, num total de 50 km, e ao longo da prova têm sprints bonificados. É, essencialmente, uma corrida por pontos em que, a cada 10 voltas, há um sprint que dá pontos aos quatro primeiros. Além disso, as equipas marcam 20 pontos se ganharem uma volta sobre o pelotão. Por tudo isto, é muito importante que o mais rápido dos pilotos esteja ativo quando chegar um sprint.

As bicicletas de pista ou sprint são otimizadas a nível da aerodinâmica, não têm mudanças, nem travões e possuem um sistema de pinhão fixo que permite travar aliviando a pressão na pedaleira. O quadro e os aros são feitos em alumínio, titânio ou fibra de carbono e têm pneus estreitos para reduzir a resistência ao rolamento. O comprimento máximo da bicicleta de pista é de 2 m e pesa entre 7 e 8,5 kg. O velódromo tem 250 metros e longas curvas, com uma inclinação de 44 graus, onde se atingem os 85 km/h. É uma pista extremamente rápida, não houve dia nenhum que não tivessem caído recordes do mundo e, na primeira noite de competição, o recorde do mundo de velocidade por equipas femininas foi batido cinco vezes.