O mercado dos media continua a mexer. E a Cofina tens estado na base dos interesses. Agora, o grupo Media Capital voltou a mostrar-se interessado na compra da Cofina Media, dona de títulos como o Correio da Manhã, CMTV, Jornal de Negócios, Sábado e Record, avaliando a Cofina em mais de 75 milhões de euros.
Numa nota enviada à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), o grupo liderado por Mário Ferreira diz que «mantém o interesse na aquisição de 100% do capital social da Cofina Media» e «assume o compromisso de participar no processo de alienação do referido ativo que venha a ser promovido pela Cofina, organizado em modelo de leilão ou outro, e desde que pautado por regras objetivas e transparentes, mediante a apresentação de uma proposta que atribui à Cofina Media, um enterprise value superior a 75 milhões de euros».
Esta intenção – que não é a primeira vez que acontece – é avançada, numa altura, em que a Cofina recebeu uma proposta de compra feita por quadros da empresa, aos quais se juntam, pelo menos Cristiano Ronaldo.
Em causa está um Management Buy Out (MBO) que está a ser liderado por Luís Santana, atual gestor da Cofina, e o antigo diretor do Correio da Manhã, Octávio Ribeiro. O grupo liderado por Paulo Fernandes confirmou que já recebeu a proposta subscrita por Ana Dias, Luís Santana e Octávio Ribeiro, aos quais se juntam um conjunto de investidores não identificados. No entanto, depois de muito se especular, sabe-se agora que um desses investidores é Cristiano Ronaldo que será acionista de referência do grupo Cofina e que deverá ficar com uma posição na ordem dos 30%. Pelo que se sabe, o futebolista parece estar entusiasmado com o negócio.
Sobre estas opções da Cofina, Henrique Tomé e Vítor Madeira, analistas da XTB, defendem que neste momento a Cofina «tem uma capitalização bolsista de cerca 43 milhões de euros, as estranhas ofertas pela aquisição da mesma podem superar os 75 milhões de euros, trata-se de um prémio de mais de 74.5%, o que parece ser exagerado à primeira vista». Contudo, avançam, o facto de a Media Capital juntar a Cofina ao seu portfólio «poderia resultar em ganhos de sinergia e ganhos de quota de mercado e, deste modo, alavancar as suas receitas».
Já Carla Maia Santos, Head of Sales da Forste, lembra que se, por um lado, existe o MBO liderado por Luís Santana que para financiar esta compra «teve de encontrar investidores» e «já fez saber que Cristiano Ronaldo está interessado na compra de 20 a 30% da Cofina e que também a Livrefluxo de Domingos Matos, pode entrar na compra da Cofina. Domingos Matos é um dos acionistas fundador da Cofina e detém 12% da empresa». Por outro, «temos um concorrente de mercado a fazer uma oferta de 100% de compra da Cofina, a Media Capital».
Posto isto, Carla Maia Santos diz que «com o processo de MBO, Luís Santana mantém-se na empresa, já possui todo o conhecimento interno e provavelmente não terá dificuldades em fazer avançar o negócio, não se esperando tanta turbulência ao nível de gestão de recursos humanos. Mas a Media Capital também está na área podendo contribuir com know-how diferenciador».
Mas, numa altura em que o setor dos media sofre com falta de investimento, como é que os analistas olham para a apresentação destas duas propostas? «São uma jogada estratégica para ambos os lados, dado que estão dispostos a pagar um prémio pela sua aquisição de cerca de 74,5%. Em simultâneo, isto pode demonstrar que este ‘setor’ dentro da comunicação social tem potencial para continuar a gerar lucros», defendem Henrique Tomé e Vítor Madeira.
Já a Head of Sales da Forste é da opinião de que a Cofina «independentemente de ser uma empresa do setor dos media é relativamente pequena, fácil de ser comprada e mostra bons números», lembrando que já conseguiu «superar as receitas líquidas registadas antes da pandemia»: Em 2022 atingiu os 10,5 milhões de euros face aos 7,15 milhões de euros de receitas líquidas apresentadas em 2019.
Carla Maia Santos defende ainda tal como acontece com o processo de MBO, a Media Capital «também está na área podendo contribuir com know-how diferenciador». E acrescenta: «Mas mais importante que tudo será o valor da oferta de capital que fizerem. A oferta mais alta vencerá. Já por uma oferta do mesmo valor, o MBO vencerá. No final do dia, o que importa é o dinheiro», opinião que é partilhada pelos analistas da XTB: «Provavelmente, a proposta aceite será aquela que apresentar maior valor para os acionistas».
Em relação ao facto de a Cofina ter vindo a dar bons lucros, esse poderá ser um fator de interesse? «Não me parece que sejam os lucros de 10 milhões, isto porque se analisarmos as contas da empresa entendemos que esse lucro excessivo aconteceu relacionado com as ajudas que o Estado concedeu fruto do programa de apoios à pandemia covid-19, o interesse parece ser controlar uma parte da comunicação social que levará a ganhos estratégicos», referem os analistas da XTB.
Por sua vez, Carla Maia Santos é da opinião de que «a compra da Cofina por 75 milhões de euros é um negócio interessante para os compradores, pois em menos de oito anos conseguem pagar o investimento feito».
No que diz respeito ao MBO, recorde-se, que o Nascer do SOL sabe que este tipo de operações nunca são hostis, o que leva a crer que o grupo liderado por Paulo Fernandes poderá dar o ok a este negócio, sendo certo que o dono do grupo sempre esteve aberto a ofertas.
Problemas de concorrência?
Questionados sobre se este negócio não poderá trazer problemas de concorrência, Vítor Madeira e Henrique Tomé avançam que «se a oferta da Media Capital for a escolhida, então a quota de mercado da empresa aumentará, o que poderá aumentar ainda mais as pressões entre a concorrência». Por outro lado, acrescentam, «a entrada de novos players no mercado tornar-se-á ainda mais difícil, o que poderá ser negativo para o setor uma vez que deixará de estar exposto a pressões externas que muitas vezes obrigam as empresas a inovar». E, além disso, «a informação tenderá a ficar mais centralizada nos mesmos meios de comunicação e poderá ser mais facilmente deturpada».
Já a Head of Sales da Forste, detalha que se assiste, a nível geral, a uma grande consolidação do setor dos media, deixando exemplos: «Enquanto que, em 1983, 90% dos media dos EUA eram controlados por cerca de cinquenta empresas, neste momento, os media são controlados por apenas seis. Os chamados The big six, compostos pela Comcast ( NBC, SKY,…), Disney (Disney Channel, National Geografic,…), AT&T (CNN, HBO, WB,…), Paramount ( MTV, Nickelodeon,…), Sony e FOX».