De tempestade em tempestade, os melhores surfistas do mundo desafiaram as poderosas ondas da praia de Supertubos, em Peniche, proporcionando um espetáculo único e arriscado. Yago Dora e Caroline Marks surfaram melhor num mar muito pesado.
A elite mundial do surf passou por Portugal – é a única paragem europeia do Championship Tour (CT) – para enfrentar as ondas da praia de Supertubos, em Peniche, que ganharam uma dimensão e força ainda maiores com a passagem das tempestades Laurence e Martinho. Por questões de segurança, a World Surf League (WSL) interrompeu a competição ao terceiro dia, a razão era óbvia, na altura mais crítica as ondas tinham uma energia idêntica à das ondas gigantes da Nazaré. As grandes referências do surf compararam Supertubos a Pipeline, no Hawai, considerado um dos melhores beach breaks do circuito mundial, só que com vento muito forte e mar tempestuoso.
Nos três primeiros dias, os melhores surfistas do mundo desafiaram ondas grandes e poderosas, que proporcionam extensos tubos feitos a grande velocidade e espetaculares manobras aéreas, foi a melhor fase do Meo Rip Curl Pro Portugal. Foi nesse ambiente que surgiram as grandes surpresas com a eliminação da vencedora do ano passado, Johanne Defay, que competiu mesmo estando grávida de quatro meses, e de Griffin Colapinto, vencedor da competição masculina em 2024. Além de interromperem a prova, as duas tempestades provocaram estragos na estrutura erguida na praia da Supertubos. Enquanto esperavam a chamada da organização, os surfistas aproveitaram para fazer turismo. «Fui até à Ericeira, fiz compras e estive com o meu pai», disse Caroline Marks.
Depois de uma espera de cinco dias, a etapa portuguesa recomeçou em condições difíceis e desafiadoras para os surfistas devido ao vento muito forte e à ondulação, com respeitáveis ondas de três metros de altura. A prova masculina foi bastante intensa, com os finalistas a terem de surfar quatro vezes no último dia de competição, o que representa um enorme esforço físico e mental.
Final brasileira
O grande momento da competição juntou os brasileiros Italo Ferreira e Yago Dora, que deram tudo pela conquista do título de campeão em Supertubos. Foi uma final emocionante e muito disputada, com Italo a apostar em impressionantes aéreos e Yago a mostrar maior diversidade de movimentos, mas com alguma dificuldade em apanhar bons tubos, apesar de estarmos na praia de Supertubos. Já vimos finais muito mais espetaculares. Italo começou por impressionar com um espetacular aéreo, que valeu a pontuação mais alta da bateria, mas Yago fez um surf mais criativo e passou para a frente quase no final. «O ano passado, bati duas vezes na trave, este ano deu certo. Só pensei que queria muito vencer aqui» disse Yago Dora após ganhar pela primeira vez uma prova da WSL, ele que começou no skate. «É tão bom e difícil de explicar. Estou muito grato. É sempre difícil defrontar o Ítalo. Ele acaba sempre por conseguir o que precisa, mas desta vez ganhei», disse Yago Dora, que subiu ao 4.º lugar do ranking. Depois de felicitar o compatriota, Ítalo disse: «Estava muito confiante, mas cometi alguns erros na final. É sempre um prazer competir contra o Yago, parabéns para ele. Adoro este lugar, tenho muitas boas recordações. Ainda temos uma longa época pela frente, por isso vamos continuar», afirmou o campeão do mundo de 2019, que vai continuar de licra amarela.
A final feminina entre Caroline Marks e Gabriela Bryan merecia melhores condições de mar, o que se refletiu em scores baixos e pouco espetáculo. A norte-americana Marks somou 7,90 pontos (em 20 possíveis) e tornou-se a primeira surfista a vencer duas vezes em Peniche. «Portugal é um lugar especial para mim, venci aqui em 2019. É tão bom vencer, não foi a final mais bonita, é verdade…, mas ganhar sabe tão bem. Os últimos anos estive melhor na segunda parte da época, por isso ganhar no início é ótimo. Além disso, estou rodeada das pessoas certas. Tenho aqui o meu pai, é muito bom ganhar com a presença dele», sublinhou.
De modo a reduzir o impacto do evento no ecossistema local, a WSL estabeleceu um protocolo com o Peniche Surfing Clube e a Surfrider Foundation com vista a replantar toda a área ocupada pela estrutura da prova para segurar as dunas.
Concluída a terceira etapa do CT, Italo Ferreira lidera o ranking mundial e Caitlin Simmers é a primeira na competição feminina, apesar de ter sido eliminada na prova portuguesa. Na próxima semana, a elite do surf volta ao mar para disputar a etapa de El Salvador.