Vou escrever este artigo com música de fundo. Toquinho e Vinicius cantam: “Amigos meus, está chegando a hora/Em que a tristeza aproveita pra entrar/E todos nós vamos ter que ir embora/Pra vida lá fora continuar”. Luiz Felipe Scolari já aborda com clareza o termo da sua carreira. Num momento em que, apesar da goleada sofrida face ao Flamengo (para o Brasileirão), o Athletico Mineiro, assim mesmo com agá, atingiu pela segunda vez na sua história as meias-finais da Copa dos Libertadores. Por seu lado, Felipão bateu um recorde: esta será a sua sexta meia-final da Libertadores. Como não estar feliz?
O antigo selecionador nacional cumpriu esse percurso à frente de dois emblemas: primeiro o do Grémio de Portalegre, clube da sua região, Rio Grande do Sul – ele nasceu em Passo Fundo, no dia 9 de novembro de 1948 – e teve várias passagens pelo Tricolor – 1987, 1993-96, 2014-15, 2021 – sempre como treinador, claro!, já que como jogador, e como gosto de lhe dizer na brincadeira, foi um bocado perna-de-pau e não passou do Caxias e do Atlético Alagoano. Enfim, o homem nasceu mesmo foi para ter sucesso como técnico e a verdade das verdades é que desde 1994 que foi o último a levar o Brasil ao título de campeão do mundo, algo a que os brasileiros deixaram de estar habituados. Com o Grémio, atingiu a final da Libertadores em 1995, batendo o Atlético Nacional, de Medellín, Colômbia com 3-1 e 1-1. No ano seguinte ficou-se pelas meias-finais, eliminado por outro grupo colombiano, o América de Cali.
Scolari é um daqueles técnicos amados pelos adeptos do Palmeiras. Chegou pela primeira vez ao Verdão em 1997 e ficou até 2000. Depois, novo período, já depois de ter passado por Portugal e ter tido uma má experiência no Chelsea – 2010-2012. Finalmente, não há muito tempo – 2018-19, tendo sido campeão brasileiro. Em 1999 deu o primeiro título da Libertadores ao clube, defrontando os colombianos (parece maldição!) do Deportivo de Cali na final: 0-1 e 2-1, com 4-3 no desempate por grandes penalidades. No ano seguinte, nova final e mais penaltis, desta vez perdendo frente ao Boca Juniores: 2-2 e 0-0 (2-4). Em 2018, a sua última meia-final antes daquela que se irá disputar nos próximos dias 30 de agosto e 6 de setembro, frente ao Flamengo: o Boca voltou a ser carrasco: 0-2 e 2-2.
Alegre! Luiz Felipe Scolari é, naturalmente, um homem satisfeito e alegre com este recorde que acaba de bater: “Claro que esta é uma marca importante, principalmente para quem trabalha na América do Sul e conhece melhor as dificuldades de uma competição como a Copa América. É um prémio a quem tanto se dedica ao futebol há tantos anos. E o reconhecimento da entidade máxima, aqui na América, a um técnico que vê com alegria no seu final de carreira”.
“E em novo dia/A gente ver novamente/A sala se encher de gente/Pra gente recomeçar”, soa a música de fundo. Um adeus? Definitivo? Provavelmente. Já há algum tempo que Felipão pensa no assunto, ainda por cima com um filho e netos a viver em Lisboa. Apesar da dificuldade que agora se ergue ao defrontar o poderoso Palmeiras nas meias-finais, nada poderia ser melhor para ele do que levar o Athletico até ao título continental. Athletico Paranense que conta apenas com uma final da Libertadores no currículo, perdida para o São Paulo em 2005: 1-1 e 0-4. Esta já é, portanto, a sua segunda melhor participação de sempre. Que Scolari vê desta forma: “Conseguir mais uma classificação entre os quatro grandes da Libertadores com uma equipe que está no início do seu reconhecimento como uma das cinco melhores do Brasil e da América nos próximos cinco anos, pois é esse o plano desenhado, só me pode deixar feliz. Feliz com este grupo com que trabalho e feliz com o Athletico e com as condições que me tem dado para trabalhar”. Mais uma vez subindo ao topo. Logo se vê se está mesmo chegando a hora do adeus…