Com o regresso da vida noturna, é notório o aumento de consumos de álcool e drogas que acabam mal. O primeiro balanço do INEM feito ao i com base nos meses de setembro e outubro mostra que depois de uma quebra de 40% nestes casos no ano passado face ao que era o histórico pré-pandemia, este ano as ocorrências recebidas nos Centros de Orientação de Doentes Urgentes aumentaram e aproximaram-se dos números de 2019.
Houve uma média de 74 ocorrências por dia sinalizadas ao 112 nestes dois meses, com pico aos fins de semana, em especial ao sábado, como acontecia antes da covid-19. Aqui, mais uma vez, é nos jovens até aos 18 anos, que representam uma minoria das situações mas que legalmente só podem beber a partir da maioridade, que os números ultrapassam o que acontecia em 2019.
Em setembro e outubro foram socorridos pelo INEM 230 menores de idade por problemas com álcool e/ou drogas, quando em 2019 foram 205 nestes mesmos dois meses e no ano passado 134.
No caso dos adultos, em 2019 em dois meses havia 4611 ocorrências, em 2020 baixaram para 2972 e foram agora 4209.
Álcool com maior peso nas intoxicações e experiências com canábis Alguns casos de intoxicação por substâncias são encaminhados para o Centro de Informação Antivenenos (CIAV) do INEM, que pode ser acionado através de uma chamada para o 112 mas também está disponível através de contacto telefónico ao público em geral através do número 800 250 250, por exemplo em situações em que é ingerido um produto ou substância inadvertidamente e se desconhece o risco ou como agir.
Ao i, Fátima Rato, responsável pelo serviço, sublinha que pelo menos nos casos que estão a chegar ao CIAV se verifica este ano e em particular nos últimos meses um aumento de chamadas por abuso de substâncias e até outubro, dois meses do fim do ano, já atingiram um número recorde.
Nos primeiros dez meses do ano foram atendidos 1205 casos relacionados com álcool e droga no CIAV, representando 5,85% das chamadas recebidas no serviço, quando nos últimos anos tinham um peso menor. Em 2019 foram, no total, 1138 (4,22% do total) e, em 2020, 1118 (4,30%).
A médica responsável pelo Centro de Informação Antivenenos sublinha que a maioria dos casos nesta categoria de incidentes está relacionada com a ingestão de bebidas alcoólicas ou consumos mistos de álcool e drogas, tendo aumentado durante a pandemia os pedidos de ajuda relacionados com o consumo de canábis pela primeira vez. Houve também novos comportamentos, explica, dando como exemplo do consumo de canábis em casa por exemplo em bolos. “Notamos um aumento de consumos de primeira vez, em que as pessoas ficam com sintomas e não sabem o que fazer”, resume.
Nas chamadas relacionadas com álcool e droga, nota-se mais uma vez um aumento sobretudo na população mais nova, não tanto em menores de idade mas na faixa etária dos 20 aos 29 anos, mas este ano foram reportados casos em todos os grupos etários, dos 10 aos 89 anos de idade. Contam-se ainda assim 70 casos desde o início do ano em jovens dos 10 aos 17 anos.
António Táboas, coordenador responsável a nível nacional pelo Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU), sublinha que com os números a voltar ao nível de 2019, a expectativa é que este aumento mais acentuado nos últimos meses possa ser “passageiro” e fruto de um período de “maior euforia” no regresso à vida noturna e ao convívio social, nomeadamente por parte dos jovens. Mas sublinha que esta deve ser uma questão a monitorizar, com sensibilização dos mais novos. Na noite, tem havido relatos de jovens de 16, 17 anos, que pouco saíram nos últimos anos, a beber e a beber de mais, mesmo não tendo idade legal para o fazer. Os mais velhos compram e dão ou revendem a quem não tem idade para ir ao balcão. A venda de álcool está proibida a menores de 18 anos desde julho de 2015.