Novo Banco. Parlamento criou “fatos e verdades alternativas”, diz CEO

Novo Banco. Parlamento criou “fatos e verdades alternativas”, diz CEO


Já ao Nascer do SOL, a deputada Cecília Meireles afirmou que relatório mais parece um ‘ajuste de contas entre governadores e Governos’.


“A Comissão de Inquérito não pode substituir fatos inexistentes por argumentos, não deve substituir argumentos rebatidos por suspeitas, e nunca substituir suspeitas não confirmadas por dúvidas sugeridas”. É desta forma que o CEO do Novo Banco fala sobre o resultado final da comissão, num artigo de opinião publicado no DN, considerando que no Parlamento foram criados “fatos e verdades alternativas”, ao “cair do pano sem contraditório nem fundamento”.

António Ramalho garantiu ainda que a instituição financeira remeteu “mais de um milhão de páginas, dezenas de milhares de documentos que serviram para alguns deputados brilharem com mais informação do que alguma vez tinham tido em processos anteriores”, apontando o dedo à conclusão do relatório: “Não estávamos preparados para, no cair do pano, sem contraditório nem fundamento, se criarem factos e verdades alternativas. Julgávamos que o relatório final de uma comissão de inquérito era escrito com critério, e não um jogo de votos onde cada um busca o seu momento de glória”. 

Também este fim de semana, na edição do Nascer do SOL, a deputada centrista lamentou o trabalho final do Parlamento ao considerar que o problema do relatório foi ter nascido de uma maneira enviesada logo no princípio. “O relatório inicial parecia mais uma narrativa do Governo ou um ajuste de contas entre governadores e Governos do que propriamente um documento de uma comissão de inquérito. Isso condicionou toda a discussão que se fez a seguir”, disse Cecília Meireles.

E foi mais longe: “É uma narrativa e aquela é a versão do Governo. O que aconteceu? Criou-se uma série de maiorias pontuais e no final o relatório apresenta várias conclusões, não sei se alguém se revê em todas elas. Deixei claro que percebo a vontade de viabilizar o relatório e isso era importante, mas não consigo votar favoravelmente um documento que tem uma conclusão que é pura e simplesmente mentirosa”, disse em entrevista.

Recorde-se que o relatório final da Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução – após dois dias de votações da versão preliminar e das várias dezenas de propostas de alteração – foi aprovado com os votos a favor dos deputados do PSD, BE, PCP, PAN e IL, a abstenção do CDS-PP e o voto contra do PS.

A votação final seguiu-se à renúncia, por parte, do deputado do PS Fernando Anastácio à função de relator por não se rever no documento final, resultado da votação de várias dezenas de propostas de alteração apresentadas pelos partidos.

O documento final aponta responsabilidades ao Governo de Pedro Passos Coelho no processo de resolução do Banco Espírito Santo (BES) e ao atual Governo liderado por António Costa, na forma como foi efetuada a venda do Novo Banco à Lone Star, deixando ainda críticas ao Banco de Portugal e à Comissão Europeia.