Castelo Branco. Ex-presidente avança como independente e ameaça tirar câmara ao PS

Castelo Branco. Ex-presidente avança como independente e ameaça tirar câmara ao PS


Antigo autarca socialista, absolvido de um crime de prevaricação, avança com uma candidatura independente.


Há mais um candidato na corrida autárquica à Câmara de Castelo Branco, e é um nome bem conhecido no concelho: Luís Correia. Ex-presidente da Câmara, eleito em 2013 e 2017 pelas cores do Partido Socialista, Correia vai agora lançar-se novamente na corrida, mas desta vez sem o apoio do PS. Em causa está o facto de ter sido alvo de remoção de mandato por ordem judicial, após ter sido acusado de um crime de prevaricação com mais dois arguidos, um deles seu pai. Acusação esta da qual acabaria absolvido, mas que pretendia a condenação dos arguidos e a perda de mandato efetivo sem suspensão do antigo presidente de câmara.

“Apresento-me como candidato independente. Não é uma candidatura contra alguém. É uma candidatura de albicastrenses, pelos albicastrenses, ao lado dos albicastrenses. Por isso, encabeçarei uma lista aberta, que conta com todos”, anunciou o candidato em comunicado enviado às redações.

A notícia surge como um golpe para as estruturas locais do  PS, que perdem assim o candidato com o qual conquistaram a autarquia em 2013 e 2017, e apostam em lançar Leopoldo Rodrigues à corrida eleitoral. Ao que o i conseguiu apurar, Luís Correia terá o apoio de quase todos os presidentes das Juntas de Freguesia do concelho, exceto, naturalmente, do próprio Leopoldo Rodrigues, presidente da Junta de Freguesia de Castelo Branco.

A perda de mandato foi o mote para o Partido Socialista tentar impedir uma nova candidatura de Correia à autarquia de Castelo Branco, já que a estrutura política decidiu, a nível nacional, não concorrer com candidatos “que tivessem perdido o mandato por decisão judicial, por actos praticados no exercício de funções […]”, como pode ler-se em comunicado publicado pelo partido. “Como partido responsável não deixaremos que qualquer situação de interesse individual traga descrédito e desprestígio a Castelo Branco”, acrescentam as estruturas locais. Como tal, os socialistas nomearam para a corrida eleitoral Leopoldo Rodrigues, presidente da Junta de Freguesia de Castelo Branco, “convictos de que irão alcançar a vitória naquele que será o melhor projecto político para o futuro do concelho de Castelo Branco”, como se lê ainda no comunicado.

Entretanto, Luís Correia desfiliou-se do PS, e vai mesmo avançar com a candidatura independente, cerca de um ano depois de o Tribunal Fiscal e Administrativo de Castelo Branco se ter pronunciado pela sua perda de mandato, numa decisão que acabaria confirmada pelo Tribunal Central e Administrativo do Sul e pelo Supremo Tribunal Administrativo. Em suma, o autarca foi acusado em três decisões condenatórias, e acabou por ver o seu pedido de recurso negado pelo Tribunal Constitucional, tendo reagido à situação, através de comunicado, citado pela Lusa, defendendo que achar que “ver um erro administrativo punido como se de um crime grave ou gravoso se tivesse tratado é lamentável e injusto”. “Reafirmo que nunca, em qualquer momento, prejudiquei Castelo Branco, a autarquia ou os albicastrenses”, contestou ainda o autarca.

O Ministério Público, entretanto, acusou também Luís Correia de um crime de prevaricação, por “contratação e aquisição de serviços por parte do município” a empresas com as quais tinha laços familiares. A Strualbi, Estruturas de Alumínio, Lda, é uma empresa gerida, em sociedade, por Alfredo da Silva Correia, pai do presidente da Câmara, e Eugénio Mateus Martins Camelo, os outros dois arguidos na acusação do MP, que afirma que foram celebrados vários contratos e ajustes diretos entre esta empresa e a Câmara Municipal de Castelo Branco, enquanto Luís Correia ocupava o cargo máximo no Executivo. Uma acusação, no entanto, da qual Correia foi absolvido, permitindo-lhe, legalmente, candidatar-se nestas eleições autárquicas.

 

Uns podem, outros não

Se o Partido Socialista decidiu afastar Luís Correia das suas listas devido aos seus atritos com a justiça, o mesmo tratamento, apesar de ser garantido pela estrutura nacional do partido, não parece ser igual para todos os autarcas socialistas. Na Trofa, José Joaquim Ferreira, presidente da Junta de Freguesia de São Mamede do Coronado desde 2009, esteve envolvido num polémico processo orientado pelo Ministério Público, através do DIAP de Santo Tirso, que acusou, em 2016, o presidente da Junta de Freguesia dos crimes de participação económica em negócio, abuso de poder e falsificação de documento agravado, durante o mandato entre 2009 e 2013.

Acontece que José Joaquim Ferreira mantém-se nas listas socialistas para as eleições autárquicas de 2021, no concelho, apesar do seu envolvimento como arguido neste processo judicial.