A pandemia empurrou-nos a todos para casa, fechou estabelecimentos e obrigou a uma alteração drástica nos hábitos de consumo. De repente deixámos de poder frequentar restaurantes, comprar roupas e muitos outros produtos a que estávamos habituados. Isso fez com que aquilo que seria um processo de construção e transição natural de alguns formatos físicos para o digital registasse uma aceleração drástica, em muitos dos casos pouco segura e ordenada. As pessoas e as empresas não tiveram tempo para se adaptar e rapidamente procuraram alternativas na internet que lhes conseguisse suprir as necessidades. Muitos de nós, com conhecimentos básicos ou em alguns casos nulos, à mercê de burlas e fraudes.
Como em tudo na vida estas necessidades transformaram-se em oportunidades para burlões e hackers. O mundo não estava preparado para depender tanto de tecnologia nem sequer a segurança na rede está avançada ao ponto de nos defender dos constantes perigos que aparecem. A iliteracia digital, sobretudo nos mais velhos, coloca-os numa posição de fragilidade que tem resultado em diversos dissabores e em cada vez mais queixas que só não atinge proporções ainda maiores porque parte das pessoas tem vergonha de assumir que foi enganada e acabam por aceitar a perda em silêncio.
O caso do MBWay é paradigmático disso mesmo. Centenas ou milhares de pessoas em plataformas de compra e venda livres e sem qualquer tipo de controlo como o OLX são induzidas a fornecer os seus dados a desconhecidos que depois acabam por ter acesso às suas contas bancárias com o objetivo de roubar em vez de estarem a pagar determinado produto. Mas não se fica por aqui.
Muitos são os que caem também nas “ciberburlas românticas”. Pessoas solitárias (na sua maioria mulheres) deixam-se levar por supostas paixões que mais não são do que esquemas sofisticados enfeitados por juras de amor, fotografias de gente mais nova e esbelta ou perfis falsos que prometem relacionamentos sérios, em inglês designados por “Catfish”.
Também sites supostamente fidedignos que se promovem nas redes sociais e que vendem artigos de marcas caras a preços muito mais baratos que após a transferência do dinheiro deixam de responder e desaparecem, linhas de crédito que prometem mundos e fundos sem necessidade de qualquer tipo de garantia, casas de férias com falsos proprietários para arrendamento ou golpes mais simples em que nos desaparecem com a comida encomendada numa plataforma de entrega de refeições. Há de tudo um pouco. Quem nunca recebeu um email de um suposto príncipe asiático ou de uma filantropa sul africana que se encontra às portas da morte e precisa de nós para gerir a sua fortuna em troca de uma pequena quantia de dinheiro para desmontar a burocracia?
A verdade é que este confinamento coercivo tornou-nos excessivamente dependentes das novas tecnologias. Não estávamos nem estamos preparados para lidar com toda a complexidade que nos é colocada à disposição pela internet e que pode ser boa ou má dependente do uso que lhe damos. Nunca é por isso demais alertar as pessoas para os cuidados a ter, com os dados pessoais, bancários ou de identidade. É preciso ter muita atenção ao que se faz, como se faz e com quem.
Para isso é sempre bom perceber até que ponto são confiáveis e em caso de dúvida não arriscar ou pedir ajuda a alguém de confiança que perceba. Aliás, numa altura em que tudo se faz numa esfera digital talvez fosse bom pensar num programa televisivo de serviço público, dirigido pela Polícia Judiciária e que desmistificasse certo tipo de práticas, chamando à atenção para burlas e fraudes recorrentes, promovendo um pouco de literacia digital e expondo os usurpadores que se escondem na internet.