Praxe racista. “Não podemos diabolizar os estudantes”

Praxe racista. “Não podemos diabolizar os estudantes”


“Os estudantes são sujeitos que estão em construção”, referiu o reitor da Universidade do Minho. Foi aberto um processo de inquérito e apreendidos 360 quilos de enchidos, no valor de 6120 euros.


Rui Vieira de Castro, reitor da Universidade do Minho, afirmou, numa audição por videoconferência, na Comissão de Educação, Ciência, Juventude e Desporto, que, mais do que a punição, o foco deve ser a educação “superior e integral” dos estudantes. É de referir que a audição do reitor foi requerida pelo Bloco de Esquerda.

“Naturalmente que em algum momento vai ter de haver uma intervenção, quando ela se justificar, de natureza sancionatória, mas nós não podemos, a este propósito, diabolizar os estudantes. Os estudantes são sujeitos que estão em construção e cabe à universidade apoiar essa construção pessoal, dotando-os dos instrumentos adequados”, referiu o dirigente.

Recorde-se que, em dezembro, um vídeo de uma praxe dos alunos do curso de Biologia e Geologia da Universidade do Minho tornou-se viral e fez correr muita tinta. Em causa estava o facto de os jovens terem a cara e o corpo pintados de preto, enquanto cantavam “somos conhecidos por canibais”.

Depois de terem sido tecidas várias críticas nas redes sociais, onde muitos apelidaram a atitude dos jovens de racista e discriminatória, a reitoria da Universidade do Minho mostrou o seu “profundo desagrado” com a situação e condenou a atitude dos alunos. “Os tempos de distanciamento físico não podem significar que os estudantes se distanciem dos valores, princípios e missão da Universidade do Minho”, defendeu a instituição, que disse que acionaria os seus mecanismos internos para averiguar os responsáveis pela situação.

No entanto, esta terça-feira, Vieira de Castro avançou que ainda se encontra em curso o processo interno aberto na sequência da praxe de contornos racistas. Por outro lado, garantiu que, para situações como esta, a instituição de ensino tem estruturas próprias “que permitem uma intervenção corretiva ou pedagógica”, como o conselho de ética e o provedor do estudante. “É claro que os instrumentos e regulamentos que temos são suficientes”, disse, lembrando que as praxes nos campi da universidade estão “expressamente proibidas” desde outubro de 2011.

Na audição participaram deputados do Bloco de Esquerda, PS, PSD, CDS, PCP e PAN, que foram unânimes no repúdio pela praxe levada a cabo pelos estudantes e questionaram o reitor sobre as medidas adotadas ou a adotar para evitar que ocorrências idênticas se repitam e sobre as consequências que advirão para os autores.