EUA. Incerteza quanto ao estado do Presidente

EUA. Incerteza quanto ao estado do Presidente


A Casa Branca tem enviado sinais contraditórios, no meio de uma campanha em que o estado de saúde de Trump poderá ser chave.


Com Donald Trump entre os 7,6 milhões de casos de covid-19 nos Estados Unidos, o país observa atentamente, confuso pelos sinais vindos da Casa Branca. Por um lado, tivemos o Presidente a publicar um vídeo no sábado, sorridente, a expressar confiança na sua rápida recuperação. Horas depois, o seu chefe do staff, Mark Meadows, avisava que “os sinais vitais do Presidente nas últimas 24 horas foram muito preocupantes e as próximas 48 horas serão críticas”, pedindo anonimato – algo quebrado pelo fato de ter sido filmado a falar com os jornalistas.

Entretanto, Trump está a receber o melhor dos cuidados, na suíte presidencial do hospital militar Walter Reed, com acesso ao antiviral Remivir, que diminuí a probabilidade de complicações da covid-19, bem como o cocktail de anticorpos experimental regeneron. Já as ruas em redor do hospital têm estado recheadas de apoiantes, com bandeiras e os típicos chapéus vermelhos a dizer “Make America Great Again”.

É que por mais que o Presidente esteja hospitalizado, a campanha continua. Os seus apoiantes pintam a imagem de um Presidente lutador, resiliente contra a covid-19; os seus oponentes falam em negligência e descuidado com o vírus. Muito depende de quão doente Trump ficar – talvez venha daí a parcimónia da Casa Branca quanto ao estado do Presidente.

“Se ele conseguir ultrapassar isto num período relativamente curto de tempo, então apenas reforça a sua imagem. A covid pode ter derrubado 200 mil americanos, mas não foi forte o suficiente para derrubar Donald J. Trump”, lembrou Joe Brettell, um assessor de imprensa que costuma trabalhar para os republicanos, à Time.

“Creio que poderia haver uma maior oportunidade de ‘reagrupar à volta da bandeira’ se fosse uma bandeira que ele honrou, mas o facto de que ele negligenciou a crise é um problema fundamental para ele”, contrapôs, o estrategista democrata David Axelrod, à revista norte-americana. “E a sua doença é emblemática dessa negligência”.

 

Origem do surto Em retrospetiva, cada vez mais olhos se viram para o anuncio da candidatura da conservadora Amy Coney Barrett ao Supremo Tribunal, no sábado, que se pensa ter sido a origem do surto de no círculo próximo de Trump. As imagens mostram uma dezenas de altos dignitários na audiência, sem máscara, vários dos quais viriam a dar positivo à covid-19 nos dias seguintes.

Entre os infetados já estão pelo menos três senadores republicanos, levando à suspensão dos trabalhos do Senado e pondo a polémica confirmação de Barrett em risco. Ainda assim, o líder do Senado, o republicano Mitch McConnell, manteve a audiência de confirmação de Barrett. Ao passá-la para depois das eleições arriscava que Trump perdesse as eleições – ainda poderia nomear Barrett como Presidente cessante, mas perderia legitimidade e talvez o apoio de alguns senadores.