Nunca ninguém o esqueceu, nunca ninguém o esquecerá. Rodolfo Valentino, digo. Ou melhor: Rodolfo Alfonso Raffaello Pierre Filibert Guglielmi di Valentina D’Antonguolla, nascido em Castellaneta, na Apúlia, Itália, no dia 6 de maio de 1865. Em 1971, 24 e 25 de agosto, os dias seguintes ao da sua morte (em 1926), a maior multidão que se juntou depois do fim da II Guerra Mundial invadiu o Memorial Cemetery de Hollywood para recordar o maior galã do cinema mudo. Só faltou a Dama de Negro, essa figura etérea, meio fantasmagórica, que durante anos a fio foi vista junto à sua sepultura, depositando rosas vermelhas sobre a lápide do seu túmulo.
Nos Estados Unidos, todos pareciam de acordo: estávamos perante o renascimento do culto de Valentino, o homem que fizera suspirar de amor todas as mulheres. Um homem com a cara pintada de branco destacava-se por entre os demais. Ergueu a voz sobre a multidão e assinalou que era o representante máximo daFundação para a Preservação da Memória de Valentino, uma organização da qual não havia quem tivesse ouvido falar. Vinha acompanhado por uma misteriosa mulher de mantilha preta. Também ela falou: simbolizava a degradação do fim do romance de amor no cinema.
Mary McLaren, uma das colegas de Valentino que repartiu a tela com ele, iniciou um discurso fúnebre. As lágrimas e os soluços impediram-na de o concluir. Desfeita num choro pungente, depositou no mausoléu um grande molho de cravos e rosas vermelhas. Fez-se, de súbito, um silêncio pesado.
Rodolfo Valentino viveu depressa, morreu cedo, foi um cadáver bonito. Com apenas 31 anos, sofreu um colapso no Hotel Ambassador, em Nova Iorque. Foi de imediato levado ao hospital, onde lhe diagnosticaram uma úlcera perfurada. A cirurgia correu bem mas, logo de seguida, uma peritonite condenou-o à morte. Mais de cem mil pessoas saíram para as ruas de Nova Iorque lamentando o desaparecimento do ator. A sua fama era monstruosa. O cadáver foi levado de comboio através dos Estados Unidos até ao local onde a sua alma foi encomendada por um presbítero, na Igreja Católica do Bom Pastor, em Beverly Hills.
Quarenta e cinco anos após a sua morte, os seus apaniguados teimavam em não o esquecer. A multidão que nesses dias acorreu a visitar a sua tumba trazia flores e lágrimas nos olhos. Era como se fosse um novo adeus. Um adeus que ninguém queria definitivo.
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