A solução mais simples para promover a estabilidade é apostar num sistema eleitoral que garanta maiorias parlamentares. Não temos de recorrer ao sistema eleitoral britânico (maioritário a uma volta), sistema que chega a deitar para o caixote do lixo mais de 30% dos votos (e assim garantindo que o Reform UK de Nigel Farage não tem mais do que 5 Deputados em Westminster).
Em Portugal a Constituição manda aplicar, na conversão dos votos em mandatos à Assembleia da República, o método de Hondt, o que garante uma razoável proporcionalidade, assegurando um saudável pluralismo partidário. No entanto, a combinação do método de Hondt com a base distrital dos círculos eleitorais e com a crescente desertificação demográfica do interior do país faz com que os pequenos e médios partidos não consigam eleger Deputados nos círculos mais pequenos (os que elegem 2, 3 ou mesmo 5 Deputados).
O reforço da governabilidade pode ser obtido reduzindo o grau de proporcionalidade, estabelecendo cláusulas barreira (como na Alemanha em que os partidos têm de obter 5% do voto nacional), não estabelecendo círculos uninominais (como continua a acontecer em Portugal) ou dando um prémio de maioria ao partido ou coligação mais votados (como acontece na Grécia e em Itália).
Na ausência de uma revisão constitucional que acabe com o método proporcional ou o mitigue, a estabilidade do Governo depende da vontade dos diversos partidos com representação parlamentar.
Quando comparamos o funcionamento dos sistemas de governo que se cruzam com sistemas eleitorais proporcionais, constatamos uma tendência para a formação de consensos no norte e centro da Europa (com destaque para a RFA), com coligações alargadas e governos estáveis e, em contraponto e no Sul da Europa, uma aposta na luta política em detrimento da estabilidade governamental (o exemplo clássico vinha de Itália, embora em anos recentes o principal ocupante do Palazzo Chigi tenha nele permanecido por temporadas longas).
A luta partidária tende a ser suspensa perante situações graves, desde logo o estado de guerra, com o aparecimento de governos de salvação nacional, onde se sentam os principais partidos.
Em Portugal a associação entre os dois maiores partidos, por rara, não merece, como na Alemanha, a denominação neutra de “grande coligação”. O “bloco central” ganhou, na praxis das lideranças do PS e do PSD, uma carga negativa e não é, como não foi nas últimas campanhas eleitorais, apontado como uma solução desejável. Nas próximas eleições só um dos líderes dos dois maiores partidos políticos sobreviverá ao voto. A substituição de Montenegro não se fará por um adepto do bloco central, disponível para ser Vice-Primeiro Ministro de Pedro Nuno Santos.
Sendo provável que das próximas eleições, mesmo com o PS como vencedor, não saia uma maioria de esquerda, serão muitos os que no PSD começarão a achar boa ideia um Governo de coligação com o Chega. Dentro de um ano estaremos, novamente, a discutir o porquê da instabilidade, desta vez intestina, de um Governo de coligação PSD-Chega. E não é certo que a queda do XXV Governo constitucional venha a dar origem, em 2026, a uma maioria parlamentar do PSD.
No actual contexto político também não será o Presidente da República a conseguir escolher o futuro líder do PSD ou a promover um bloco central do século XXI.