Timor-Leste. Xanana prestes a tornar-se novamente primeiro-ministro

Timor-Leste. Xanana prestes a tornar-se novamente primeiro-ministro


Xanana Gusmão foi o primeiro Presidente de Timor-Leste e primeiro-ministro entre 2007 e 2015.


Numa tentativa de desbloquear o impasse político que se vive em Timor-Leste, o herói da independência, Xanana Gusmão, pode ser indigitado como primeiro-ministro e liderar um Governo de coligação de maioria parlamentar com seis partidos, confirmada esta terça-feira depois de uma carta enviada ao Presidente. A maioria é formada por 34 lugares em 65.

As seis formações que renovam a coligação – CNRT, PD, KHUNTO, FM, UDT e PUDD – reuniram-se no último fim de semana para discutir o novo Governo, finalizando o processo com a missiva enviada ao Presidente de Timor-Leste, Francisco Guterres, esta terça-feira.

“A carta informa o senhor Presidente que foram realizadas as conferências dos partidos de coligação que a confirmam e na qual apresentamos também a indigitação do primeiro-ministro”, disse António Conceição, porta-voz da coligação e secretário-geral do Partido Democrático, uma das seis formações que vão apoiar o Executivo de Xanana Gusmão, citado pela Lusa.

 “Esta coligação deve oferecer uma alternativa para acabar com o impasse político”, declarou Conceição aos repórteres, desta vez citado pela Reuters. Apesar de Xanana ter começado a mobilizar-se para formar um novo Governo há algumas semanas, o Presidente rejeitou alguns ministros propostos por este, sob acusações de corrupção.

A decisão de indigitar o herói da independência cabe agora a Guterres: ou seja, se esta nova coligação satisfaz os requisitos políticos e jurídicos, com o líder do Partido Democrático a antever que o Presidente quererá falar sobre a configuração do Governo: “Solicitamos também um novo encontro com o Presidente da República. Vamos aguardar da parte do protocolo para saber quando será esse encontro”.

A mais nova democracia asiática vive uma longa crise política. Com o repetido chumbo do Orçamento do Estado de 2020 em janeiro, e após o Congresso Nacional da Reconstrução Timorense, de Xanana, ter retirado o seu apoio, a coligação que sustentava o Executivo de Taur Matan Ruak desmoronou-se. Ruak, cujo nome de nascença é José Maria Vasconcelos, acabou por deixar o cargo no final de fevereiro e o seu partido, a Fretilin, não irá integrar esta nova coligação parlamentar – das formações que apoiaram o último Governo, é a única a ficar de fora.

Xanana Gusmão esteve na frente de combate contra a ocupação indonésia, após a anexação do território em 1975, depois de séculos de domínio colonial português, e esteve preso em Jacarta, capital da Indonésia, durante a ditadura de Suharto. Nos 24 anos de ocupação, 100 mil pessoas foram mortas. No referendo de 1999, os timorenses votaram esmagadoramente a favor da independência e Timor-Leste tornou-se o primeiro novo Estado soberano do novo milénio.

Com uma população de 1,3 milhões, Timor-Leste é um dos países mais pobres do mundo. Apesar das vastas reservas de petróleo, o país reduziu muito pouco a taxa de pobreza: em 2007, 50% dos timorenses viviam na pobreza; em 2014 esse número era de 42%, de acordo com os dados do Banco Mundial.