Kino. Pianos, violinos e a complexidade das relações entre pais e filhos

Kino. Pianos, violinos e a complexidade das relações entre pais e filhos


Com Lara, de Jan-Ole Gerster, arrancou hoje em Lisboa a 17.ª Kino – Mostra de Cinema de Expressão Alemã. Ulrich Köhler é o realizador em foco.


Maren Ade, Christian Petzold, Angela Schanelec, Valeska Grisebach. A este grupo de realizadores chegados na década de 1990 para renovar o cinema alemão – a chamada Escola de Berlim – pertence também Ulrich Köhler, que estreou na última edição do Festival de Cinema de Locarno o seu último filme – Das Freiwillige Jahr –, que chega agora a Lisboa, em estreia nacional. De regresso à capital, entre o Cinema São Jorge e o Goethe-Institut, está a Kino – Mostra de Cinema de Expressão Alemã, que arrancou hoje para uma 17.a edição com Ulrich Köhler como cineasta em foco.

Das Freiwillige Jahr (O Ano de Voluntariado, em português), um filme com correalização de Henner Winckler que chega às salas alemãs no próximo dia 6, desenrola-se em torno da tensão entre um pai e uma filha e será o ponto de partilha para a retrospetiva que a Kino dedica a Köhler, um cineasta cujas personagens nos chegam “frequentemente desprovidas de propósito” à procura de “um lugar no mundo” e, ao mesmo tempo, de “romper com o quotidiano ordenado de uma sociedade capitalista que, meio século após o fim da ii Guerra Mundial, parece satisfeita com o seu conforto”. Isto apesar de o próprio ter vindo a procurar distanciar-se da ideia de cinema político, como sublinham os curadores da Kino: “É na rejeição daquilo que pode ser aproveitado politicamente que ele vê o caráter político do seu cinema”. De Köhler são exibidos Bungalow (2002), As Janelas Chegam na Segunda-feira (2006), A Doença do Sono (em 2011, Urso de Prata de Melhor Realização no Festival de Cinema de Berlim) e In My Room (2018).

Em tensões familiares – aí entre mãe e filho – assenta também o filme de abertura desta edição da mostra de cinema em língua alemã: Lara (hoje, às 21h30, no Cinema São Jorge), de Jan-Ole Gerster, que estará presente na sessão – um filme sobre a rivalidade que Lara (Corinna Harfouch) desenvolve com o seu filho (Tom Schilling), com o concerto que ele dá no dia em que a mãe comemora 60 anos como momento central.

A cargo de Corinna Lawrenz, responsável pela programação de cinema do Goethe-Institut de Lisboa, e do curador e crítico Carlos Nogueira, a programação desta edição (que além do foco em Ulrich Köhler se estende pelas secções Visões e Perspetivas) procura dar a conhecer várias das produções alemãs, austríacas, suíças e luxemburguesas que mais marcaram o último ano – numa busca não só por “acompanhar o desenvolvimento das mais recentes tendências cinematográficas” como por, ao mesmo tempo, se afirmar como “um olhar crítico sobre as questões sociais e políticas atuais”.

Com uma programação a abranger títulos que vão das “novidades mais aguardadas” do cinema em alemão a títulos a navegarem por águas mais experimentais, há na programação da 17.a Kino também espaço para descobertas, com a exibição de oito primeiras obras de longa-metragem. Das Vorspiel (A Audição), de Ina Weisse, o filme de encerramento (5 de fevereiro, às 21h, no Cinema São Jorge), leva-nos de volta para um universo semelhante ao de Lara, com a história de uma professora de violino numa escola secundária de ensino artístico que quase desiste de si para se dedicar a um aluno que julga especial.