A jornada 10 da liga reservava vários motivos de interesse, mas o maior talvez se situasse mesmo na partida que abria a ronda. Três dias depois de garantir a liderança isolada do campeonato, beneficiando do tropeção do FC Porto no sempre difícil terreno do Marítimo, o Benfica só dependia de si para assegurar que, acontecesse o que acontecesse nos jogos dos rivais, iria continuar na frente: bastava para isso vencer na receção ao Rio Ave.
Um embate curioso, desde logo por permitir o reencontro de Bruno Lage, técnico das águias, com Carlos Carvalhal, de quem foi adjunto durante várias temporadas em Inglaterra, mas também com o seu irmão, Luís Nascimento, que agora desempenha precisamente esse papel nos vila-condenses. A partir daí, as emoções foram postas de lado e a racionalidade tomou conta das operações: o Rio Ave tentou, fez o seu papel, mas o Benfica foi (é) mais forte e acabou por conseguir atingir o objetivo inicial, vencendo por 2-0.
No dia em que fazia o jogo 100 com a camisola da equipa principal do Benfica, Rúben Dias festejou também o décimo tento pelos encarnados – segundo esta temporada, e consecutivo, depois de já ter faturado igualmente no jogo de quarta-feira com o Portimonense. O golo do central, apontado aos 31 minutos na sequência de um canto marcado por Pizzi, acalmou as hostes encarnadas – apesar do remate de Nuno Santos (também ele um antigo campeão pelo Benfica) ao poste esquerdo da baliza à guarda de Vlachodimos em cima do intervalo.
Porventura espicaçados por esse lance, os campeões nacionais entraram de rompante no segundo tempo e selaram as contas volvidos apenas seis minutos: Cervi foi à linha e cruzou atrasado para a conclusão certeira de Pizzi, tantas vezes mal-amado por alguns setores da Luz, mas quase sempre decisivo. Seguiram-se vários lances em que o terceiro tento ficou muito perto de chegar, mas o resultado não viria a sofrer mais alterações: apesar de um período de menor fulgor em que a vitória foi mesmo o que de melhor se retirou em vários dos jogos efetuados, as águias seguem no topo e com o melhor ataque (23 golos marcados) e a melhor defesa (apenas três golos sofridos). Melhor seria quase impossível…
Bom prenúncio
Chegamos à décima jornada da liga e as contas não são difíceis de fazer: o Benfica lidera com 27 pontos, fruto de nove triunfos e apenas um desaire, sofrido logo na ronda 3 em pleno Estádio da Luz, diante do rival FC Porto. Números que impressionam e que lançam duas interrogações para o ar: há quanto tempo não acontecia tal cenário e se a liderança nesta fase da prova terá algum significado concreto em relação ao seu desfecho.
Pois bem: tomando em consideração as últimas 19 temporadas (todas as disputadas no séc. xxi), podemos constatar que apenas em três ocasiões houve uma equipa a fazer melhor que o atual Benfica de Bruno Lage – curiosamente, foi sempre o FC Porto. Aconteceu em 2003/04, no segundo ano de José Mourinho ao comando dos dragões; em 2010/11, na gloriosa temporada de André Villas-Boas; e em 2017/18, primeira época de Sérgio Conceição naquele posto: todos eles conseguiram chegar ao décimo jogo do campeonato com 28 pontos, fruto de nove vitórias e apenas um empate. E sim: nessas três ocasiões, a equipa em questão viria a festejar a conquista do título no fim da temporada.
Desde a época 2000/01 foram 11 as vezes em que o líder à décima jornada manteve essa posição no fim da prova – curiosamente, e apesar de ter conquistado sete títulos nesse período, só em três dessas temporadas o Benfica liderava por esta altura (2009/10, com 25 pontos e ex aequo com o Braga; 2014/15, também com 25 pontos; e 2016/17, com 26). O FC Porto é quem mais campeonatos venceu neste século (dez), mas acaba também por ser a equipa que mais vezes deixou fugir o título depois de estar no topo decorridas dez jornadas: quatro vezes – perdeu uma para o Boavista, em 2000/01, e outras três para o Benfica (2004/05, 2013/14 e 2018/19).
Nesse período, o registo pontual mais reduzido de um líder à décima jornada foi de 22 pontos e aconteceu duas vezes: em 2001/02, pelo Boavista de Jaime Pacheco (então campeão em título, mas que viria a perder o campeonato para o Sporting de Laszlo Boloni, no que é ainda hoje o último título nacional dos leões), e em 2004/05, pelo FC Porto, então treinado pelo espanhol Victor Fernández e que, mais tarde e já orientado por José Couceiro, se deixaria ultrapassar pelo Benfica de Giovanni Trapattoni na reta final.
Houve também um líder surpreendente por esta fase: o Leixões, em 2008/09. O conjunto então orientado por José Mota, que na época anterior havia sido antepenúltimo, concluiu então a décima ronda com 23 pontos, fruto de sete vitórias, dois empates e apenas uma derrota. Os bebés de Matosinhos viriam a terminar a temporada no sexto lugar, a cinco pontos das posições de acesso às competições europeias e com menos 25 pontos que o campeão FC Porto.
Um desafiador inebriante
Um trajeto que acaba por remeter para a belíssima campanha protagonizada até ao momento pelo Famalicão. O conjunto minhoto, de regresso ao principal escalão do futebol nacional após 26 anos de ausência, somava até esta jornada (a partida em Braga decorreu já após o fecho desta edição) 22 pontos em nove jogos, registando sete vitórias (uma das quais em Alvalade), um empate (no terreno do vizinho Vitória de Guimarães) e apenas uma derrota, averbada há uma semana no Estádio do Dragão – e que o levou a cair da liderança que ocupara até então.
Registo incrível para os homens orientados por João Pedro Sousa, que aos 48 anos se estreia como treinador principal, depois de várias temporadas integrado na equipa técnica de Marco Silva, e que vai potenciando talentos como o central Nehuén Pérez, cedido pelo Atlético de Madrid e que ainda esta semana foi convocado para a seleção principal da Argentina, ele que tem apenas 19 anos; mas também os jovens médios portugueses Guga Rodrigues (22 anos), Pedro Gonçalves (21 anos), Rúben Lameiras (24 anos) ou o luso-brasileiro Gustavo Assunção (19 anos), filho do antigo médio do FC Porto Paulo Assunção, bem como os atacantes Fábio Martins ou Anderson, verdadeira arma secreta desta equipa: soma seis golos em dez jogos, todos apontados enquanto suplente utilizado.