Cumulonimbus


Se olharmos para um cumulonimbus, para o desenho em si, parece uma coisa gigante e fofa, dá vontade de a agarrar e sacudir, situação que, no entanto, se desaconselha veementemente, imagino que saibam porquê.


Há fins de semana que parecem um cumulonimbus.

Escrevo-vos sábado de manhã, antes ainda de saber se Miguel irá correr esta noite, falta perceber se as mãos inchadas e amassadas irão estar funcionais para quase uma hora de trabalho árduo e cirúrgico.

O início do fim de semana na terra dos cangurus começou logo com notícia de nos pôr aos saltos como o bicho local: a KTM, fábrica-mãe da Tech3 adoptada, fazia saber ao mundo e às gentes que o lugar deixado vazio por um francês de pouca saudade seria ocupado pelo sul-africano Brad Binder.

Em termos práticos, sejamos sinceros, haja mota igual para mãe e filha e o sul-africano deverá passar muito mas muito tempo da temporada que vem a memorizar a traseira de Oliveira. O que azedou a receita, e aqui jogam-se estratégias de um lado e de outro, sabendo que o ano de 2021 trará uma dança de cadeiras possivelmente bastante animada, foi o modo pouco claro como os austríacos parecem ter conduzido a tormenta, levando a que Miguel, educadamente e com respeito, confessasse desilusão, entrega à causa e, não custa decifrar… disponibilidade para outros patrões num futuro próximo.

Passado que estava esse início portador de aborrecimentos inesperados e desnecessários, vieram os treinos, a chuva e um P9 prometedor de acalmia.

Quase esquecidas as agruras iniciais, chega a FP2 e, com ela, a desilusão de ver novamente a marca laranja convivendo em despiques nos fundos do pelotão.

Andando nós nisto do esquece-não-esquece, para a frente é que é caminho, andando o Miguel a cutucar os primeiros lugares na FP4, eis senão quando chega sem aviso uma daquelas rajadas que não lembram ao capeta, atirando a mota de Miguel para a relva, não sendo precisas aturadas equações para imaginar que, a 300 quilómetros por hora e sem aderência, o que viria a seguir seria cenário de preocupantes consequências.

A corrida passa a ser uma incógnita, depende agora de eventual autorização médica.

Interrompo agora a escrita, baloiçando por entre a gratidão de saber que o estado do Falcão, após um “tralho a trezentos”, é satisfatório e a angústia de ter pela frente um GP às quatro da manhã sem o ver na grelha.

Retomo a escrita.

Não vi.

Nem eu nem ninguém.

Em pista, iniciadas as hostilidades, Rossi pega na batuta e vai por ali fora, será desta?… pergunta-se a gigantesca mancha amarela. Não, não será, a batuta passará de mão e Rossi irá por ali abaixo, e a mancha amarela, eternamente grata e para sempre fiel, creditar-lhe-á o aplauso que se reserva a campeões do tempo, do coração e das velocidades.

Em pista, Marc Márquez foi à cartola sacar o enésimo coelho da época, Viñales foi ao pote com demasiada sede e acabou antes do fecho da loja, as KTM e Zarco teimaram em repetir seus passos de dança nas traseiras da coreografia, Quartararo, com mais azar do que Miguel, amparou um Petrucci voador bem identificado, a cortina descendo para ambos quando alguns ainda se sentavam em seus lugares na bancada.

Virei do avesso a questão cumulonímbica, passei a ver a questão sob o prisma da frieza analítica, retirando ao fim de semana o que de bom ele tinha para nos dar.

O Falcão sai relativamente bem de uma queda de horror.

Do diálogo, que faz nascer a luz, Miguel e KTM terão de perceber por ora as vantagens mútuas desta relação.

O mercado percebeu a coisa.

Se havia GP onde a mancha laranja-azul se veria grega era na Austrália.

Faltam duas corridas, é hora de descanso, esperança e trabalho.

Após Valência, uma pausa física e outra mental terão de preparar um Oliveira para o ano do verdadeiro tira-teimas.

O mesmo com o público, igual com a comunicação social. Está na hora de não esconder a cara. Mãos à obra que o comboio, ao contrário do carteiro, nem sempre passa duas vezes!


Cumulonimbus


Se olharmos para um cumulonimbus, para o desenho em si, parece uma coisa gigante e fofa, dá vontade de a agarrar e sacudir, situação que, no entanto, se desaconselha veementemente, imagino que saibam porquê.


Há fins de semana que parecem um cumulonimbus.

Escrevo-vos sábado de manhã, antes ainda de saber se Miguel irá correr esta noite, falta perceber se as mãos inchadas e amassadas irão estar funcionais para quase uma hora de trabalho árduo e cirúrgico.

O início do fim de semana na terra dos cangurus começou logo com notícia de nos pôr aos saltos como o bicho local: a KTM, fábrica-mãe da Tech3 adoptada, fazia saber ao mundo e às gentes que o lugar deixado vazio por um francês de pouca saudade seria ocupado pelo sul-africano Brad Binder.

Em termos práticos, sejamos sinceros, haja mota igual para mãe e filha e o sul-africano deverá passar muito mas muito tempo da temporada que vem a memorizar a traseira de Oliveira. O que azedou a receita, e aqui jogam-se estratégias de um lado e de outro, sabendo que o ano de 2021 trará uma dança de cadeiras possivelmente bastante animada, foi o modo pouco claro como os austríacos parecem ter conduzido a tormenta, levando a que Miguel, educadamente e com respeito, confessasse desilusão, entrega à causa e, não custa decifrar… disponibilidade para outros patrões num futuro próximo.

Passado que estava esse início portador de aborrecimentos inesperados e desnecessários, vieram os treinos, a chuva e um P9 prometedor de acalmia.

Quase esquecidas as agruras iniciais, chega a FP2 e, com ela, a desilusão de ver novamente a marca laranja convivendo em despiques nos fundos do pelotão.

Andando nós nisto do esquece-não-esquece, para a frente é que é caminho, andando o Miguel a cutucar os primeiros lugares na FP4, eis senão quando chega sem aviso uma daquelas rajadas que não lembram ao capeta, atirando a mota de Miguel para a relva, não sendo precisas aturadas equações para imaginar que, a 300 quilómetros por hora e sem aderência, o que viria a seguir seria cenário de preocupantes consequências.

A corrida passa a ser uma incógnita, depende agora de eventual autorização médica.

Interrompo agora a escrita, baloiçando por entre a gratidão de saber que o estado do Falcão, após um “tralho a trezentos”, é satisfatório e a angústia de ter pela frente um GP às quatro da manhã sem o ver na grelha.

Retomo a escrita.

Não vi.

Nem eu nem ninguém.

Em pista, iniciadas as hostilidades, Rossi pega na batuta e vai por ali fora, será desta?… pergunta-se a gigantesca mancha amarela. Não, não será, a batuta passará de mão e Rossi irá por ali abaixo, e a mancha amarela, eternamente grata e para sempre fiel, creditar-lhe-á o aplauso que se reserva a campeões do tempo, do coração e das velocidades.

Em pista, Marc Márquez foi à cartola sacar o enésimo coelho da época, Viñales foi ao pote com demasiada sede e acabou antes do fecho da loja, as KTM e Zarco teimaram em repetir seus passos de dança nas traseiras da coreografia, Quartararo, com mais azar do que Miguel, amparou um Petrucci voador bem identificado, a cortina descendo para ambos quando alguns ainda se sentavam em seus lugares na bancada.

Virei do avesso a questão cumulonímbica, passei a ver a questão sob o prisma da frieza analítica, retirando ao fim de semana o que de bom ele tinha para nos dar.

O Falcão sai relativamente bem de uma queda de horror.

Do diálogo, que faz nascer a luz, Miguel e KTM terão de perceber por ora as vantagens mútuas desta relação.

O mercado percebeu a coisa.

Se havia GP onde a mancha laranja-azul se veria grega era na Austrália.

Faltam duas corridas, é hora de descanso, esperança e trabalho.

Após Valência, uma pausa física e outra mental terão de preparar um Oliveira para o ano do verdadeiro tira-teimas.

O mesmo com o público, igual com a comunicação social. Está na hora de não esconder a cara. Mãos à obra que o comboio, ao contrário do carteiro, nem sempre passa duas vezes!