The GOAT , The Ghost e o Desgosto


Desgosto é não merecer um lugar nas tertúlias onde se elegem.


Tenho amigos que por entre certezas, factos, memórias, curvas loucas, ultrapassagens alucinantes e outras descrições que tais, vão debatendo em duelos de verborreia quem é afinal The Greatest of All Times, o GOAT?

Valentino, sem a mais pequena dúvida, ouço de uns.

Marc Marquez, ponham os olhos nele, brutal, brutalíssimo, dizem outros.

Repetindo Pelé, versus Maradona, Cassius Clay ou Jack Dempsey, Senna e Schumacker, que é como quem diz Jackie Stewart ou Jacky Ickx e nisto poderíamos passar por aqui todo o dia relembrando duplas de merecida eternidade.

Voltemos a Buriram.

Marc caiu muito feio, tão feio que da sua Honda restou pouco mais que material para reciclar, foi ao hospital e regressou a tempo de qualificar na 1ª linha da grelha, ali bem ao lado de Quartararo.

Fabio, o novo fantasma de Marc.

The Ghost.

Fabio Quartararo, que pelo nome até parece italiano, mas que pelas mãozinhas vai parecendo mais um extra-terrestre, que surpresa gigante este novato, essa é que é essa, dá vontade de imaginar que bom seria ver o Falcão voando numa daquelas, saibamos esperar, saibamos acreditar, saibamos apoiar.

Valentino, o par de Marc na luta pelo título de GOAT.

Desde Giacomo Agostini que o cidadão comum que nem sabe onde fica o Autódromo do Estoril não conhecia o nome de um campeão das motas.

Valentino é cultura geral, atribuiu ao número 46 a mesma importância do número 3,14159 … que como todos sabemos é o número Pi, e quem não souber isso então também não saberá quem é Marc Marquez, tão pouco Il Dottore.

Valentino é uma gigante mancha amarela em todos os circuitos dos gloriosos malucos das motas e quem não vê isso também não entende como se curva deitado em ângulos de 60º ou mais e se salvam coisas com cotovelos e pernas a contrabalançar desequilíbrios, coisa do espanhol Marc.

Desgosto é querer tanto passar no exame, estudar e dar o litro, uma direta sustentada a cafés e força de vontade de volta dos compêndios e no dia da prova andar de esferográfica contra caneta de tinta permanente, não há caligrafia que resista, sabedoria que que se vista de garrafas de champanhe.

Miguel Oliveira cai pouco?

É porque não arrisca, dizem uns.

Miguel Oliveira caiu duas vezes?

Arriscou de mais, dizem uns que são os mesmos.

Andou lá mais para trás? Não forçou … Andou na frente e perdeu no fim …? forçou demais!!

É um desgosto.

Não entender que num País que nunca teve uma mancha amarela nas bancadas, que nunca teve bancadas sequer, onde em dia de corridas das motas se entra num estabelecimento para comer um prego e beber uma cola e todas as mesas estão vazias, com o mesmo vazio de uma TV desligada, não entender que aos patrocinadores paga mais de volta meio francês, um quarto de italiano ou um dedo de um espanhol .. porque lá eles amam, vibram, frequentam e não estudaram em faculdades de analíticas sentenças, não entender isso é nem saber quem foi Cassius Clay e ainda assim dizer que foi melhor que Senna, ou que Eddie Merckx foi de longe melhor que Tiger Woods.

Desgosto.

Desgosto é não merecer um lugar nas tertúlias onde se elegem GOATS para o Olimpo, e a minha é em Cascais onde assisto sentado e aprendo com os mestres Valeixo e Fanan, é não merecer ter um Ghost em preparação no forno, que se chama Falcão e que incompreensivelmente, aos olhos de alguns, quando é isto deveria ser aquilo, estando aqui deveria estar acolá.

Boa corrida Miguel, obrigado por mais um dia de emoções fortes, com sofrimento, talento, arreganho e pertinácia.

E nós por aqui!