Carvalho, o Impiedoso


Aprendemos nos tempos dos bancos de escola, quando entre outras coisas estudávamos História, que aos reis eram atribuídos cognomes.


Coisa que lhes retratasse seu reinado, seu modo de estar em vida.

Esta semana não será acerca de pistas, de curvas ou de milésimos de segundo que escreverei.

Voltemos aos bancos de escola, falemos de um rei.

Pedro Carvalho i, o Impiedoso.

No mundo secular das lutas há quem queira e há quem possa.

Dos primeiros, há-os aos milhões; dos segundos, a lei da peneira é fria e matemática: poucos, muito poucos.

Pedro Carvalho, Peter The Merciless Oak, doravante nomeado por PtMO.

Homem do Norte, rijo, mais rijo ainda tornado por uma vida que de pequeno lhe foi dura e de desafios.

Teve um amparo, dele fez a passagem para o impossível, não irá esquecer esses tempos.

Menino homem grande do Norte.

Precoce menino homem grande e rijo do Norte, da Irlanda e do mundo.

De Guimarães ao Porto, do Porto a Dublin, duas semirretas simples para quem sabe traçar o seu destino.

Chega à sua nova casa, Straight Blast Gym, numa Irlanda de tanta luta, de tantas lutas.

Um mundo.

Ou melhor… o mundo.

Onde aperfeiçoa e trabalha até à exaustão a equação e a geometria de golpes que o levarão ao seu lugar.

O topo.

E por esta altura é no Bellator MMA que a vida lhe acontece.

Em meio a diretos, cruzados, jabs e uppercuts, com pontapés vindos do nada e trazendo tudo, PtMO costuma atalhar desenlaces, o horário previsto para o fim da luta não raro vem antecipado, vem andando e andando por ali abaixo, até chegar pertinho do início, é homem de pressa cruel.

Homem rijo, de certezas e de surpresas, gosta de golpear de alto a baixo, sai disparo de perna e bojarda de esquerda braçal, o público delira com a insensível violência.

PtMO segue seu caminho e num ápice procura a receita com que reinventou Joseph-Ignace Guillotin, deixa-se de impactos avassaladores e busca a esponjosa e fatal armadilha, de seus braços, de seu profundo querer, de sua alma de menino feito homem grande sai a mais clara mensagem, uma guilhotina para acabar com veleidades.

Ousemos entrar, em modo fantasma, em jeito observador, naquela jaula onde se porfia numa ideia e numa ideia apenas: supremacia.

Quer o outro caído. Acabado sem glória.

Quer o outro dali para fora, pois ali só cabe um vencedor.

Sentemo-nos quedos e espantados observando Carvalho, Pedro de Guimarães, do Porto e de Dublin também, segue focado, sem mercê que não a do trabalho atrás de trabalho atrás de trabalho. Num repente, aniquila, sentem-se as duas pancadas de quem se entrega, este é o momento em que PtMO se recompensa.

De dias, noites e semanas de trabalho, este é o momento em que se concederá raro descanso, irá buscar o público e generoso lhe porá em mãos sua vítima. Interiormente, o rei do lugar sem piedade regressa ao tempo de menino que cresceu depressa e promete aos seus o destino de que nunca desistirá… a glória dividida com quem esteve sempre lá.

Sempre.

Perguntar-me-ão porque me lembrei de levar esta crónica do asfalto para o octógono, e eu respondo.

Porque gosto de campeões que o são antes de o serem.

Porque gostaria de perceber qual o tamanho necessário para uma bandeira de xadrez ou para uma submissão sem apelo conseguirem chamar a tempo e horas, no momento da dura escalada, a presença das televisões, dos jornais e de todos os que estes arrastam.

E porque, estando um dia em amena cavaqueira com um colega, um careca de olho verde (como seu coração na bola) e serenidade contagiante, daquelas pessoas que sorriem com o mesmo ar gentil com que aplicam um “mata-leão”, que confessou ler-me por aqui e me desafiou com simplicidade… haverias era de escrever sobre um campeão chamado Pedro Carvalho, isso é que era… Ela aqui está, Cotter, a crónica do nosso Impiedoso, de quem tanto me falaste. No mundo secular das lutas há quem queira e há quem possa. Dos primeiros, há-os aos milhões; dos segundos, a lei da peneira é fria e matemática: poucos, muito poucos.


Carvalho, o Impiedoso


Aprendemos nos tempos dos bancos de escola, quando entre outras coisas estudávamos História, que aos reis eram atribuídos cognomes.


Coisa que lhes retratasse seu reinado, seu modo de estar em vida.

Esta semana não será acerca de pistas, de curvas ou de milésimos de segundo que escreverei.

Voltemos aos bancos de escola, falemos de um rei.

Pedro Carvalho i, o Impiedoso.

No mundo secular das lutas há quem queira e há quem possa.

Dos primeiros, há-os aos milhões; dos segundos, a lei da peneira é fria e matemática: poucos, muito poucos.

Pedro Carvalho, Peter The Merciless Oak, doravante nomeado por PtMO.

Homem do Norte, rijo, mais rijo ainda tornado por uma vida que de pequeno lhe foi dura e de desafios.

Teve um amparo, dele fez a passagem para o impossível, não irá esquecer esses tempos.

Menino homem grande do Norte.

Precoce menino homem grande e rijo do Norte, da Irlanda e do mundo.

De Guimarães ao Porto, do Porto a Dublin, duas semirretas simples para quem sabe traçar o seu destino.

Chega à sua nova casa, Straight Blast Gym, numa Irlanda de tanta luta, de tantas lutas.

Um mundo.

Ou melhor… o mundo.

Onde aperfeiçoa e trabalha até à exaustão a equação e a geometria de golpes que o levarão ao seu lugar.

O topo.

E por esta altura é no Bellator MMA que a vida lhe acontece.

Em meio a diretos, cruzados, jabs e uppercuts, com pontapés vindos do nada e trazendo tudo, PtMO costuma atalhar desenlaces, o horário previsto para o fim da luta não raro vem antecipado, vem andando e andando por ali abaixo, até chegar pertinho do início, é homem de pressa cruel.

Homem rijo, de certezas e de surpresas, gosta de golpear de alto a baixo, sai disparo de perna e bojarda de esquerda braçal, o público delira com a insensível violência.

PtMO segue seu caminho e num ápice procura a receita com que reinventou Joseph-Ignace Guillotin, deixa-se de impactos avassaladores e busca a esponjosa e fatal armadilha, de seus braços, de seu profundo querer, de sua alma de menino feito homem grande sai a mais clara mensagem, uma guilhotina para acabar com veleidades.

Ousemos entrar, em modo fantasma, em jeito observador, naquela jaula onde se porfia numa ideia e numa ideia apenas: supremacia.

Quer o outro caído. Acabado sem glória.

Quer o outro dali para fora, pois ali só cabe um vencedor.

Sentemo-nos quedos e espantados observando Carvalho, Pedro de Guimarães, do Porto e de Dublin também, segue focado, sem mercê que não a do trabalho atrás de trabalho atrás de trabalho. Num repente, aniquila, sentem-se as duas pancadas de quem se entrega, este é o momento em que PtMO se recompensa.

De dias, noites e semanas de trabalho, este é o momento em que se concederá raro descanso, irá buscar o público e generoso lhe porá em mãos sua vítima. Interiormente, o rei do lugar sem piedade regressa ao tempo de menino que cresceu depressa e promete aos seus o destino de que nunca desistirá… a glória dividida com quem esteve sempre lá.

Sempre.

Perguntar-me-ão porque me lembrei de levar esta crónica do asfalto para o octógono, e eu respondo.

Porque gosto de campeões que o são antes de o serem.

Porque gostaria de perceber qual o tamanho necessário para uma bandeira de xadrez ou para uma submissão sem apelo conseguirem chamar a tempo e horas, no momento da dura escalada, a presença das televisões, dos jornais e de todos os que estes arrastam.

E porque, estando um dia em amena cavaqueira com um colega, um careca de olho verde (como seu coração na bola) e serenidade contagiante, daquelas pessoas que sorriem com o mesmo ar gentil com que aplicam um “mata-leão”, que confessou ler-me por aqui e me desafiou com simplicidade… haverias era de escrever sobre um campeão chamado Pedro Carvalho, isso é que era… Ela aqui está, Cotter, a crónica do nosso Impiedoso, de quem tanto me falaste. No mundo secular das lutas há quem queira e há quem possa. Dos primeiros, há-os aos milhões; dos segundos, a lei da peneira é fria e matemática: poucos, muito poucos.