Marco, de Assafarge e Antanhol


Corria o ano de 2013 quando uma reforma administrativa agregava Antanhol a Assafarge, há meia dúzia de anos mais coisa menos coisa, e estou certo que de tal facto poucos leitores se terão dado conta, para não dizer muito poucos ou mesmo quase nenhuns. Eu próprio, admito, deixei passar em claro o evento. Mas por…


Corria o ano de 2013 quando uma reforma administrativa agregava Antanhol a Assafarge, há meia dúzia de anos mais coisa menos coisa, e estou certo que de tal facto poucos leitores se terão dado conta, para não dizer muito poucos ou mesmo quase nenhuns.

Eu próprio, admito, deixei passar em claro o evento.

Mas por que raio é que este assunto é aqui chamado, perguntar-me-ão, e cheios de razão, diga-se de passagem, todos os que vão seguindo este espaço em torno do Falcão e de suas asas.

Pois é, o motivo é esse, mesmo esse, o que vamos descobrindo a voar por aí.

Foi a Antanhol que fui arribar ao escarafunchar em pesquisa casual o terreno de potenciais candidatos a futuros “pilotos a seguir religiosamente” por parte de todo um universo de nova gente que não só descobriu este rincão de emoções bem fortes como ainda o foi marcando em sua agenda.

Martim Marco, fixem o nome, filho de Marco e de Ana.

E se o nome dos progenitores é para aqui chamado é tão-somente pelo facto de ser aos pais destes meninos de curvas, retas e bandeiras de xadrez tão precoces que se deve toda e qualquer chance de eles virem a singrar num mundo seguido por milhões, desejado por milhares e milhares e onde cabem apenas algumas centenas, para não dizer poucas dezenas.

Aos pouco mais de dois anitos é-lhe apresentada, a ele, Martim Marco, a paisagem constituída por um motor, carenagens, suspensões, manetes, pneus e outras engenharias em que consiste uma mota já com alguns tiques de competição.

A partir dali, a vida far-se-á para M&M numa trajetória de mil curvas, umas mais fechadas, outras mais abertas, na certeza de que uma saída larga pode custar preciosos trunfos nesta corrida louca em busca de um lugar ao sol, e à chuva também, refira-se, neste maravilhoso mundo que a tantos encanta e a tão poucos permite uma dança.

Aos seis anos ganhava o Campeonato Galego de Minimoto, levando de Portugal bons ventos e melhor imagem, arrecadando por cá o vice campeonato da mesma categoria aos sete anos de idade.

Na época seguinte, em 2017, chegaria ao título, vindo ainda a sagrar-se campeão nacional de Mini Supermoto e MiniGP110 na temporada de 2018, antes de completar dez anos.

Já em agosto deste ano, em Baltar, competindo no Troféu Velocidade 2020 com uma mota de cilindrada inferior às outras e devidamente autorizado pela FMP, embora sem direito a pontuar na classificação, uma pole position, uma volta mais rápida, um segundo lugar e uma vitória deixam muita gente com água no bico.

E olhos em bico.

Martim Marco, um antanholês que a estratégia administrativa e geográfica tornou também assafargista, não se fica, no entanto, por aqui.

Em Espanha, essa vizinha que parece ser o paraíso na terra para quem alimenta esta quimera sobre duas rodas e muito punho, M&M vai cuidando de aplanar terreno que lhe permita galgar degraus nesta longa escadaria.

Corre o Campeonato Espanhol de Mini Velocidade, assim um género de campeonato mundial com pilotos de países de todos os cantos, inserido na estrutura da Cuna de Campeones, sendo cliente habitual do top-10.

Aos dez anos torna-se piloto oficial da Corse Factory.

Anda pela Hawkers Riders Academy, estagiando etapas de aprendizagem e adaptação aos próximos passos.

Por semana passa cerca de 20 horas em cima de motas, desafiando pistas de trial, minienduro e motocrosse, ensinando a um corpo franzino de dez anos de idade a receita para fazer face ao longo cardápio de exigências e dificuldades que lhe será servido em dias do tudo por tudo nas corridas que fazem a peneira que seleciona campeões.

Para terminar, e oferecendo-me como justa comparação, uma vez que por mim passou esta análise, posso dizer-vos que o meu Antanhol foi o bairro dos Olivais Sul, e que na tenra idade de dez anos, o mais longe que viajava para evoluir na prática desportiva era até ao Bairro da Encarnação, onde o ADCEO oferecia um ginásio que era de uma categoria ímpar e que, 45 anos depois, me parece um idoso a pedir reforma e compreensão.

De Antanhol aos Olivais distam 190 quilómetros.

De 1972 a 2019 percorre o tempo a bonita soma de 47 anos.

Outros tempos, outros lugares.

Por isso, o Martim corre.

E eu apenas escrevo!