Perante o que vivemos, podemos sempre ter duas posturas: ou olhar para trás e dissecar tudo o que aconteceu, fazendo um balanço do melhor e do pior, ou olhar em frente e perspetivar o que gostaríamos de construir para os dias que estão por chegar.
Qualquer uma destas posturas é enriquecedora, mas, hoje, escolho não olhar para trás, preferindo imaginar como pode ser o próximo ano que está a bater à porta de todos nós e fazer os meus votos para 2019, que passo a enumerar, não necessariamente por esta ordem de importância.
1. Reduzir o consumo de carne, principalmente a de vaca e a de porco. Esta medida foi considerada a mais eficaz e com maior impacto na preservação do nosso ambiente, fundamental para evitar as drásticas alterações climatéricas. Até 2050, deveríamos comer 8 vezes menos carne do que o consumo médio global atual, diminuir o consumo do açúcar e também do leite; por outro lado, é recomendado duplicar o consumo de legumes e aumentar a ingestão de sementes e de nozes. Em 2019, faço votos para que esta sensibilização ganhe outra dimensão e passe a ser um tema de debate para alertar para as consequências deste consumo desenfreado que já prejudica mais do que a emissão de gases dos meios de transporte.
2. Diminuir o desperdício alimentar em Portugal e sermos um exemplo de boas práticas nesta causa. Na União Europeia, desperdiçam-se 100 milhões de toneladas de alimentos, por ano, e, se não houver mudanças no comportamento dos consumidores, em 2020, o desperdício chegará às 126 milhões de toneladas. Em Portugal, desperdiçamos, anualmente, cerca de um milhão de toneladas de alimentos, sendo que 324 mil toneladas são devidas, exclusivamente, a desperdício doméstico.
3. Colocar a taxa de mortalidade infantil a zeros. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, em 2017, morreram mais de 5 milhões de crianças com menos de cinco anos. Sendo que 2,5 milhões não completaram um mês de vida e cerca de 2,9 milhões faleceram entre o primeiro mês e os quatro anos. Entre os 5 e os 14 anos morreram quase um milhão de crianças. Na era global que vivemos, não se compreende que ainda haja crianças a perder a vida por terem acesso limitado a condições de saúde, que para nós são básicas, como a vacinação, água potável, cuidados de saúde e de higiene no tratamento de doenças infecciosas, saneamento, etc.
4. Refletir sobre o número estimado de crianças diagnosticadas com perturbação da hiperatividade e défice de atenção (PHDA). Os números são claros e revelam-nos que no espaço de dez anos, mais concretamente entre 2003 e 2014, aumentaram as vendas anuais de medicamentos prescritos para as crianças diagnosticadas com PHDA. Não foi um simples aumento, mas uma quintuplicação dos números de base. Será esta geração mais desfocada e com maiores dificuldades de concentração? Ou serão os pais mais impacientes e menos vocacionados para a sua condição de educadores, resultado do pouco tempo que disponibilizam para o acompanhamento essencial das suas crianças? Até poderemos estar a testemunhar uma geração mais inquieta e “mexida” que não se enquadre nos padrões pré-definidos para os comportamentos esperados para as várias fases de crescimento. Mas a questão que deveremos colocar é se esta estratégia – a de medicar as crianças – será a única via para ajudar as famílias a ultrapassarem estas dificuldades, ou se outro género de apoios poderá ser o suficiente, evitando que em idade tão precoce, sejam sujeitas a consequências ainda indeterminadas para o nível de adição e do desenvolvimento cerebral.
5. Menos idosos abandonados. Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), daqui a 60 anos, quase metade da população portuguesa terá mais de 65 anos. Hoje, temos cerca de 46 mil idosos que vivem numa situação de solidão ou isolamento. A acrescer, a Organização Mundial de Saúde classificou Portugal como um dos países que menos atenção providencia a esta faixa etária, votando-os à exclusão e ao abandono. Não se compreende como 40% da população portuguesa com mais de 65 anos se encontre sozinha durante 8 horas ou mais por dia. Não é Portugal que está mal, somos todos nós que aceitamos esta realidade e viramos a cara para o outro lado, para não encararmos a nossa indiferença e continuarmos a viver os nossos dias como se não existissem pessoas esquecidas e desamparadas pelas próprias famílias.
6. Aumento do número de casamentos. Casamos cada vez menos. Em 2017, registaram-se 33. 634 casamentos, face aos 63.752 celebrados no ano 2000, ou os 71.654 em 1990. Estamos mais descrentes nas relações, por arrasto acabamos por ter menos confiança nos sentimentos e na sua longevidade. Não nos queremos comprometer com um sentimento que não acreditamos que possa resistir para sempre. Mas, e se isso acontecer? O simples vislumbre dessa centelha poderia ser o motivo para duas pessoas se comprometerem e entregar num preciso momento em que as duas estão presentes com o mesmo fulgor e intensidade. O resto vem depois e como cada um se vai reinventando. O “até que a morte os separe” pode bem ser uma realidade, mas nunca o será, se o primeiro passo não for dado.
Os outros seis votos para 2019 reservo-os para mim e para os meus. Mas adianto só um que me parece ser o voto para todos (para mim e para vós): que 2019 seja o ano em que despertamos o que de melhor há em cada um de nós.
Escreve quinzenalmente