Sean Rad, criador do Tinder. “A Siri vai ser a casamenteira do futuro”

Sean Rad, criador do Tinder. “A Siri vai ser a casamenteira do futuro”


Será que a tecnologia está a mudar a forma como as pessoas se relacionam? A resposta foi dada por Sean Rad, o fundador do Tinder, que deu a sua visão sobre como é que as relações podem vir a ser no futuro e de que forma é que a inteligência artificial pode ter influência nisso


“Quantas pessoas aqui estão no Tinder? Podem dizer a verdade, não é preciso terem vergonha”. Foi desta forma que começou a conversa com o CEO do Tinder, Sean Rad, que falou sobre a forma como as relações estão a mudar, sobretudo na geração millennial, e também sobre a maneira como as redes sociais estão a transformar aquilo que é, de facto, a realidade. 

Sobre a plataforma que lançou em 2012, Sean Rad explicou ontem na Web Summit que a ideia inicial surgiu quando estava num café e teve curiosidade em conhecer alguém, mas não teve coragem para a abordar. “Do outro lado da rua passou uma rapariga que eu queria mesmo conhecer, mas não tive coragem de falar com ela. Nessa altura pensei: e se pudesse acabar com esta ansiedade? Foi o início do Tinder”, contou o CEO. 

Para quem nunca usou o Tinder, esta é considerada por muitos como a app do engate. Trata-se de uma rede social usada para encontrar o par perfeito – duas pessoas só podem iniciar uma conversa caso gostem das fotografias uma da outra. Hoje em dia, a aplicação já conseguiu estabelecer “mais de 20 milhões de ligações” em todo o mundo. 

No entanto, para que no público não restassem quaisquer dúvidas, Sean Rad garante que não quer que as relações humanas passem a ser apenas virtuais: “Quero viver num mundo em que saímos e nos encontramos com as pessoas cara a cara. O objetivo do Tinder é criar relações reais, fora da app”, disse o CEO. 

Mas muitos admitem usar esta rede social apenas para encontros casuais e não para procurarem o amor. Sean Rad limita-se a dizer que isso não é da sua conta: “Aquilo que as pessoas fazem da aplicação não é para ser julgado”.

Para o norte-americano, o Tinder “dá poder tanto a homens como a mulheres. Sem ofender ninguém, ajuda a decidir com quem queres falar e a dares-lhe um sinal”, garantiu.

Olhar para o futuro das relações Para o criador da aplicação, as relações que serão criadas no futuro “em nada se vão parecer com aquilo que são hoje em dia. Posso dar-vos uma visão muito clara daquilo que, para mim, pode vir a ser o futuro com a inteligência artificial: eu acredito que a Siri [género de assistente pessoal nos sistemas iOS] vai fazer o papel de casamenteira”, explicou o CEO entre risos. 

“Acredito mesmo que a Siri no futuro se irá virar e dizer: ‘Sean, está ali uma pessoa a cerca de um quilómetro de distância que achaste atraente e que eu também tenho quase a certeza que te achou atraente’. A Siri pode mesmo vir a funcionar dessa forma e a fazer essa ligação entre as pessoas”, continuava a explicar o CEO. 

No entanto, para que isto tudo aconteça, é preciso um exército de cupidos: “O Tinder conseguiu até agora estabelecer de uma forma muito fácil o contacto entre as pessoas que se encontram na plataforma, até porque o trabalho que é feito pela equipa toda que está por trás desse cenário é enorme. O objetivo é tentar conseguir uma correspondência quase perfeita, mas tudo isso exige muito trabalho”, sublinhou Sean Rad. 

O criador do Tinder garante que o objetivo da rede social não é tirar “os sentimentos e a humanidade das pessoas” – esta é uma parte importante dos seres humanos que nenhum objeto tecnológico pode (ou deve) eliminar. 

Sobre a forma como as pessoas olham para a tecnologia e para o mundo virtual, o responsável da plataforma de encontros deixou a sua opinião bem clara durante a sua palestra na Web Summit: “O desenvolvimento da tecnologia e as novas formas de socializar virtualmente, ao longo da última década, estão a alterar a forma como as pessoas se relacionam e fazem sexo, com esta mudança a sentir-se particularmente na geração millennial”. Aproveitando para sublinhar que nos dias que correm o online dating e as relações sexuais que daí surgem tornaram-se “demasiado banais”. 

Sobre o desafio de criar um grande negócio A conversa do CEO do Tinder não serviu apenas para falar sobre a  forma como a inteligência artificial pode mudar as relações. Sean Rad falou também sobre as dificuldades que encontrou pelo caminho até chegar ao sucesso. Sucesso, esse, que “nunca pensou atingir”.

“É muito complicado criar uma empresa e mantê-la não é fácil. Temos de estar em constante atualização. Se virmos bem, nenhuma daquelas que são hoje grandes startups começaram logo em grande. Há muita pressão. As pessoas quando criam algo pensam que vão mudar o mundo e que tudo vai ser diferente, mas depois na realidade, não é bem isso que acontece”, explicou.

“O desafio de criar grandes negócios é, sobretudo, o de promover um bom ambiente, onde as pessoas se consigam desafiar umas às outras. Este é o grande desafio e também o mais complicado de conseguir”, acrescentou Rad.

No fim da sua intervenção, deixou um conselho a todos: “Se acreditam que tudo está bem e perfeito, então é porque não estão a crescer enquanto pessoas. Temos de pensar mais nos porquês e menos no que somos e por que estamos aqui”.