LU.CA. Um teatro desenhado para as crianças

LU.CA. Um teatro desenhado para as crianças


O novo Teatro Municipal de Lisboa dirigido às crianças arranca amanhã para a sua primeira temporada. Até ao final do ano, os espetáculos vão explorar as áreas da música, da representação, das artes plásticas e muito mais


A Calçada da Ajuda, em Lisboa, passou a ter um novo teatro, com o público-alvo especial. Depois polémico encerramento do Maria Matos, o Teatro Luís de Camões (LU.CA), passa a acolher a programação infantojuvenil do antigo teatro municipal lisboeta. A partir de amanhã, a organização vai abrir as portas, depois de uma pré-abertura em junho, para receber todas as crianças e jovens, com um cartaz que conta com concertos, danças, oficinas de teatro, visitas guiadas, poesia e representação, em diferentes dias e até ao final do ano.

Apesar do público-alvo específico variar dos seis aos 16 anos, as apresentações podem contar com elementos direcionados para os adultos que acompanham as crianças. Aliás, é isso vai acontecer já no dia 8 de setembro, onde Bruno Pernadas, em conjunto com outros cinco músicos, vai realizar um “concerto especial, só com bandas sonoras de séries de animação”, afirma Susana Menezes, diretora artística do teatro. “O objetivo é que os pais possam mostrar alguns dos desenhos animados que viam, mas que os filhos também possam reconhecer as músicas [que vêm atualmente na televisão]”, explica.

Susana Menezes, que veio do teatro Maria Matos, confessa que a área das crianças no Areeiro tinha muito pouco espaço para ser explorada. A atual diretora do LU.CA diz que “havia uma necessidade de existir um espaço físico maior” e que a luta para que este fosse criado, aconteceu durante vários anos.


Fotografia de Mafalda Gomes

Assim, o novo teatro municipal da Ajuda trouxe a possibilidade de explorar o público-alvo mais jovem e as expectativas estão altas: Susana Menezes, que relembra a sala cheia na estreia de junho e todos os outros dias em que esteve aberto, acredita que agora vão passar por lá mais pessoas, devido a uma programação mais diversificada, que aumenta a antiga oferta do Maria Matos.

O percurso da diretora artística foi decisivo para que o projeto da Ajuda tivesse pernas para andar. Susana Menezes declara que trouxe “amigos e experiência” dos últimos 12 anos da profissão de programadora. E nesta nova fase do LU.CA o passado é encarado como uma experiência de vida: acredita que do Maria Matos trouxe sobretudo “boas memórias e a forma de trabalhar”.

Por enquanto, Susana espera que “a cidade se encontre com este teatro e que o teatro também se encontre com a cidade” e para que isso aconteça, o programa intimista tanto para as crianças, como para os adultos, facilita em questão de horários. Durante a semana as peças são sempre exibidas às 10h30 da manhã, já nos sábados começam às 16h30 e aos domingos conta com dois horários, o primeiro às 11h e o segundo às 16h30.

A aposta num público infantojuvenil traz vantagens para quem trabalha na área: Alex Cassal, dramaturgo da primeira peça que vai estrear na nova temporada do LU.CA, garante que a criação para os mais novos é “um grande exercício de imaginação” porque isso, reinventar o mundo, “é quase a rotina diária da criança”. O dramaturgo reconhece portanto que ao mesmo tempo é um “convite” a pensar sem referências e um “desafio”.

O espaço Todo o edifício é fruto de uma reabilitação e, por isso, pode dizer-se que ainda está em fase de estreia. A pintura, o pavimento, as cadeiras, a madeira e as luzes transmitem a sensação de que acabaram de ser transportadas para o teatro – por estarem sem riscos e em ótimo estado de conservação.

Assim que se entra no LU.CA, o espaço parece pequeno. Mas a verdade é que existem muitos andares e salas de acesso restrito, para todo o trabalho que acontece antes e pós-cena. E ainda que seja um prédio recuperado, a magia do teatro continua por lá: os camarins contam com as tradicionais lâmpadas à volta do espelho e é possível ir até à teia – lugar onde se puxam as cordas (ou cabos, como se diz no teatro) para levantar o pano de fundo do cenário. 

A sala principal, onde se realizam os espetáculos, é composta por 80 lugares sentados e 51 nos camarotes. Mas as pessoas não ficam apenas por aqui: nos momentos antes e depois das exibições, existem várias “zonas que permitem [o convívio]”, afirma Susana Menezes. Esse é um ponto de referência do LU.CA porque “90% dos fins de semana [há] programação na sala principal, [mas] se não há nada a acontecer, os pais sabem que podem encontrar um bar, uma biblioteca e uma zona de lazer”, para onde é possível levar as crianças e “estar em permanência”, declara a diretora artística. 

Projetos paralelos O primeiro dia vai contar com um serviço de catering, mas este não vai ser o único dia que o Teatro Luís de Camões vai ter comida. No primeiro andar, um bar vai proporcionar aos visitantes uma experiência com direito a uma bebida. Logo ao lado, existe a livraria, que vai ter à venda alguns exemplares de livros que representam a peça em cena, seja pelo tema ou por estar, de certa forma, ligado aos encenadores. Nesta mesma sala, ainda é possível deixar as crianças e os jovens libertar a imaginação, pois há mesas e cavaletes com papéis e canetas para desenharem.

Durante os próximos meses do ano, o teatro vai destacar oficinas específicas que se deslocam às escolas da região de Lisboa, para apresentar e “explorar outros olhares” dos espetáculos que vão estar em cena no teatro, afirma Susana Menezes. Este despertar de curiosidades tem o objetivo de “chegar a mais pessoas” e também de “apostar num formato diferente”.


Fotografia de Mafalda Gomes

Todas as terças-feiras de manhã, o LU.CA recebe visitas de dois grupos específicos: escolas e famílias. Nestas sessões, é possível conhecer o espaço na sua totalidade (desde as salas mais visitadas aos camarins) e é explicado como tudo é preparado e o que acontece antes de os atores entrarem em palco. 

No sábado, o programa vai ser apresentado ao som dos DJs Pedro Ramos e Tomás Wallenstein, que têm a missão de entreter as crianças, num ambiente a que os adultos já estão habituados: a dançarem.