Três anos depois das notícias que davam conta da invasão turística chinesa do pequeno arquipélago de Palau, a situação inverteu-se. O governo chinês declarou o pequeno país de 21 500 habitantes como “destino turístico ilegal” e as taxas de ocupação hoteleira desceram substancialmente.
Companhias aéreas que encerraram rotas, agências de viagem que fecharam portas: o impacto levou o governo de Palau a pedir ajuda aos Estados Unidos e ao Japão, para que os seus turistas possam substituir os chineses que agora já não chegam. Também Taiwan se apressou a dar uma mão a um dos seus poucos aliados internacionais. Conforme anunciado em julho pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros taiwanês, a China Airlines, companhia aérea de bandeira de Taiwan, acrescentou mais dois voos semanais entre Taipé e Palau.
Toda a ajuda é bem-vinda. Em 2017, 55 mil dos 122 mil visitantes estrangeiros em Palau chegaram da China. Não admira que a Palau Pacific Airway tenha anunciado, no mês passado, a suspensão dos voos para a China por tempo “indefinido” a partir do fim deste mês, por perdas financeiras com as duas rotas até Hong Kong e Macau (ambas via Bali). Em Koror, a antiga capital e ainda a maior cidade das 340 ilhas que compõem o arquipélago, os hotéis e restaurantes estão vazios, os autocarros e os barcos de excursões parados.
“Atualmente, fala-se muito da China estar a transformar o turismo numa arma”, conta à Reuters Jeffrey Barabe, proprietário do Palau Central Hotel e do Palau Carolines Resort. O investimento que havia fluído em dimensão considerável nos anos mais recentes parou agora. A China está apenas à distância de um voo de quatro horas e os chineses haviam-se transformado nos maiores investidores estrangeiros no arquipélago. Tudo parou. Valores mais altos se levantam.
“O princípio de uma só China é uma pré-condição e uma base política fundamental para desenvolver e manter relações amigáveis e de cooperação com todos os países do mundo”, respondeu o Ministério dos Negócios Estrangeiros da China a uma pergunta da Reuters. Através da política de uma só China, Pequim reunificou Hong Kong em 1997 (antiga colónia britânica) e Macau (ex-colónia portuguesa) em 1999. Só falta Taiwan, para onde o general Chiang Kai Chek fugiu do Exército Vermelho e se manteve como líder legítimo de toda a China, o único reconhecido internacionalmente até 1949, membro fundador das Nações Unidas com assento no Conselho de Segurança até 1971, quando a República Popular da China assumiu esse papel.
Nos últimos dois anos, de acordo com informação do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Taiwan, a China conseguiu que quatro países deixassem de reconhecer diplomaticamente Taiwan. Desde 2001, o país já perdeu 14 aliados, metade deles em África, onde já só mantém relações diplomáticas com a pequena Suazilândia.
O governo de Taipé quer evitar que Palau, pressionado economicamente, siga o mesmo caminho. O anúncio do aumento de voos semanais para o pequeno arquipélago e as notícias das dificuldades que este atravessa pode, esperam as autoridades, fomentar um maior afluxo de turistas taiwaneses, mais do que os nove mil que visitaram aquelas ilhas do Pacífico em 2017.
Dilmei Louisa Olkeriil, embaixadora de Palau em Taiwan, dizia recentemente, citada pela CNA, que “a maioria do povo de Palau apoia as atuais relações diplomáticas com Taiwan. Somos um país democrático e apoiamos e promovemos relações com países com o mesmo sistema de governo, como Taiwan”.
De acordo com a AFP, o presidente de Palau, Tommy Remengasu, pediu ajuda a Estados Unidos e Japão. Aos japoneses, Remengasu solicitou investimento na construção de dois hotéis no país. E tenciona fazer o mesmo com a União Europeia e a Coreia do Sul, bem como apostar no turismo de luxo em vez do turismo de massas.
“Não é um segredo que a China gostaria que nós e os aliados diplomáticos de Taiwan mudássemos para o lado deles mas, para Palau, não está nas nossas mãos decidir sobre a política de uma só China”, disse o chefe de Estado à Reuters. Remengasu garante que nada tem contra o investimento e o turismo chinês, apenas que os princípios democráticos do seu governo estão mais alinhados com os de Taiwan.