O presidente russo nomeou o ator norte-americano Steven Seagal como enviado especial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia para as relações humanitárias com os Estados Unidos. A estrela de filmes de ação, a quem Vladimir Putin atribuiu pessoalmente o passaporte russo em 2016, vai agora “facilitar as relações entre a Rússia e os EUA no campo humanitário, incluindo a cooperação na cultura, nas artes e na relação com o público e com os jovens”. Seagal não vai receber qualquer remuneração pelas suas novas funções.
Putin e Seagal partilham a paixão pelas artes marciais. O primeiro cultivou-as nos seus tempos de agente dos serviços secretos russos; o segundo utiliza-as nos filmes de ação em que resolve tudo com muito murro, pontapé e doses excessivas de tiros e explosões. Esse gosto aproximou-os desde que se conheceram em 2003, no Festival de Cinema de Moscovo. A ponto de, em 2012, numa entrevista ao jornal “Rossiskaya Gazeta”, Seagal afirmar que considerava Putin um irmão.
O porta-voz do Kremlin, Dimitriy Peskov, afirmou em 2013 à agência de notícias ITAR-TASS que “Putin e Seagal são amigos de longa data que regularmente se encontram”.
O presidente russo gosta de cultivar o seu lado de homem de ação, e as artes marciais e a amizade com atores do género ajudam a fomentar essa imagem. O ator e produtor, por seu lado, não se tem coibido de elogiar a capacidade política do presidente russo, a quem, depois da anexação russa da península ucraniana da Crimeia em 2014, chamou “um dos maiores líderes mundiais, senão mesmo o maior líder mundial vivo”, numa entrevista à Russian TV – apoio que levou o governo ucraniano a proibi-lo de entrar na Ucrânia durante cinco anos por “cometer ações sociais perigosas”.
Além de ser uma das maiores estrelas dos filmes de ação, Seagal tem a particularidade de ser descendente de uma avó russa nascida em Vladivostoque. Mas podia nem sequer ter tido. Putin também deu o passaporte ao ator francês Gérard Depardieu em 2013, quando este resolveu deixar a França para fugir aos impostos.
No seu site oficial, Seagal, que também é guitarrista de blues e afirma que a música é a verdadeira linguagem universal, manifestou-se “profundamente honrado” com a sua nomeação pelo Ministério das Relações Exteriores da Rússia.
“Trabalhei durante muitos anos para tentar melhorar as relações entre a Rússia e a América”, escreve Seagal aos seus “queridos amigos”. “Espero que possamos lutar pela paz, a harmonia e resultados positivos no mundo”, acrescenta o ator e produtor. “Assumo esta honra muito a sério e mais uma vez agradeço a todos pela vossa amizade, força e apoio”, acrescentou.
Já em 2016, quando Seagal recebeu das mãos de Putin o seu novo passaporte russo, num encontro muito difundido em vídeo e fotografias, o ator norte-americano, nascido no Michigan, considerava tratar-se de “uma grande honra” e que esperava que “a relação pessoal” com o chefe de Estado russo se mantivesse e continuasse.
O BuzzFeed News, em 2015, escreveu que Putin chegou a sugerir ao então presidente norte-americano Barack Obama que Seagal fosse nomeado cônsul honorário da Rússia na Califórnia e Arizona, uma proposta que foi desdenhada pela administração dos Estados Unidos na altura.